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Thursday, December 20, 2012

Copa do Mundo explosiva

O Brasil perdeu a Copa de 98 como todos sabem, mas isso não foi empecilho para que tomássemos as cervejas que estavam preparadas para serem tomadas em caso de vitória.

Nesse sentido, fomos à Praia do Meio e ao Dom Quixote, onde a juventude se reunia após os jogos. Saímos do fuzuê lá pelas 10:00 da noite. Voltei pra casa com Marcio Bezerra (Marcio Careca).

Quando este estava no caminho da minha casa, percebeu uma barraca de rua que vendia fogos de artifício, afinal, estávamos próximos do São João. Com aquela risada de rapariga típica dele, diz: “Cachorras, vamos fazer um estrago hoje à noite?”

O careca usava uma pochete virada pra frente. Perguntou ao dono da barraca: “Me dê ai cinco bombas bujão da maior que voce tem!”. O rapaz apresenta umas bombas bem grandes e Márcio, do alto de sua experiência, sentencia: “Essas não, eu quero aquelas que voce tem escondido lá embaixo. Aquelas!!!”.

O sujeito se abaixa pra pegar umas bombas que guardava escondido. Nesse momento, o careca começa a colocar as bombas menores dentro de sua pochete. Colocou o que pôde.

Quando o sujeito me mostrou a bomba, eu não acreditei que aquilo pudesse ser vendida assim, pra qualquer civil. Deveria ser de uso exclusivo das forças armadas. Eram maiores do que minha mão. Pagamos pelas bombas e fomos a um posto de gasolina compra cigarros e isqueiro pra fabricarmos nossas bombas-relógio.

Para aqueles que desconhecem esse maravilhoso “device”, darei aqui uma aula de graça. Pega-se um cigarro e retira-se o filtro. A depender da espera que voce deseja, corte o cigarro em duas ou três partes, para ser mais rápido a detonação. Se quer esperar mais, deixe o cigarro inteiro.

Nós cortamos em três partes, afinal não queríamos esperar muito. Coloca-se a parte do cigarro que foi previamente cortada em cima do pavio, fazendo com que o pavio entre dentro do cigarro e fique ali acomodado. Coloque a bomba deitada e contra o vento, para o cigarro não apagar e o plano ir por água abaixo. Acenda o cigarro, dê uma forte tragada para que não pare de queimar, se esconda e observe a detonação e o desespero dos ocupantes do local a ser bombardeado.

Demorava mais ou menos uns 10 minutos, o que dava tempo suficiente para estacionarmos o carro num ponto estratégico e ficarmos na espreita. A primeira vitima foi Alessandro Leão. Ele não sabe quem foram os autores desse bombardeio ate agora. Espero que não queira se vingar de Marcio, uma vez que eu estou bem longe.

Colocamos o dispositivo em cima do muro e estacionamos o carro estrategicamente na casa de Mução (Rodrigo Pastel), que fica à poucas casas da residência de Leão. O estrago foi tão grande que acho que eles pensaram que estavam realizando um ataque aéreo à Natal. Saiu Alessandro, Fabio, Tiago e Mano, o pai deles, todos sem camisa e procurando saber o que houve.

Chegamos bem perto de morrer de tanto rir da reação deles. E esbravejavam que iam matar o filho da puta que fez aquilo. Gritavam: “Apareça, porra!!! Seja homem!!!” E a gente ali, ha poucos metros, tendo contorções de tanto rir.

Como Carlinhos Grilo (Ruy Barbosa) era muito amigo de Tiago Leão, planejei soltar uma bomba na casa da Família Grilo, somente pra semear a discórdia entre as duas famílias.

Armamos a bomba e paramos o carro na Cigarreira do Pedro. Outra vez, sucesso total. Quer dizer, parcial. As luzes da casa se acenderam, abriram a janela da cozinha, mas ninguém saiu na rua. Mas pelo menos acordaram.

Descemos mais um pouco na rua e fomos bombardear a casa da família de Frederico Lemos (O Doido Zé Zuada). Na casa dele foi melhor, pois o portão de grade nos permitiu chegar mais perto da varanda, o que nos deu uma enorme vantagem acústica. Paramos na lagoa de Morro Branco pra assistirmos de camarote.

Dessa vez o estrondo fez tremer até o gol branco do careca. Meu Deus, a cena de Djesum (pai de Frederico) só de bermudas na calcada, doido igual à uma barata que acabou de receber um borrifada de inseticida, correndo de um lado para o outro, procurando identificar o soldado que quase explodira a sua casa, me trás às lagrimas ainda hoje.

Interessante dizer que não havia dialogo entre eu e o careca entra uma missão e outra. Só gargalhadas. Gargalhadas no ultimo volume possível para um ser humano. E batíamos no vidro do carro. E Marcio parava o carro pra não colidir em nada, pois não conseguia ir alem. Recomeçava a andar e logo parava de novo. Senhor, cheguei muito perto mesmo de morrer naquele dia. Minhas tripas davam um nó.

O quarto escolhido para a missão, e como não poderia deixar de ser, foi a casa da família Santiago. Nessa altura, já era umas duas horas da manhã. O silencio na rua Meira Brandão era total. O dispositivo ecoou por toda a Praça Augusto Leite. Dessa vez, curiosamente, não ficamos pra ver quem saiu na rua.

Por fim, fomos na casa de Sérgio Coutinho. Nesse alvo a operação foi fantástica, digna de um soldado do IRA. Resolvemos inovar e colocar a bomba dentro do carteiro. Como ela era tão grande e não passava pela portinhola, tivemos que fazer malabarismos para colocar por dentro do muro. Isso sem falar que Bruma, a Rotweiller não dava sossego.

Conseguimos colocar por dentro do muro, uma vez que a caixa do correio não estava fechada a chave e acendemos. Fomos pra esquina e apagamos as luzes do carro. Quando a bomba estourou, alem de fazer com que o carteiro voasse longe em pedaços, levou também fragmentos do muro, fazendo com que a casa de Sérgio tivesse sido literalmente atingida por um morteiro ou coisa do tipo.

Acho que devido ao isolamento dentro da caixa do carteiro, essa bomba foi de fato perigosa e barulhenta. Não acordou somente a família Coutinho. Os vizinhos da frente e do lado também foram pra rua pra saber o que estava acontecendo. Todos de pijama pensando se tratar da terceira guerra mundial. Devia ter uma aglomeração de pelo menos uns 10 curiosos.

E assim como a Família Leão, gritavam querendo saber quem tinha sido o autor de tal façanha. Ah, se eles fossem andando pro Gol branco de Márcio que estava na esquina. Iriam nos linchar, pois não iríamos conseguir nos mexer de tanto rir.

Monday, December 17, 2012

Sovaco de vala

Na minha época de farras, uma grande pedida era o Circo da Folia que armavam na Festa do Boi, no parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim. Em uma dessas farras, eu estava muitíssimo bem acompanhado. Em um carro estava Miguel Nasser (Miguel Varado) e eu. No outro, Jads Costa (Sovaco de Vala), Carlinhos Brandão Ramalho (Carlinhos Macaco) e Neto Brasil.

Naturalmente, com o dia já claro, estávamos retornando aos nossos lares. Como Sovaco de Vala não tinha condições de se manter em pé, Neto Brasil assume o volante do Santana vermelho de Sovaco e pediu para que nós fossemos o acompanhando ate a casa de Sovaco para pegar ele e Macaco.

O cidadão Sovaco estava deitado no banco da frente (o banco estava deitado) sem camisa e com os dois braços apoiando a cabeça. Como seu apelido se justifica, o sovaco do rapaz fedia de verdade. Irritado com a catinga que exalava do rapaz, Neto Brasil veio da Festa do Boi ate Morro Branco queimando todos os cabelos do sovaco de Jads, um por um, com um isqueiro. Era uma mão no volante e outra no isqueiro. Quando chegou ao seu destino, o Sovaco de Vala estava totalmente depilado. Melhor do que qualquer depiladora.

Sovaco de Vala morava no edifício Sainte-Etienne, ali no cruzamento da Rui Barbosa com a Nascimento de Castro. Neto falou com o porteiro e explicou a situação e ele nos deixou entrar pra levar Jads pro seu apartamento. Ninguém queria subir com o rapaz, com medo de levar bronca dos seus pais.

Foi ai que alguém teve a brilhante idéia. Quem já foi nesse prédio sabe que o estacionamento que não é embaixo dos edifícios fica bem no centro do complexo. E foi ali que Neto estacionou o carro. Eram umas 7:00 da manhã de um sábado.

Primeiro, tiraram a roupa de Sovaco de Vala por completo, deixando-o do jeito que veio ao mundo. Depois abriram as duas portas do carro e ligaram o som no volume máximo. Foi assim que deixaram o rapaz.

Ficamos sabendo depois que choveram ligações para o porteiro, pois as pessoas acordavam com o barulho e quando iam ver, encontravam um cidadão nu com as duas mão na cabeça e deitado tranqüilamente no banco da frente do seu automóvel, com as duas portas abertas, escutando “Praia de Iracema” nas alturas.

O porteiro foi correndo acordar o pai de Sovaco, que até hoje quer conhecer os indivíduos que participaram daquela operação com o filho dele.

Monday, December 3, 2012

O lobo mau e o motoboy

Sábado à noite, eu e meu amigo Luciano Berberick chegamos à casa do ilustre Flávio Santiago (Xingu) para pegá-lo pra tomar umas boas e tocar um pagode. Ao estacionar o carro, percebo um entregador de pizza abrindo o baú da moto e pegando uma pizza que iria ser entregue na casa da família Santiago.

Automaticamente me veio uma idéia. Falei pro entregador: “Quer ganhar cinco reais extra? Me empreste ai o seu capacete que eu vou fazer uma brincadeira com o meu tio. Não se preocupe, eu sou da família”.

Ele acreditou, me deu o capacete e se escondeu juntamente com Luciano. Olhei por cima do muro e seu Rui Santiago (pai de Tapuru, Xingu e Caixa) estava sem camisa, conversando alguma coisa com dona Zélia (a mãe desses três acima), em pé na varanda, olhando pra televisão dentro de casa.

Apertei na campainha e ele falou que já estava indo. Não esperei nem dois segundos, dei três fortes chutes no portão de alumínio e gritei: “Bora, porra!!! Você pensa que eu tenho a noite toda aqui?”

Ele se assustou e veio devagar, arrastando as sandálias. Então falou, abrindo metade do portão, pegando a pizza só com o braço pra fora: “Calma meu rapaz, eu tenho que pegar o dinheiro lá dentro.”

Eu disse, escondendo um pouco a minha cara no portão para não ser reconhecido: “Calma uma porra!!! Você pensa que sou seu empregado pra ficar esperando aqui a noite toda? Vamos logo senão eu quebro esse portão todinho aqui”.

Acredito que ele desconfiou de alguma coisa, mas como poderia alguém saber que ele havia pedido uma pizza? Só podia mesmo ser o cara da pizzaria que estava alterado.

Quando voltou, trouxe Xingu à tiracolo, que foi o portador do dinheiro. Entregando-me a grana, perguntou: “O que é que ta pegando aqui?” Eu falei olhando pra seu Rui: “Foi trazer o filhinho bombado, foi? Você acha que eu tenho medo desse monte de bomba?”

Xingu começou a se inchar e disse: “Esse bicho ta querendo dar alteração é?” Quando ele falou essa frase clássica dele, eu não agüentei e caí na gargalhada. Tirei o capacete e não teve preço a cara de espanto deles. Não tinham outra solução senão rir do meu golpe de mestre.

O entregador ficou pedindo desculpas e todo mundo ficou rindo. Xingu disse: “Papai, como tu não reconhecesse Fabiano?” Seu Rui disse: “Do mesmo jeito que você não reconheceu”. E a gente ria.

Falei que pelo teatro bem feito, eu merecia pelo menos um pedaço daquela pizza. Entramos ainda rindo quando nos deparamos com Dona Zélia, apreensiva olhando para saber o que tinha acontecido.

Quando seu Rui contou, ela ficou brava de verdade. Começou a me xingar, dizendo que seu Rui não era meu amigo e nem tinha a minha idade pra participar de minhas brincadeiras. Fiquei escutando calado a bronca que recebia. Quando olho pro lado, se escondendo atrás da pilastra, seu Rui se acabava de rir da minha situação.

Ele ficava fazendo o sinal de “se fudeu!!!” com as duas mãos e rindo. Como a bronca não parava, fui embora sem comer a pizza, ainda debaixo dos protestos de tão protetora esposa.

Pinel e a carona maldita

Mais um dia de domingo que fomos à noite para Ceará-Mirim. Estávamos bebendo durante o dia, eu, Humberto Grilo (Bebeto da Égua) e Marcelo Filho. Fomos os três no carro de Marcelo Filho. Não sei quando aconteceu, mas ele foi embora e nos deixou por lá.

Por azar, naquele dia, não tinha uma pessoa conhecida em Ceará-Mirim para nos trazer de volta pra Natal. Não tínhamos um tostão furado no bolso. Eu tinha somente um talão de cheques que de nada me adiantava naquela hora. Decidimos então nos sentar na calçada pra esperar o dia amanhecer, afinal, de dia conseguimos pensar melhor.

Eis que surge de repente um conhecido meu, Almeida Junior (Junior Pinel) e pergunta o que estou fazendo ali. Sem responder, pergunto se estão indo pra Natal e se podem dar uma carona pra mim e pra Bebeto. Com a resposta positiva, entramos no carro. Um dos maiores erros da minha vida.

O amigo de Pinel e dono do carro era um tal de Alexandre. Não me perguntem mais nada sobre ele pois eu não sei. Sei que seu carro naquela noite era um gol cinza escuro. Para dar inicio à nossa agonia, eles não pegam a BR que leva até Natal. Ao invés disso, começam a entrar mata adentro. Questiono o porque do caminho alternativo e escuto uma resposta bastante animadora: “Meu irmão, tu acha que esse carro tem documento? Tu acha que esse bicho tem carteira de motorista? Se a gente for pela BR podemos ficar presos na rodoviária, por isso vamos por dentro do mato mesmo!”

“Excelente”, pensei comigo mesmo. Quase no mesmo instante que me calo, surge em nossa frente uma casa na beira de uma estradinha daquelas de barro. E na frente dessa casa, encontra-se um cavalo selado, com arreio e tudo, amarrado em uma arvore, quase em frente à porta da frente dessa casa.

O motorista para o carro e Pinel corre pra desamarrar o cavalo, montando no mesmo e saindo de fininho. O motorista Alexandre achando pouco, corre pra chutar a porta do dono da casa. A porta era daquele tipo que se divide em dois, podendo abrir somente a metade de cima ou somente a metade de baixo, caso o dono prefira.

Ao correr e chutar a porta, a mesma cedeu, pois provavelmente a trava não era de material muito forte. Mas, devido à violência do chute, ele derrubaria até uma porta de concreto. Assim a porta se abre e o rapaz entra de casa adentro, caindo em cima da rede do proprietário, que dormia na sala.

Eu e Bebeto continuávamos sentados no banco de trás, sem acreditar no que estávamos vendo. O dono da casa sai correndo atrás do tal de Alexandre, que chega a tempo ao carro, e acelera, deixando o sujeito para trás. Eu não sabia ainda, mas esse seria um dos dias que mais tive medo na vida.

Olhei para trás e vi a cara de desespero do pobre homem quando olhou pra arvore e não viu seu cavalo. Angustiado, começou a correr atrás do carro, gritando. Há mais ou menos 1km da casa, o cavalou parou e não queria andar nem a pau. Pinel então desceu do bicho e estava tentando tirar a sela quando chegamos. Entrou no carro correndo, com a sela no colo, novamente à tempo do cara não pegá-lo.

Nunca mais esqueço da cara do pobre homem que acabara de perder sua sela, talvez um dos bens mais preciosos que possuía.

Achando pouco, a cada 100 metros que rodávamos, o motorista dava um cavalo de pau. Fomos sair dessas estradas de barro com o dia já amanhecendo, lá pelos lados do setor industrial de Extremoz. As pistas estavam em obras, de maneira que os carros que iam se encontravam com os que vinham, sem ter aquele canteiro central separando as duas pistas.

Ao longe, avistei um ônibus da Guanabara. O tal do Alexandre disse então: “Eu quero ver se esse motorista desse ônibus é macho mesmo! Vou colocar o carro por cima dele pra ver se desvia pro lado ou se bate na gente”.

Nessa hora eu comecei a berrar: “Filha da puta, não faça isso! A gente vai morrer aqui nessa merda, por causa de imbecilidade”. O imbecil não quis conversa e como um kamikaze, mirou o carro de frente com a porra do ônibus. Bebeto dizia, desesperado e batendo no meu braço sem parar: “Das cachorras, ele não vai parar não, estamos fudidos”.Quando chegou bem próximo do ônibus, certo que íamos morrer, fechei os olhos e me preparei pra minha entrada no inferno, afinal o tal do Alexandre ia pra lá com certeza e como eu estava de carona com ele...

No ultimo segundo possível, o motorista do ônibus, talvez com pena de mim que nada tinha a ver com o basquete, joga o ônibus pra cima da calçada, subindo o canteiro e quase virando de lado. Pelo menos quando abri os olhos e olhei pra trás, o ônibus tinha metade das rodas em cima da calçada e metade embaixo e o motorista tentando controlar o veiculo.

Em vez de se conformarem com a sorte, esse fato fez com que os dois bosteiros ganhassem ainda mais coragem. Ao chegarmos na Avenida Tomaz Landin, encontramos uma grande parada de ônibus, que devia reunir no mínimo umas 100 pessoas, que esperavam o transporte para irem pro trabalho, afinal era segunda-feira de manhã.

O endiabrado motorista do gol cinza anuncia: “Vou dar um cavalo de pau no meio dessa gente e não vai ficar um só pra contar a historia!”.

Dito e feito. Botou o carro por cima dos pobres trabalhadores e apertou na buzina sem soltar, o que felizmente alertou-os e todos saíram correndo pra onde podiam, uns pulando no chão, outros subindo na parada. Por outro ato de extrema sorte, ele não machucou ninguém, a não ser talvez com arranhões das quedas, mas não por danos causados pelo carro em si.

Quando o carro parou no fim do cavalo de pau, fiz minha primeira tentativa de fugir. Forcei o banco do carona pra frente, porem o mesmo não ia, pois alem de Pinel fazer força contraria, a sela que estava no colo dele não permitia que eu movesse o banco. E nesse curto tempo, o tal do Alexandre acelerou novamente.

Chegando na Ponte de Igapó, Pinel se cansa e lança a sela do pobre coitado no Rio Potengi, fazendo com que o bem mais caro do sujeito da casinha fosse literalmente de água abaixo.

A agonia continuou ate o sinal da quinze (Bernardo Vieira com Hermes da Fonseca). O carro ficou parado no sinal e não tinha como sair, e como já não tinha mais a sela, forcei minha passagem e consegui sair do carro. Bebeto não conseguiu e foi com ele ate em casa.

Eu posso dizer que aqueles trinta minutos de caminhada que separam esse cruzamento da minha casa foram os minutos mais gostosos da minha vida. O alivio era tão grande que mesmo depois de um domingo de farra e uma noite bastante cansativa e horrenda, caminhar pelas minhas próprias pernas, com a certeza absoluta que nada me aconteceria, me fez chegar em casa cantando, dando bom dia aos passarinhos e aos felizes transeuntes que iam pras suas aulas e trabalhos.

Sorte e azar

Novamente sábado à noite e eu, Sérgio Coutinho (Boy), Humberto Grilo (Bebeto da égua) e George Meira Lima (O Doido) decidimos ir para uma festa em Pedro Velho, na região onde a família do Doido tem fazenda (mal assombrada). Já estávamos os quatro na camionete do Doido quando resolvemos passar na casa da namorada de Bruno da Cunha Lima (Operário Padrão) para botar o homem no caminho da perdição.

Inventamos uma emergência, que foi prontamente acreditada pela namorada do Operário e juntamente com ele, partimos pro nosso destino. Chegando à cidade, obviamente fomos diretamente a um bar. Nesse recinto, dois sujeitos locais não gostaram de nos ver brincando, contando piadas e queriam brigar com nós cinco. É brincadeira?

Falaram, falaram e nós ficamos quietos, pois por sorte deles não estávamos no clima pra briga naquele dia. Os sujeitos reclamavam que havíamos contado uma piada que continha palavrões e que aquilo ali era um ambiente familiar. Eu achava engraçado, pois as mesas do bar estavam na calçada e não tinha ninguém no bar alem de nós sete.

Pra acabar com o clima chato, falei pra eles: “Meus amigos, tudo bem, eu falei palavrão e agora peço desculpas!!!” Disse isso no intuito deles irem embora e que nós continuássemos a brincadeira em paz.

Quando eu me calei, O Doido, que já tinha uma garrafa de coca-cola nas mãos, levanta-se segurando a mesma pelo gargalo e grita: “Cachorra, desculpas não!!! Esses frescos fiquem felizes que não arrombo a boca deles com essa garrafa, mas desculpas não, nós não fizemos nada!!!”

Os caras saíram de fininho e nós, por vias das duvidas, fomos logo pra festa, que era da padroeira da cidade e localizada no meio da rua. Ao chegar na festa, cada folião arranja uma menina pra dançar e tudo parecia bem ate que observo uma pessoa conversando com Bruno e pouco tempo depois, ele sai cabisbaixo e me diz: “Puta que pariu, a empregada da casa da minha namorada me viu aqui, estou fudido, vamos sair dessa porra!!!”

Era o cumulo do azar. Acompanhei o nosso amigo ate outro bar e começamos a descer umas cervejas, comer uma galinha cabidela e reclamar da vida. Eis que a dona do bar aparece, senta à nossa mesa e começa a conversar com a gente. O tema central da conversa era um gato que ela tinha, que dizia ser o xodó dela, que o bicho era inteligente e coisa e tal. Eu já não agüentava mais, ainda mais porque gatos não fazem parte da minha lista de brinquedos prediletos.

Quando já estava perto de irmos embora, pagamos a conta e ficamos ali terminando a cerveja. A dona do bar se distraiu e o gato ficou me olhando, me secando, o puto. Bruno não acreditou quando eu comecei a chamar o gato, oferecendo pedaços da galinha cabidela. Quando o bicho chegou bem perto da minha mão, com a cara de “pidão”, eu dei um chute tão grande na cabeça do felino que o mesmo foi parar no meio da rua. Eu estava de botas.

O pessoal da mesa vizinha viu a cena e foi denunciar à dona do bar. Eu mandei Bruno correr e o mesmo não conseguia, devido à crise de riso por causa da desgraça do gato. Fui embora na frente, nos encontramos no carro do Doido e ficamos esperando pelo resto dos caras, sentados no chão, escorados em um poste.

O Doido não tinha mais condições de dirigir e então Sergio Boy assume a direção. Bruno senta no banco da frente, pois estava passando mal e poderia vomitar a qualquer hora. E não demorou muito. Pediu pra Sérgio parar em um posto de gasolina na estrada e vomitou.

Durante essa parada, um policial militar encosta e pergunta pra onde estávamos indo. Respondemos que para Natal e o mesmo pede uma carona. Imaginem ai a cena: cinco sujeitos bêbados dentro de um carro, já amanhecendo, acompanhados de um policial militar, todo fardado, com boina e tudo.

Ele sentou-se no banco da frente, entre Sérgio e Bruno. George estava sentado atrás de Sérgio, eu estava no meio e atrás do soldado e Bebeto atrás de Bruno. Até então, George estava dormindo, sem camisa e roncando, com a queixo apoiado no peito. Aliás, eu tinha certeza que ele estava dormindo.

Quando menos espero, o Doido dá uma tapa tão forte na cabeça do soldado que a boina dele cai nos pés e o estalo seco da pancada ecoou no carro. Ato contínuo, ele faz que está dormindo novamente. E pra quem o soldado olha puto? Obviamente que para mim, ate porque eu não conseguia parar de rir com o golpe tão certeiro.

O soldado disse: “Meu irmão, que brincadeira é essa? Você ta doido?” E eu sem conseguir parar de rir, respondi: “Meu amigo, não foi eu não. Foi ele.” E apontei pra George, que fingia roncar. “Ele um caralho. Não se faça de doido não, porra”, disse o raivoso soldado. Bebeto chegava a rinchar de tanto rir, o que aumentava ainda mais a raiva do militar, que estava em tempo de pegar seu revolver e matar todo mundo dentro do carro.

Pra encurtar a conversa, o soldado levou mais umas dez tapas de cada um dos passageiros do banco de trás, seguidas de gargalhadas que deixavam o homem doido. Ele já estava mesmo se revoltando de verdade quando Bruno pede pra vomitar novamente em São Jose do Mipibu. O policial desce do carro, esculhambando todo mundo e recusa-se a seguir viagem conosco.

Quando chegamos ao viaduto sobre a BR 101 que vai dar na estrada de Ponta Negra, houve uma rápida votação e os elementos do banco de trás ganharam, pois éramos maior numero e fomos tomar caldo de camarão com cerveja nas barracas de Ponta Negra, pra terminar a noitada.

Lá pelas oito da manha, decidimos ir embora de Ponta Negra. O Doido disse que iria dirigindo e encontrou forte oposição de Sérgio à essa idéia. Acho que Sérgio estava gostando de ser o motorista do bonde. O Doido então pegou a chave das mãos de Sérgio e sentou-se no banco do motorista. Sérgio, de birra, sentou-se em cima do capô do carro e disse: “Quero ver você ir embora comigo aqui!”

O doido não contou conversa e quando vimos aquela cena, não pudemos deixar de gargalhar. Sergio em cima do capô, deitado de barriga pra baixo, sem camisa, somente agarrado pelos limpadores de para brisa, dançando de um lado pro outro, em tempo de cair. Acreditem, o doido só foi parar o carro pra Sérgio entrar quando já estávamos no meio da estrada de Ponta Negra, voltando pra casa. E isso porque a cara de medo de Sérgio já estava dando medo em nós mesmos.

E nossos heróis mais uma vez chegaram em casa sãos e salvos.