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Wednesday, March 27, 2013

Bons alunos, boas notas

Essa é do tempo em que eu estudava na saudosa ETFRN. O primeiro período do meu curso de mecânica foi sem dúvida o mais turbulento. Os indivíduos eram verdadeiros vândalos. Com a pior assepsia da palavra.

Na primeira semana de aula, um sujeito foi logo jubilado da Escola (assim que os íntimos chamam a ETFRN, A ESCOLA). Esse elemento chegou na cantina e pediu uma coxinha. Como o atendente disse que ele tinha que pagar primeiro e trazer o recibo pra poder pegar a comida, ele nao gostou, deu um murro na estufa pra quebrá-la, meteu a mão no meio dos destroços e pegou a coxinha, degustando-a ali mesmo, com a mão toda ensangüentada, na frente do incrédulo servidor. Nunca mais tivemos noticias desse rapaz.

Mas os vandalismos nao ficavam somente nesse rapaz. Um outro de nome Clifton, simulava umas tosses tão altas que pareciam se tratar de um tuberculoso. Era o professor proferir uma frase, lá vinha um “purrute” gerado por Clifton.

Alexandre Belo, outro anormal, conseguia soltar flatos dos mais podres possíveis, ao simples toque na barriga. Se quisesse soltar cinqüenta em 10 minutos, ele conseguia. E todos com o mesmo teor destrutivo. Da mesma forma que conseguia acumular catarro verde com a mesma facilidade.

As aulas, principalmente as de matemática da saudosa professora Umbelina e as de física do grande professor Araújo eram as mais prejudicadas. Era um festival de bufas e purrutes que impossibilitavam qualquer explanação vinda dos professores.

Quando o professor conseguia um pouco de silencio, alguém pegava a bata de outro colega ou um caderno e arremessava no quadro negro, a centímetros da cabeça do professor em questão.

Um belo dia, numa risadagem sem fim que acontecia na ala de trás, o professor queria saber o motivo de tanta gargalhada. Eis que Rainer Patriota disse:

- Professor, estão perguntando aqui se o senhor gosta de tomar chá de minhápika?

- Chá de que, meu filho?, perguntou o professor.

- Minhápika, professor, minhápika.

A gargalhada foi geral. Mas isso foi demais pra paciência do professor Araújo, que se retirou da sala e exigiu que a sala inteira levasse suspensão. Levamos a tal suspensão e só pudemos assistir aula novamente se levássemos um dos pais pra uma reunião, e eles ainda tinham que assinar um termo de responsabilidade.

Os nerds ficaram doentes de raiva, dizendo que iriam entregar quem ficava peidando e quem ficava dando os purrutes, alem de que iriam entregar quem jogava objetos no quadro. Se calaram na primeira ameaça de uma surra bem dada.

No dia seguinte à suspensão, foi realizada a tal reunião. Minha mãe foi minha acompanhante nesse acareamento tão humilhante. Aí que foi meu erro, que foi o detonador de um fato que até os meus últimos dias de escola ainda era motivo de chacota.

Eu mentia pra ela com relação às minhas notas. Eu tinha obtido um três na primeira prova de matemática e um dois na primeira prova de física (na Escola fazíamos três provas no semestre, pra atingir 18 pontos). Mas pra minha mãe, eu disse que tinha um oito e um nove, respectivamente. Era fácil mentir, pois diferente do Neves, os boletins eram entregues aos próprios alunos, quando íamos buscar na coordenação do curso.

Começa então a reunião e feito todos os preâmbulos e considerações, foi dado a vez aos professores para que pudessem explicar os problemas específicos em seus casos.

A professora Umbelina, muito sábia, disse que a punição seria um processo natural, pois os alunos envolvidos nas bagunças estavam todos com péssimas notas e que se nao melhorassem até a próxima prova, com certeza seriam reprovados e que a reprovação era a punição máxima do aluno.

Nesse momento ocorreu algo inusitado. Minha mãe levanta o braço pedindo pra falar, aumentando ainda mais a minha vergonha. E ela diz, categórica:

- Professora, a senhora falou que os bagunceiros estão com notas baixa, nao é? Que quem tem notas altas nao faz parte da bagunça, nao é?

Diante da afirmativa da professora, a minha mãe emendou, solenemente:

- Então eu e meu filho vamos embora dessa reunião, que ela nao foi pra nós, afinal de contas um oito é uma boa nota, nao é? Se a média daqui é seis, eu considero um oito uma boa nota. Tenham um bom dia todos vocês.

Me pegou pelo braço e me puxou em direção a porta.

A professora, sem acreditar no que via, foi checar novamente a minha nota, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, nós já voávamos pra fora da sala. Elegantemente, a professora calou-se e nunca mais tocou no assunto. Em agradecimento, melhorei as notas e o comportamento. Mas até hoje ainda existem atores imitando o discurso de tão protetora mãe.

Tuesday, March 26, 2013

Joãozinho tira onda

No aglomerado de gente que fica na rua central de Pipa sempre ocorrem situações inusitadas. Mas nada como essa que se meteu o rei das presepadas, João Antonio Rosário, o gigante mais conhecido como Joãozinho.

Era um final de semana de feriado e nem precisa dizer que Pipa estava lotada. Nesse cenário, um sujeito sozinho dentro de um carro tenta abrir caminho por entre os foliões que pela rua se acomodavam.

Andava um pouco e tinha que parar, pois sempre tinha alguém que não queria sair do meio. Um deles foi Joãozinho, pois o carro chegou bem perto da perna dele e ele não gostou. Foi falar com o motorista pra ter mais cuidado, de um jeito não muito delicado.

O cara também não gostou e Joãozinho aproveita-se de sua situação privilegiada e dá um tapão na cabeça do rapaz. Quando o mesmo começa a tirar o cinto de segurança pra descer do carro, Joãozinho corre pro outro lado e fica dando xauzinho e estirando o dedo pro cara. Não precisa dizer que a massa já começou a gostar e a dar risadas. Era tudo o que o palhaço Joãozinho queria.

O motorista do carro estava fervendo e se pegasse Joãozinho, o estrago ia ser grande. Começou então uma perseguição digna de desenho animado. Quando o sujeito chegava na parte da frente do carro, Joãozinho chegava na parte de trás. Ele invertia o sentido querendo pegar Joãozinho no contrapé, Joãozinho invertia também. Ficaram nessa até começarem a bufar de cansados. A platéia ia ao delírio.

Numa dessas passagens pelo lado do motorista do carro, Joãozinho observou que a porta estava somente encostada e num golpe rápido, abriu a porta, entrou dentro do carro e trancou-se lá dentro. Foi o apogeu. O dono do carro do lado de fora, exasperado, e Joãozinho dando o dedo pro cara e agarrando nos testículos e mostrando pro sujeito. Até um bundalelê o nojento fez.

O cara fervia. Joãozinho abriu um pouco o vidro e disse: “Se acalma, rapaz, que eu saio. Se tu ficar brabo aí eu não saio mais não e vou embora pra casa no teu carro. Se acalma, neném”. E mandava um beijinho pro elemento.

Foi preciso o cara se afastar bastante pra dar espaço pra Joãozinho sair, para que ele se sentisse seguro pra descer do carro e se jogar nos braços da multidão. Mas nem era preciso, nesse instante, até o dono do carro já havia se acalmado e compreendido que o palhaço-mor já estava dando seu show. Entrou no carro rindo e foi embora pra casa, debaixo ainda dos gritos e ovações.

Wednesday, March 20, 2013

Adoniran e as muriçocas

Falando em mentiroso, o grande Adoniran, irmão de Wellington e filho de Expedito da Carne de Sol, contava uma historia que jurava ser verdade. Nada se aproxima de ter o prazer de ver a face do rapaz ao contar essa historia.

Diz ele que ao chegar na fazendo do pai, tentaram de todas as formas abrir a porta da frente da casa e não conseguiram. Ele rodou a chave pra um lado e pro outro, e forçavam a entrada e nada da porta ceder.

O pai pediu pra ele se afastar e usou de toda a ignorância e também não teve êxito. Perguntava-se o que porra estava segurando aquela porta. Foi quando ele teve a idéia de pedir a Adoniran pra tentar entrar pela janela.

Quando ele finalmente conseguiu entrar na casa e ao acender o candeeiro, pôde constatar que não conseguiam abrir a porta porque tinha um enxame de muriçocas forçando a porta em sentido contrário.

Corajosamente, ele alega que foi lá e espantou as bichas, permitindo assim a entrada do pai pela porta. Nesse instante, ele disse que as muriçocas se dispersaram estrategicamente, sumindo completamente do campo de visão deles.

Foram então pras respectivas camas pra dormirem. Cinco minutos apos estarem deitados, começou a vingança das muriçocas. As picadas eram cada vez mais fortes e eles não conseguiam dormir.

Seu Expedito teve então a idéia d mandar Adoniran ir à camionete buscar uma lona, para que pudessem se enrolar. Ficaram então na mesma cama, para poderem usar a lona, cobrindo até as cabeças.

Apos mais outros cinco minutos, quando pensaram estar salvos, as muriçocas começaram a picar por cima da lona, ignorando totalmente a existência dessa. Expedito então manda então Adoniran observar o que estava acontecendo. Adoniran, por sua vez, descobre somente os olhos pra constatar a arte das muriçocas.

Elas, segundo ele, iam de ré até o candeeiro, esquentavam o ferrão, davam uma pirueta no ar, voltavam novamente de ré com o ferrão em brasa e picavam eles, por isso atravessava a lona.

A historia nao é de toda mentirosa. Se as muriçocas tivessem ao menos ferrão, a gente pode ate pensar que foi verdade.