
Estive em julho de 2008 na Flórida. Por insistência quase religiosa do meu amigo Marcelo China Junior, armei acampamento no apartamento dele. China estava muito bem localizado em Miami Beach, ha dois quarteirões de agradável pedaço de praia em South Beach. Não preciso dizer quão agradável foram esses 10 dias que passamos por lá. China trabalhava durante o dia e durante à noite, nos sentávamos pra jantar, descer umas geladas e contar as resenhas do dia e relembrar as presepadas do passado. Sempre falando mal de um ou de outro, lógico.
Tudo isso não traria problemas pra ninguém, a não ser que quando a cerveja batia na cuca, toda noite lá pelas 3 da manhã horário de Miami e 4 da manhã horário de Natal, China aparecia com um numero de telefone na mão e um cartão de telefonemas internacionais na outra. E dizia: “Agora, vamos encomendar polpas de frutas diretamente de Natal!!”
Demorava uns cinco toques e lá atendia uma voz rouca e de sono. Era o nosso ilustre cidadão natalense Ovídio Cavalcanti, mais conhecido nas rodas da malandragem como “Vovô Babão”ou “Bôzo”.
A voz de cá dizia: “Ovídio, Ovídio, eu quero fazer um pedido de polpa de frutas, pode ser?”
A voz de lá, altamente irritada mas contida, respondia: “Amigo, voce sabe que horas são? Não ligue mais pra cá não, tenha respeito, tem outras pessoas na casa querendo dormir também”.
Quando tínhamos percebido que já havíamos atingido o objetivo de acorda-lo, a gente começava a rir e desligava o telefone. E assim foram sendo feitas as ligações, religiosamente no mesmo horário. Só não ligamos nos dias que passei em Orlando e em Key West, mas quando estava em Miami, pedimos as polpas. Inclusive certa feita foi o gordinho Gustavo quem atendeu.
No antepenúltimo dia, a irmã de Ovídio atendeu ao telefone e questionou: “Meu filho voce não acha que tá muito tarde pra compra polpa de frutas não?”
Eu respondi pra ela:
- “É por esse motivo que vocês não vão pra frente. Ficam escolhendo hora certa pra vender, em vez de apenas vender a porra da polpa da fruta, dar graças a Deus que arranjaram um cliente e pronto. Mas não, vocês ficam regulando hora, e vão terminar quebrados. É a globalização”.
Ela se irritou com tal observação, demos mais uma risadas e umas latidas, e desligamos.
No penúltimo dia, novamente Ovídio atendeu ao telefone e comecei a dizer que queria fazer um pedido. Ele então disse, puto da vida: “Vá amigo, faça seu pedido aí que eu estou anotando...”
- “Eu quero 5 sacos de acerola, 5 sacos de uva, 5 sacos de goiaba... está anotando?”
- “Estou amigo, estou anotando sim... vá falando que eu quero reconhecer a sua voz, bonitinho”.
- “Anotou tudo aí né? E banana? Tem banana?
- “Não amigo, não temos polpa de banana não”.
- “Eu não perguntei se voce tinha polpa de banana, a banana que eu quero é pra enfiar no teu rabo, filha da puta!!!”
Ele ficou possesso, demos novamente uns berros e desligamos.
No ultimo dia, em estado impar de embriaguez, resolvemos ligar uma derradeira vez pro nosso amigo industrial do setor de polpas.
Como na última vez que estive em Natal, o folião Nino Bugueiro sentou-se à minha mesa na Picanha do Dudé, bebeu, comeu e fugiu sem pagar a conta, ele iria pagar de outra forma.
Comecei a dar dicas no telefone que era Nino que estava por trás daqueles trotes todos. Num momento, sabendo que Ovídio estava na linha em silencio, eu disse pra China: “Ei Nino, ei Bugueiro, Vovô Babão desligou. Que bicho mais otário, bem que tu disse que ele pegava ar por tudo, igual aquela história da G Magazine...”
Ovídio, no alto de sua sapiência, e vendo que o numero que aparecia no seu Bina era da Telemar, nunca imaginou que quando alguém liga do exterior, em vez de aparecer o numero do cartão, aparece o numero da operadora local. Tendo essa informação em mãos, ele liga pra Telemar e começa a brigar com o sujeito que atendeu.
Não satisfeito, vai à delegacia de policia mais próxima e presta queixa contra o pobre funcionários da Telemar. Eis que Luciano Berberick, vendo a gravidade da situação, diz ao mesmo que pare com isso, que isso é presepada minha com China.
Ovídio então me escreve querendo saber se era verdade, que ele só queria saber, pois iria colocar um inocente atrás das grades. Evidentemente eu neguei e o pobre coitado funcionário da Telemar deve estar dando explicações até hoje.