- “Eu vou comprar pão!”, dizia eu, entusiasmado.
Ou então, “Papai, deixe-me dar uma volta no quarteirão”.
Nessa noite, pedi o carro pra ir dar uma voltinha na casa de Pezão. Chegando lá, não tinha ninguém, somente Reginaldo Matuto se encontrava na calçada, esperando por alguém chegar. Quando desliguei o carro, ele me contou que estava sendo realizado uma festa de São João no colégio objetivo, lá em Petrópolis e que todo mundo devia estar lá.
Petrópolis é um bairro afastado da minha casa, que é em Morro Branco. E eu nunca tinha saído de Morro Branco dirigindo, mas não podia deixar que isso me impedisse de ir à tal festa. O Matuto entra no carro e zarpamos pra diversão, sem se importar com o fato de meu pai ter autorizado somente a minha ida à casa de Pezão, que ficava há 2 quarteirões de distancia.
Tudo corria bem ate que de repente surge uma “boca de lobo” na nossa frente. Tratava-se de uma tampa de bueiro da CAERN , bem alta, sobressaindo do calçamento. Reginaldo disse-me para desviar e eu disse que não, que dava pra passar por baixo do carro sem problemas.
Só escutamos aquele barulho gigantesco e a partir disso, nada adiantava se eu girasse a direção do carro toda pro lado direito ou toda pro lado esquerda, o veiculo continuava indo reto. Havia quebrado a caixa de direção por completo e não tinha jeito do carro andar, para que eu mentisse pro meu pai, dizendo que o acidente havia sido perto de casa.
Nessa época ninguém nem sonhava que existia o tal do telefone celular. Então corremos pro Sandunas e lá encontramos uns amigos muito gente boa. Piteno, Pezão e Segundo (José Caldas Marinho), todos num Selvagem de propriedade deste ultimo.
Contamos o ocorrido, todos riram bastante da minha situação, como não podia deixar de ser diferente, e fomos analisar o carro. Quando chegamos a conclusão que o mesmo não teria jeito, resolvemos ir na minha casa contar ao meu pai. Fomos os cinco.
Chegando lá, meu pai estava na varanda e já foi perguntando pelo carro. Eu falei que o carro havia quebrado. Onde, ele perguntou. Ali, eu respondi. Ali aonde, meu filho, insistiu ele. Ali perto do objetivo (eu pronunciei esta ultima palavra na VDM, velocidade de dicção máxima), disse eu tentando enrolar. Perto de onde, se assustou o homem.
Nesse momento, os quatro indivíduos ficaram escondidos atrás do muro, pois já sabiam a reação escandalosa que minha mãe iria dar. No que meu pai está vestindo a camisa pra ir tentar consertar a merda que eu tinha feito, minha mãe sai lá de dentro perguntando o que houve. Quando eu tentei dizer, já veio com a gritaria, me chamando disso, e daquilo, pra deleite dos senhores que assistiam de camarote. Começaram a gritar e gargalhar e fugiram, deixando somente Piteno, que já havia pego a sua canoa.
Assim, saímos eu, papai e Piteno pro local do crime. Chegando lá, papai foi olhar embaixo do carro o estrago que havia sido feito. Nesse momento, o selvagem de Segundo já estava lá novamente, acompanhado agora do bugre Cobra de Marcio Cachaça.
Cachaça, pensando se tratar de um de nós embaixo do carro, encosta o bugre bem perto e diz: “O que esse mecânico buceta pensa que vai consertar”?
Meu pai se levanta e diz, com cara de poucos amigos: “Eu não vou consertar porra nenhuma, pois eu não sou mecânico!” Cachaça diz: “Eita, porra, foi mal!”, e vai embora, com cara de rapariga. Você imagine ai a minha situação.
O fato é que o carro teve que ser rebocado pra Espacial Veículos , o fato é que não teve festa de São João no Objetivo nenhuma, o fato é que eu fui motivo de piada por uns seis meses e o fato é que até o dia que faleceu, meu pai não pronunciou uma palavra sobre o ocorrido. Isso é que é ter elegância.
No comments:
Post a Comment