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Saturday, May 24, 2014

Dificuldade de diálogo

Quando me mudei de Montreal pra Toronto em meados de 2004, fui trabalhar numa empresa chamada North Moving and Cartage, de propriedade de um senhor português chamado Manuel Pinto. Essa empresa tinha um contrato com um grande empresa que vendia eletrodomésticos e o nosso trabalho era entregar esses eletrodomésticos, na maioria geladeiras, fogões, máquinas de lavar e secar e máquinas de lavar louça.

Lá eu comecei como ajudante e cheguei ao prestigioso cargo de motorista de caminhão. Como ajudante, tínhamos que ligar pros clientes, avisando a hora em que chegaríamos às suas casas, alem de falar no rádio com a central e olhar o caminho a ser feito em mapas nos nossos colos, pois naquela época ninguém tinha aparelho de GPS.

Pra minha sorte ou azar, eu havia entrado no lugar do Paulo, um angolano que havia machucado seriamente a mão durante um trabalho. Paulo falava português e inglês e era o elo de ligação do Zé Sobrinho com o mundo exterior. O Zé Sobrinho, ou Zé Cigarro, como era conhecido na malta, era um motorista português, de voz rouca e abafada pelo uso incessante do cigarro, que não era muito adepto à conversa e era dado a raríssimos risos.

No primeiro, não trocamos uma só palavra. Mas aos decorrer dos dias seguintes, eu obtive umas 5 palavras durante o dia inteiro. Nesse ambiente pouco amistoso, fazíamos o nosso trabalho. Eu pouco entendia o que ele dizia quando resolvia falar, pois alem do sotaque português do interior, ele ainda tinha o problema da voz rouca, que impossibilitava qualquer compreensão.

Existia uma eletrodoméstico que era odiado por todos, se tratava de uma maquina de lavar que vinha acoplada a uma maquina de secar, uma em cima da outra. Nós odiávamos pois alem de muito pesada, ainda era péssima de carregar, devido ao seu formato. Tínhamos que colocar umas cordas por debaixo da mesma e colocar o peso em cima de quem vai na frente, quase que inclinando e deitando peso em cima dele.

Analisando os papeis, vi que tínhamos uma peça dessas pra ser entregue e que o dono havia dito que na casa tinha uma escada em curva, o que dificultaria em muito o nosso trabalho. Não disse nada, pois se o homem já tinha mal humor constante, quando sabia de uma coisa dessas, ninguém agüentava.

Chegando na tal casa, e analisando o serviço, o homem começa a ficar puto. Agarra nas cordas com a maior ignorância e levantamos a peça. Como ele estava na maior pressa, tive que acompanhar o seu ritmo. A escada era bem íngreme e lá pelo décimo degrau, e uma vez que o peso todo estava em cima dele, ele cansou e gritou:

- “Alto!!!”

Eu, na maior das boas intenções, levantei a maquina mais alto e ela foi indo pra cima dele.

Ele gritou novamente e mais alto:

- “Alto, caralho, foda-se!!!”

Não contei conversa, levantei a porra da peça o mais alto que podia. Quando olhei pra debaixo, vi que os pés dele estavam presos no degrau e a maquina completamente em cima do pobre coitado, que já nem falava mais.

Apressei-me e retirei a peça de cima do homem, que estava vermelho e bufava mais do que um touro. Quando recuperou o fôlego, deu um berro que estrondou a casa inteira. Disse ele:

- “Que língua que tu falas, pá? Tu não falas português, ô caralho? Alto é pra parar!!! Alto, é pra parar, caralho!!! Queres me matar, ô gajo? Quando um homem fala alto, quer dizer que é pra parar, caralho!!!”

Essa historia virou folclore na empresa. Mas o dia em que mais ri com o Zé Cigarro foi quando fomos trabalhar em três, pois a carga era demasiada grande e precisaríamos de um terceiro individuo. Nessas ocasiões, sempre mandavam o único canadense que havia por lá, o Brad, que por não falar português, era motivo de chacota de todos.

Nesse dia, estávamos no meio do mato e queríamos comprar umas frutas vendidas pelos índios na beira de uma estrada pequena. Eu não tinha dinheiro em espécie e muito menos o Zé. Então, como ele não falava inglês, me pede que eu pergunte ao Brad se ele tem dinheiro em espécie.

Eu disse a ele que Zé estava perguntando se ele tinha dinheiro em espécie pra emprestar a ele. O Brad estava sentado no meio da boleia, entre eu e Zé. Ele então se vira pra Zé, enfia a mão no bolso e diz: “No, I only have pennies...”

Zé então observa a mão do canadense no bolso, e na cabeça dele era como se o Brad estivesse alisando o próprio cacete e furioso, fitando bem a cara do canadense, fulmina: “Pênis tu enfia no teu cu, caralho!!! Seu filho da puta canadiano de merda!!!”

O pobre diabo não sabia que pennies significava as moedas de 1 centavo e partiu logo pra ignorância com o inocente canadense. Até eu conseguir parar de rir e explicar a situação, o canadense levou um bocado de gritos, sem saber o que estava se passando.

Friday, May 23, 2014

O trote que saiu pela culatra

Se a intenção do trote é prejudicar ou arranhar a imagem ou apenas sacanear com o troteado, esse trote que aplicamos em Gustavo Zumel saiu pela culatra e o mesmo ganhou como se fosse um premio na loteria, inteiramente dentro de sua inocência.

Quando viemos pro Canadá no final de 1999, Zumel ainda não possuía um endereço eletrônico, de tão primitivo que era. Pediu-me então pra que eu criasse uma conta de e-mail, para que o mesmo pudesse se comunicar com a família e com uma rapariga que ele mantinha em Natal.

Criei uma conta pro rapaz no Hotmail e avisei que havia criado uma senha, mas que pra sua própria privacidade, ele deveria troca-la o mais rápido possível, criando uma senha que eu não conhecesse.

Após três meses fazendo curso intensivo de francês em Montréal, voltamos pro Brasil pra completarmos o ultimo semestre da faculdade. Foi nesse momento que comentei com Gustavo Sousa (O Boi Tungão) que havia criado um e-mail pra Zumel e ele me pergunta se ainda tenho a senha. Eu disse que sim e testamos. Voilá, Zumel não havia alterado a senha.

Na UFRN, existia uma jovem senhora, casada, com a bunda muito grande, que era adorada por Zumel e pelos demais estudantes. Mas, por ser casada, ninguém se atrevia a um contato mais direto com a moça. Éramos uns puritanos.

Nem tanto, pois descobrimos o e-mail dela e com a senha de Zumel em mãos, mandamos um e-mail pra moça, se passando por ele. Era um e-mail frio, inicial, mas que demonstrava um pouco as intenções dele para com ela. Dizia que a admirava, que ela era linda e que sempre havia respeitado pois ela era casada e blá blá blá.

Ela mostrou-se surpresa, mas não repudiou o e-mail do galã. Alegou que nunca esperava uma mensagem daquela vindo dele, mas aparentou ter gostado do elogio e da cantada.

Ah, também existia um detalhe que foi fundamental pro sucesso do plano. Zumel não tinha computador em casa e logo que recebíamos uma resposta dela, corríamos logo pra apagar o que ela havia escrito, pois assim se o Mané entrasse no e-mail por acaso, nada iria ver.

No decorrer de duas semanas, os e-mails já haviam se tornado correspondências eróticas e detalhes do que iriam fazer quando se encontrassem. A gente não se agüentava.

O mais comédia de tudo era quando estávamos todos juntos nos corredores e ficávamos observando a jovem olhando pra Zumel com ar de sacana e Zumel sem desconfiar de nada, chegava pra gente e dizia:

- “Meu irmão, essa bicha ta só rindo pra mim, que porra é essa?”

E a gente não se agüentava e dizia pra ele que ela só podia estar paquerando com ele.
Mas a conversa do e-mail ficou tão quente que chegou ao ponto que tivemos que dizer a menina que Zumel tinha que comer ela naquela noite, que já não agüentava mais. Marcamos então um encontro numa lanchonete às sete da noite, pra irmos direto pro motel.

Aí chegamos pra Zumel naquele dia de tarde e dissemos:

- “Ei Zumel, tu vai fazer o que hoje a noite? Faz um favor pra gente, come ali uma doidinha que a gente organizou pra tu. Mas tu ta devendo 100 reais pra cada, ok?”

Ele com cara de anus, perguntou o que estava havendo. O bicho é tão doido que sem questionar, diz, com cara de glutão: “Mas homi...”, e entra no carro e vai ao encontro da jovem, que manteve um caso amoroso com o Don Juan e até hoje nunca desconfiou que quem foram os conquistadores foram eu e Gustavo. Essa foi a primeira vez na historia que eu servi de cupido, quando na verdade eu estava com intenção de ver ao menos uma tapa na cara de Zumel, em plena luz do dia na UFRN.

Mas como os amores de hoje em dia são assim, terminamos como rufiões e propagadores do adultério. Zumel até hoje se vangloria e provavelmente nunca alterou a senha do e-mail, que deu muita sorte pra ele.

Sunday, April 27, 2014

Não davam paz aos travecos

Naquele tempo em que não existiam baboseiras como as coisas politicamente corretas de hoje, diversão garantida era juntar uma turma e atirar objetos, pesados ou não, nos travestis e viados que faziam ponto ali na Igreja Santo Antonio, nos cruzamentos da Amintas Barros com a Salgado Filho. Uns ficavam na igreja, outros na calçada da fabrica de “confeitos” Sams.

Nesse contexto, sempre quem possuía carros tipo pick-up era escolhido pra levar os interessados em alvejar os travecos da Igreja. Num determinado dia, o escolhido foi o nosso querido amigo Fabiano Morais, mais conhecido nas rodas da malandragem como Koala, que possuía uma pick-up Pampa, da Ford.

Os indivíduos que iam de cagalona, portavam côcos, sacos de lixo, ovos e outras coisinhas mais. Koala para o carro em frente a eles e a infantaria fez o seu trabalho. Despejaram todo a munição em cima dos pobres trabalhadores da noite, que se defendiam e fugiam como podiam daquele ataque terrorista.

Eis que quando findou a munição, os travecos que escaparam entre os mortos e feridos, avançaram pra cima da Pampa de Koala, pois sabiam que eles estavam sem coisas pra atirar neles, e os travecos como sempre, possuíam canivetes e giletes.

Sentindo a aproximação da turma e temendo que a retaliação seria grande, Koala começa a tremer e não consegue sair com o carro, deixando que o mesmo estancasse quando tentava fugir. Como ninguém é besta, todo mundo saiu correndo do carro, deixando o solitário motorista sozinho, tentando ligar o carro e sem conseguir, devido ao altíssimo grau de nervosismo.

Foi quando olhou pro lado e se depara com um raivoso traveco ao seu lado, querendo tirar satisfações sobre os machucados que recebera, gratuitamente.

Koala então se saiu com a frase que ficou pros anais da historia e que também salvou a sua pele. Ele falou:

- Desculpa ai, Seu Viado, a culpa não foi minha não, eu só dei uma carona pros caras...

O travesti não sabia se ria ou se chorava por estar sendo chamado de “Seu Viado”, tão respeitosamente, que liberou a saída do urso, que depois daquele dia, nunca mais jogou nada em ninguém.

E quanto aos amigos de infantaria que deixaram Koala sozinho junto aos leões, digo, as leoas, correram tanto se acabando de rir que só pararam na casa de Pezão, que ficava a uns 12 quarteirões do local.

Tuesday, April 22, 2014

Tapuru e a gordinha da noite

O nosso herói Tapuru, numa fase braba em que estava mais pra fezes do que pra mousse de chocolate, resolve contratar os serviços de uma jovem meretriz que fazia ponto na Avenida Engenheiro Roberto Freire, perto do famoso prédio da Sistema, firma séria que trabalhava com informática, de propriedade de Sebastião Melo, pai do nosso querido Vitor “Chico Bento” Albuquerque, mas que à noite virava ponto de prostituição.

Tapuru, guiado mais pelo tesão enrustido do que pela lógica, parou o carro, mandou a jovem adentrar aquele seu famoso Uno Mille verde de duas portas e não se preocupou com mais nada. O detalhe é que a jovem, apesar de sua profissão, era o que poderíamos dizer, bastante fora de forma, pesando inclusive o dobro do peso do "musculoso" Tapuru.

Foram pro motel e fizeram aquela festa lá dentro, que eu poderia até descrever, mas sou impedido por uma ânsia de vomito imensamente forte, cada vez que tento imaginar o teor dessa passagem e assim como, da cena desse esqueleto se mexendo em cima da filhote de elefante.

Inclusive dizem que foi nessa noite que ocorreu aquela célebre história. Dizem que Tapuru mandou a jovem obesa ficar com as luzes apagadas, tirar a roupa e ficar deitada na cama, esperando por ele. Nisso ele foi ao banheiro, tirou a roupa e pulou em cima dela, com os braços abertos.

A menina ficou desesperada e chamando por Tapuru, disse:

- “Moço, moço, me ajude aqui que acabou de cair um crucifixo em cima de mim”.

Mas enfim, Tapuru pagou a conta do motel com cartão de credito e quando foi efetuar o pagamento pelos serviços prestados pela jovem, percebeu que não tinha um centavo sequer pra contar historia. Depois de uma breve discussão, foram até uma maquina 24 horas que tinha no Natal Shoping Center. Chegando lá, novamente frustração. Segundo Tapuru, a maquina estava fora do ar. Outro principio de tumulto, mas concordaram em ir até a maquina da AABB.

Tapuru desce e ela fica observando a cara do sujeito, que volta dizendo que a maquina também estava fora do ar. O pau cantou, mas eles chegaram a um acordo. A jovem morava na Vila de Ponta Negra e se, caso Tapuru levasse a mesma até a porta de casa, a dívida estaria perdoada.

O magro velho topou na hora, afinal a gasolina saia do bolso do velho Rui mesmo. Chegando na casa dela, a jovem desceu e Tapuru foi fazer a manobra pra poder voltar. O homem tava com um medo gigantesco de estar ali naquela região, naquela hora e sozinho. Quando percebeu, a menina começou a gritar por ele. Tapura não quis conversar, meteu os pés no carro, olhando pelo retrovisor. Foi aí que viu a menina no meio da rua e mesmo todo cagado de medo, resolveu voltar.

Deu marcha a ré e parando ao lado da gordinha, pergunta, com a liberdade de quem conhece-a muito intimamente: “O que foi, porra? Ta doida, gritando ai no meio da rua?“

Eis que a jovem mostra a carteira de Tapuru e diz: “Pega tua carteira aí magro velho, já vi que tu tá liso mesmo. Da próxima vez se liga que senão eu não devolvo nem os documentos”.

Tapuru saiu com um misto de sentimentos dentro daquela cabecinha amargurada. Como podia uma puta daquelas ser tão honesta? Como podia ela ter topado em fazer o programa de graça? Sim, ainda tinha gente boa nesse mundo.

Thursday, April 17, 2014

Polpa de frutas de Miami

Estive em julho de 2008 na Flórida. Por insistência quase religiosa do meu amigo Marcelo China Junior, armei acampamento no apartamento dele. China estava muito bem localizado em Miami Beach, ha dois quarteirões de agradável pedaço de praia em South Beach. Não preciso dizer quão agradável foram esses 10 dias que passamos por lá. China trabalhava durante o dia e durante à noite, nos sentávamos pra jantar, descer umas geladas e contar as resenhas do dia e relembrar as presepadas do passado. Sempre falando mal de um ou de outro, lógico.

Tudo isso não traria problemas pra ninguém, a não ser que quando a cerveja batia na cuca, toda noite lá pelas 3 da manhã horário de Miami e 4 da manhã horário de Natal, China aparecia com um numero de telefone na mão e um cartão de telefonemas internacionais na outra. E dizia: “Agora, vamos encomendar polpas de frutas diretamente de Natal!!”

Demorava uns cinco toques e lá atendia uma voz rouca e de sono. Era o nosso ilustre cidadão natalense Ovídio Cavalcanti, mais conhecido nas rodas da malandragem como “Vovô Babão”ou “Bôzo”.

A voz de cá dizia: “Ovídio, Ovídio, eu quero fazer um pedido de polpa de frutas, pode ser?”

A voz de lá, altamente irritada mas contida, respondia: “Amigo, voce sabe que horas são? Não ligue mais pra cá não, tenha respeito, tem outras pessoas na casa querendo dormir também”.

Quando tínhamos percebido que já havíamos atingido o objetivo de acorda-lo, a gente começava a rir e desligava o telefone. E assim foram sendo feitas as ligações, religiosamente no mesmo horário. Só não ligamos nos dias que passei em Orlando e em Key West, mas quando estava em Miami, pedimos as polpas. Inclusive certa feita foi o gordinho Gustavo quem atendeu.

No antepenúltimo dia, a irmã de Ovídio atendeu ao telefone e questionou: “Meu filho voce não acha que tá muito tarde pra compra polpa de frutas não?”

Eu respondi pra ela:

- “É por esse motivo que vocês não vão pra frente. Ficam escolhendo hora certa pra vender, em vez de apenas vender a porra da polpa da fruta, dar graças a Deus que arranjaram um cliente e pronto. Mas não, vocês ficam regulando hora, e vão terminar quebrados. É a globalização”.

Ela se irritou com tal observação, demos mais uma risadas e umas latidas, e desligamos.

No penúltimo dia, novamente Ovídio atendeu ao telefone e comecei a dizer que queria fazer um pedido. Ele então disse, puto da vida: “Vá amigo, faça seu pedido aí que eu estou anotando...”

- “Eu quero 5 sacos de acerola, 5 sacos de uva, 5 sacos de goiaba... está anotando?”

- “Estou amigo, estou anotando sim... vá falando que eu quero reconhecer a sua voz, bonitinho”.

- “Anotou tudo aí né? E banana? Tem banana?

- “Não amigo, não temos polpa de banana não”.

- “Eu não perguntei se voce tinha polpa de banana, a banana que eu quero é pra enfiar no teu rabo, filha da puta!!!”

Ele ficou possesso, demos novamente uns berros e desligamos.

No ultimo dia, em estado impar de embriaguez, resolvemos ligar uma derradeira vez pro nosso amigo industrial do setor de polpas.

Como na última vez que estive em Natal, o folião Nino Bugueiro sentou-se à minha mesa na Picanha do Dudé, bebeu, comeu e fugiu sem pagar a conta, ele iria pagar de outra forma.

Comecei a dar dicas no telefone que era Nino que estava por trás daqueles trotes todos. Num momento, sabendo que Ovídio estava na linha em silencio, eu disse pra China: “Ei Nino, ei Bugueiro, Vovô Babão desligou. Que bicho mais otário, bem que tu disse que ele pegava ar por tudo, igual aquela história da G Magazine...”

Ovídio, no alto de sua sapiência, e vendo que o numero que aparecia no seu Bina era da Telemar, nunca imaginou que quando alguém liga do exterior, em vez de aparecer o numero do cartão, aparece o numero da operadora local. Tendo essa informação em mãos, ele liga pra Telemar e começa a brigar com o sujeito que atendeu.

Não satisfeito, vai à delegacia de policia mais próxima e presta queixa contra o pobre funcionários da Telemar. Eis que Luciano Berberick, vendo a gravidade da situação, diz ao mesmo que pare com isso, que isso é presepada minha com China.

Ovídio então me escreve querendo saber se era verdade, que ele só queria saber, pois iria colocar um inocente atrás das grades. Evidentemente eu neguei e o pobre coitado funcionário da Telemar deve estar dando explicações até hoje.

Friday, March 21, 2014

Bebeto liso na casa de drinks

Nas tediosas noites de domingo, para não ficarmos em casa e assistirmos ao Fantástico, íamos conversar com algumas meninas que trabalhavam em uma “casa de drinks” lá em Capim Macio. Era uma coisa engraçada. Conhecíamos todo mundo no ambiente, desde os frequentadores, passando pelas meninas, até os que lá trabalhavam. Lembro muito de Manel, um amigo do Neves, que era o melhor freguês da casa.

Assim, as noites de domingo passavam a ser deveras animadas. Mas em uma dessas, após termos comido e bebido tudo o que tínhamos direito, me levanto para ir ao banheiro e Bebeto da Égua vem junto a mim.

O safado começa a gargalhar. Eu pergunto o que aconteceu e recebo outra gargalhada como resposta. Quando eu já estava ficando puto, escuto a frase que me deixou mais puto ainda:

- Ei, das Cachorras, eu não tenho um puto no bolso pra pagar a conta!

Diz isso e começa a gargalhar novamente. Eu perguntei se ele estava achando isso engraçado e, sem resposta, concluí que estava, pois não parava de se abrir. Estávamos no velho Monza verde de Osvaldão. Dar o cangapé não me traria prejuízo algum, a não ser, o de não poder frequentar mais tão pitoresco ambiente.

Bebeto então pediu que eu pagasse a sua parte e que no outro dia, sem falta, iria me reembolsar. Não acreditei muito, mas não tinha outra alternativa. Nunca foi do meu feitio deixar um amigo em posição delicada. Como não tinha dinheiro em espécie, passei um cheque do valor total e fomos embora.

Chegou segunda-feira e nada de eu encontrar Bebeto, e olhe que o bicho morava duas casas à direita da minha, descendo a rua. Terça-feira e nada. Na quarta-feira, finalmente, encontro o rapaz. E ele diz:

- "Das Cachorras, eu tinha o dinheiro exato pra te pagar, mas Daniele estava suspeitando que estava grávida e eu usei a grana pra pagar o exame. Ela está grávida e eu gostaria de aproveitar pra convidar você a ser o padrinho do meu primeiro filho!”.

Bebeto ainda me prometeu o pagamento da grana para o final da semana, mas eu disse que a verba tinha sido gasta para um motivo nobre, que não precisava pagar e ficamos assim. Hoje em dia, com a minha mudança para o Canadá, eu não sou próximo do meu afilhado Leonardo como eu gostaria, mas espero que um dia isso possa ser corrigido.

Me lembro com carinho que ainda dei de presente para ele um bercinho e um velocípede no seu aniversario de um ano. E Bebeto, o reprodutor, constituiu família com outra esposa, a Juliana, e é o feliz pai de mais duas meninas.

Monday, March 17, 2014

Tatá perde a carteira

O nosso grande amigo Maurílio Eduardo, mais conhecido como Tatá, teve um carro que marcou época em nossa turma. Tratava-se de um Gurgel Carajás branco, que foi testemunha de muitas cachaças sadias.

Em uma dessas, saímos com destino a uma batucada na praia de Pirangi do Norte, mais precisamente num bar chamado Cia. da Pizza, em frente à casa do Doido George.

Como de hábito, exageramos um pouco na bebida e, ao tentar atravessar um canal de esgoto existente do lado esquerdo da rua de quem está indo em direção à Natal, não consegui pular o mesmo e caí dentro da água fedida, não antes de deixar um buraco na minha canela, buraco este que ficou para sempre na minha perna direita e que demorou uns seis meses para cicatrizar.

Quando eu consegui sair do esgoto, Tatá se deu conta de que havia perdido a carteira, alegando que a mesma estava repleta de verdinhas, além dos documentos dele e do carro. Foi um desespero só. E eu, todo fedido, tentando ajudar o rapaz a encontrar a carteira dele. Evidentemente, ele julgou que sua carteira era mais importante do que a minha higiene.

Andamos todas as ruas nas cercanias da batucada e nada de encontrar a carteira do rapaz. Fomos então em uma casa que o pai de Juliano Jereba havia alugado para tomarmos banho e nos aprontarmos para a noitada, após eu garantir que emprestaria dinheiro ao grande Tatá.

Ao chegar à casa de Jereba, vasculhando as suas coisas para ir ao banheiro, Tatá se lembra que talvez tivesse colocado a carteira embaixo do banco do Carajás. Quando ele vai se certificar, eu entro no banheiro e vou tomar banho, ao invés de ficar esperando ele voltar.

Quando eu saio do banheiro, vou lá fora e me deparo com uma cena inusitada. A casa de Jereba era vizinha à casa de um grande amigo meu, do tempo do Colégio das Neves e da natação, André Luis, irmão de Márcio Breno. E nessa casa eu passei alguns memoráveis veraneios.

Voltemos então à cena. Tatá foi ao banheiro, mas este estava ocupado por mim. Resolveu então tomar banho na casa de André, numa bica que tinha do lado de fora da casa, mas dentro dos muros da propriedade dele.

Mas o banho que ele resolveu tomar era como se estivesse dentro do banheiro, nu. Quando eu chego à varanda, estava seu Ivo, pai de André, tentando explicar a Tatá que ali era uma casa de família e tal.

Tatá, com o braço esticado para fora do alcance da água, com a carteira na mão e com o resto do corpo debaixo da água, só repetia para o homem, aos berros, como se ele não fosse o dono da casa: “Meu amigo, eu achei minha carteira. Você não está entendendo, eu achei minha carteira, porra!!!”

Dali mesmo eu me escondi, pois não ia ser nada saudável ser associado àquele nudista, ainda mais por aquela família tão querida por mim. Calmamente, o indivíduo nu sai do chuveiro e se arruma ali, como se nada tivesse acontecendo. Mas ainda berrava sobre a carteira.