
Meu irmão, então, começou a me acusar de ter dado cabo do chocolate, pois eu fiquei rindo da cara dele. Eu neguei, avisando, inclusive, que não gostava de chocolate branco. Ele disse que se o chocolate dele não aparecesse, ele iria comer a minha barra que também estava no congelador, só que de chocolate preto. Eu avisei que caso ele fizesse isso, o pau iria comer, pois eu não tinha nada a ver se ele tinha perdido o chocolate dele.
Dito e feito. O atrevido foi e mordeu o chocolate na minha frente. Como eu não poderia deixar a minha palavra solta no ar, meti-lhe a mão nas fuças e o pau cantou dentro de casa. Minha mãe, sozinha em casa, tentou apartar a briga, mas, no meio do tumulto, caiu no chão e começou a chorar.
Chamou Rainer para nos separar, mas medroso como era, só ficou tentando parar com a voz, não chegou perto para segurar ninguém, o que aumentava o desespero da minha pobre mãe.
Quando enfim paramos a briga, ela telefonou para o meu pai, que veio saber o que estava acontecendo. Tomamos banho para irmos ver nossas namoradas, mas meu pai mandou que entrássemos no carro com ele, os dois. Dirigiu por uns dois quarteirões, desceu do carro e disse para mim, com muita raiva e gritando: “Você vai dirigindo o carro agora, vai deixar seu irmão na casa da namorada dele e quando ele terminar, você vai buscar. Quero ver se vocês vão se matar no caminho”.
Não fui buscá-lo e passamos uns seis meses sem nos falarmos. Depois disso, nós ficamos amigos novamente, melhor até do que antes. Mas eis que Fábio encontra com Rainer na rua uns dois anos depois e este confessa ter sido ele quem comeu o chocolate, aos poucos, toda vez que ia buscar uma cerveja no congelador.
Eu não sabia até então o porquê de Rainer ser sempre tão solícito a respeito de ir buscar a próxima cerveja, mas estava achando bom, que nem da cadeira eu me levantava. Meu irmão então pediu desculpas e me deixou com o gosto de ter a certeza de que o tempo sempre trabalha junto de quem é honesto. Um dia a verdade aparece. Se isso serviu para alguma coisa, desse dia em diante, eu e meu irmão nunca mais tivemos uma briga.