
Não por vingança, mas por coincidência, no final de semana eu descontava, quando fazia minhas bebedeiras lá em casa, principalmente quando estava em uma varanda que ficava a poucos metros da sala deles.
Certa ocasião, um grande amigo meu, Rainer Patriota, que é o filho do também jornalista Nelson Patriota, estava nessa varanda para uma noitada de boemia. Rainer é o maior violonista que eu já vi, mas não tinha muita resistência etílica e bebia, dormia, acordava, bebia de novo, sempre tocando.
Por incrível que pareça, consegui levar o homem na conversa e na geladinha até o sol raiar. Ninguém já aguentava mais falar, mas Rainer pegou o violão e tocou uma versão instrumental de “Luiza”, de Tom Jobim, numa versão parecidíssima com a que o grande violonista Raphael Rabello tocava. E repetiu a mesma música sem parar. E foi assim que fui dormir, ao som de Luiza.
Na semana seguinte, quando vou chegando em casa, Silvinha me para e diz que tem um presente para me dar. Era a coluna de Vicente Serejo, “Cena Urbana”, daquela semana. Silvinha me disse que ele estava falando de mim no jornal.
Quando peguei o jornal, pensei: “Puta que pariu, será que ele tá me detonando?” Mas, para minha surpresa, ele elogiava o fato de ter sido acordado com “Luiza” e o gosto musical do vizinho, que tinha escolhido a versão maravilhosa de Raphael Rabello.
Só que não era Raphael Rabello, era Rainer Patriota. Mas a versão era tão similar que seria impossível Serejo distinguir uma da outra. Se não foi possível fazer justiça completa naquela época, faço agora com o grande Rainer. Pena que ele largou o violão para tocar Viola de Gamba. Hoje é um austero professor de filosofia. Só espero que não seja avesso a noitadas, pois seria um desperdício aos que amam essa vida.
* Video de Raphael tocando Luiza.
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