
Bebeto vem a ser irmão de Carlinhos Grilo, de Osvaldo Grilo e de Liginha, e também filho de Seu Osvaldo e Dona Teresinha, família tão querida e amiga que mora na mesma rua que meu pai há quase 30 anos, e onde eu morei desde os 3 anos de idade até os 24, quando me mudei pro Canadá.
Como presente de casamento, Bebeto ganhou um freezer horizontal, daqueles usados nos bares pra estocar cerveja e refrigerante, presente de sua avó e que deveriam levar pra fazenda. Em vez de cerveja, Bebeto iria armazenar o leite tirado do gado da fazenda.
Paulo Frederico, também conhecido como Fredeca, se ofereceu pra levar o freezer em sua camionete S10, afinal tudo era motivo pra ir até a fazenda Jardim Santa Tereza pra uma boa cachaça e se tivesse sorte, ainda teriam a companhia do grande Chico Preto, trabalhador antigo da fazenda.
Fredeca, com a ajuda de Rui Barbosa, amarrou o freezer na caçamba da camionete e partiram contentes pra fazenda. Eis que o nó que foi dado não foi muito eficiente e a corda começou a se soltar aos poucos. Quando estavam na BR 101, já chegando em Goianinha, encontram uma ladeira e “responsavelmente”, Fredeca promete colar o ponteiro da camionete, somente pra dar mais um pouco de emoção à viagem.
Vinham com os vidros abertos, mas pra ganhar mais velocidade, resolveram fecha-los. Só a física explica, mas nessa hora, um vento canalizado conseguiu penetrar por baixo do frigobar, que fez com o mesmo fosse parar em plena rodovia.
Foi uma sorte tremenda que não vinha nenhum carro atrás deles, pois caso contrario, ambos estariam na cadeia até hoje pagando por homicídio culposo. O mais próximo de um assassinato foi um sujeito que vinha em uma bicicleta no acostamento.
O sujeito viu aquela geladeira vindo em sua direção, puxou pra um lado, a bicha foi pro mesmo lado, puxou pro outro, ela foi pro outro, mas ele, malandro, conseguiu driblar o objeto voador identificado, afinal, o nordestino é antes de tudo um forte.
Na hora que o carro foi aliviado no peso do frigobar, o motorista percebeu de imediato e olhou pro retrovisor pra ver o estrago. Avisou a Carlinhos e voltaram pra tentar recuperar o eletrodoméstico.
O que restou do freezer era uma massa destruída, um pouco maior do que um frigobar. Os dois recolheram o troço e colocaram na camionete outra vez, dessa vez amarrando bem firme o nó, como se fosse adiantar alguma coisa.
Chegando na fazenda, o Seu Osvaldo esperava por eles na varanda da casa, ansioso pra ver o freezer funcionando. Quando viu o estado em que se encontrava os restos mortais, não acreditou no que via e perguntou ao Rui Barbosa:
- “Carlinhos, esse freezer é Cônsul, não é?”
- “É papai, é Cônsul”, respondeu Carlinhos.
- “Você sabe onde é a fábrica da Cônsul?”, perguntou Seu Osvaldo.
- “Sei não, papai”, retrucou Carlinhos.
- “A fábrica da Cônsul é lá no Rio Grande do Sul. E como nós estamos no Rio Grande do Norte, trata-se de uma grande viagem. Mesmo com essa grande viagem, os freezers vêm amontoados em cima de um caminhão e nenhum cai, ta me entendendo, nenhum!! Como você não consegue trazer essa merda de Natal pra Espírito Santo sem derrubar, Carlinhos? Desapareça com essa merda da minha frente e traga ela inteira e funcionando aqui amanha. Mas dessa vez amarre essa porra com vontade!!!”
Carlinhos e Fred se segurando pra não rirem na frente de Seu Osvaldo, recolhem o ferro-velho e colocam novamente na camionete, com a ingrata missão de arranjarem um lugar pra consertarem aquele amontoado de ferro.
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