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Saturday, May 24, 2014

Dificuldade de diálogo

Quando me mudei de Montreal pra Toronto em meados de 2004, fui trabalhar numa empresa chamada North Moving and Cartage, de propriedade de um senhor português chamado Manuel Pinto. Essa empresa tinha um contrato com um grande empresa que vendia eletrodomésticos e o nosso trabalho era entregar esses eletrodomésticos, na maioria geladeiras, fogões, máquinas de lavar e secar e máquinas de lavar louça.

Lá eu comecei como ajudante e cheguei ao prestigioso cargo de motorista de caminhão. Como ajudante, tínhamos que ligar pros clientes, avisando a hora em que chegaríamos às suas casas, alem de falar no rádio com a central e olhar o caminho a ser feito em mapas nos nossos colos, pois naquela época ninguém tinha aparelho de GPS.

Pra minha sorte ou azar, eu havia entrado no lugar do Paulo, um angolano que havia machucado seriamente a mão durante um trabalho. Paulo falava português e inglês e era o elo de ligação do Zé Sobrinho com o mundo exterior. O Zé Sobrinho, ou Zé Cigarro, como era conhecido na malta, era um motorista português, de voz rouca e abafada pelo uso incessante do cigarro, que não era muito adepto à conversa e era dado a raríssimos risos.

No primeiro, não trocamos uma só palavra. Mas aos decorrer dos dias seguintes, eu obtive umas 5 palavras durante o dia inteiro. Nesse ambiente pouco amistoso, fazíamos o nosso trabalho. Eu pouco entendia o que ele dizia quando resolvia falar, pois alem do sotaque português do interior, ele ainda tinha o problema da voz rouca, que impossibilitava qualquer compreensão.

Existia uma eletrodoméstico que era odiado por todos, se tratava de uma maquina de lavar que vinha acoplada a uma maquina de secar, uma em cima da outra. Nós odiávamos pois alem de muito pesada, ainda era péssima de carregar, devido ao seu formato. Tínhamos que colocar umas cordas por debaixo da mesma e colocar o peso em cima de quem vai na frente, quase que inclinando e deitando peso em cima dele.

Analisando os papeis, vi que tínhamos uma peça dessas pra ser entregue e que o dono havia dito que na casa tinha uma escada em curva, o que dificultaria em muito o nosso trabalho. Não disse nada, pois se o homem já tinha mal humor constante, quando sabia de uma coisa dessas, ninguém agüentava.

Chegando na tal casa, e analisando o serviço, o homem começa a ficar puto. Agarra nas cordas com a maior ignorância e levantamos a peça. Como ele estava na maior pressa, tive que acompanhar o seu ritmo. A escada era bem íngreme e lá pelo décimo degrau, e uma vez que o peso todo estava em cima dele, ele cansou e gritou:

- “Alto!!!”

Eu, na maior das boas intenções, levantei a maquina mais alto e ela foi indo pra cima dele.

Ele gritou novamente e mais alto:

- “Alto, caralho, foda-se!!!”

Não contei conversa, levantei a porra da peça o mais alto que podia. Quando olhei pra debaixo, vi que os pés dele estavam presos no degrau e a maquina completamente em cima do pobre coitado, que já nem falava mais.

Apressei-me e retirei a peça de cima do homem, que estava vermelho e bufava mais do que um touro. Quando recuperou o fôlego, deu um berro que estrondou a casa inteira. Disse ele:

- “Que língua que tu falas, pá? Tu não falas português, ô caralho? Alto é pra parar!!! Alto, é pra parar, caralho!!! Queres me matar, ô gajo? Quando um homem fala alto, quer dizer que é pra parar, caralho!!!”

Essa historia virou folclore na empresa. Mas o dia em que mais ri com o Zé Cigarro foi quando fomos trabalhar em três, pois a carga era demasiada grande e precisaríamos de um terceiro individuo. Nessas ocasiões, sempre mandavam o único canadense que havia por lá, o Brad, que por não falar português, era motivo de chacota de todos.

Nesse dia, estávamos no meio do mato e queríamos comprar umas frutas vendidas pelos índios na beira de uma estrada pequena. Eu não tinha dinheiro em espécie e muito menos o Zé. Então, como ele não falava inglês, me pede que eu pergunte ao Brad se ele tem dinheiro em espécie.

Eu disse a ele que Zé estava perguntando se ele tinha dinheiro em espécie pra emprestar a ele. O Brad estava sentado no meio da boleia, entre eu e Zé. Ele então se vira pra Zé, enfia a mão no bolso e diz: “No, I only have pennies...”

Zé então observa a mão do canadense no bolso, e na cabeça dele era como se o Brad estivesse alisando o próprio cacete e furioso, fitando bem a cara do canadense, fulmina: “Pênis tu enfia no teu cu, caralho!!! Seu filho da puta canadiano de merda!!!”

O pobre diabo não sabia que pennies significava as moedas de 1 centavo e partiu logo pra ignorância com o inocente canadense. Até eu conseguir parar de rir e explicar a situação, o canadense levou um bocado de gritos, sem saber o que estava se passando.

Friday, May 23, 2014

O trote que saiu pela culatra

Se a intenção do trote é prejudicar ou arranhar a imagem ou apenas sacanear com o troteado, esse trote que aplicamos em Gustavo Zumel saiu pela culatra e o mesmo ganhou como se fosse um premio na loteria, inteiramente dentro de sua inocência.

Quando viemos pro Canadá no final de 1999, Zumel ainda não possuía um endereço eletrônico, de tão primitivo que era. Pediu-me então pra que eu criasse uma conta de e-mail, para que o mesmo pudesse se comunicar com a família e com uma rapariga que ele mantinha em Natal.

Criei uma conta pro rapaz no Hotmail e avisei que havia criado uma senha, mas que pra sua própria privacidade, ele deveria troca-la o mais rápido possível, criando uma senha que eu não conhecesse.

Após três meses fazendo curso intensivo de francês em Montréal, voltamos pro Brasil pra completarmos o ultimo semestre da faculdade. Foi nesse momento que comentei com Gustavo Sousa (O Boi Tungão) que havia criado um e-mail pra Zumel e ele me pergunta se ainda tenho a senha. Eu disse que sim e testamos. Voilá, Zumel não havia alterado a senha.

Na UFRN, existia uma jovem senhora, casada, com a bunda muito grande, que era adorada por Zumel e pelos demais estudantes. Mas, por ser casada, ninguém se atrevia a um contato mais direto com a moça. Éramos uns puritanos.

Nem tanto, pois descobrimos o e-mail dela e com a senha de Zumel em mãos, mandamos um e-mail pra moça, se passando por ele. Era um e-mail frio, inicial, mas que demonstrava um pouco as intenções dele para com ela. Dizia que a admirava, que ela era linda e que sempre havia respeitado pois ela era casada e blá blá blá.

Ela mostrou-se surpresa, mas não repudiou o e-mail do galã. Alegou que nunca esperava uma mensagem daquela vindo dele, mas aparentou ter gostado do elogio e da cantada.

Ah, também existia um detalhe que foi fundamental pro sucesso do plano. Zumel não tinha computador em casa e logo que recebíamos uma resposta dela, corríamos logo pra apagar o que ela havia escrito, pois assim se o Mané entrasse no e-mail por acaso, nada iria ver.

No decorrer de duas semanas, os e-mails já haviam se tornado correspondências eróticas e detalhes do que iriam fazer quando se encontrassem. A gente não se agüentava.

O mais comédia de tudo era quando estávamos todos juntos nos corredores e ficávamos observando a jovem olhando pra Zumel com ar de sacana e Zumel sem desconfiar de nada, chegava pra gente e dizia:

- “Meu irmão, essa bicha ta só rindo pra mim, que porra é essa?”

E a gente não se agüentava e dizia pra ele que ela só podia estar paquerando com ele.
Mas a conversa do e-mail ficou tão quente que chegou ao ponto que tivemos que dizer a menina que Zumel tinha que comer ela naquela noite, que já não agüentava mais. Marcamos então um encontro numa lanchonete às sete da noite, pra irmos direto pro motel.

Aí chegamos pra Zumel naquele dia de tarde e dissemos:

- “Ei Zumel, tu vai fazer o que hoje a noite? Faz um favor pra gente, come ali uma doidinha que a gente organizou pra tu. Mas tu ta devendo 100 reais pra cada, ok?”

Ele com cara de anus, perguntou o que estava havendo. O bicho é tão doido que sem questionar, diz, com cara de glutão: “Mas homi...”, e entra no carro e vai ao encontro da jovem, que manteve um caso amoroso com o Don Juan e até hoje nunca desconfiou que quem foram os conquistadores foram eu e Gustavo. Essa foi a primeira vez na historia que eu servi de cupido, quando na verdade eu estava com intenção de ver ao menos uma tapa na cara de Zumel, em plena luz do dia na UFRN.

Mas como os amores de hoje em dia são assim, terminamos como rufiões e propagadores do adultério. Zumel até hoje se vangloria e provavelmente nunca alterou a senha do e-mail, que deu muita sorte pra ele.