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Monday, April 29, 2013

Nocaute em Vitória

O segundo e ultimo ENEAD que participei teve lugar em Vitória do Espírito Santo, maravilhosa ilha do sudeste brasileiro. Tudo ocorria perfeitamente bem, se é que podemos dizer que algo corre perfeitamente bem em um ENEAD.

Preparamos um churrasco no gramado que existia do lado de fora do nosso alojamento. A bebedeira começou lá pelas onze da manhã. Quando o relógio já marcava sete da noite, e com o teor alcoólico bem elevado, começa-se alguns casos de memórias amorosas.

Nesse sentido, o meu amigo Vaguinho contava-se de um caso que ele tinha com uma menina desde que era adolescente, coisa e tal, ainda quando morava no Rio de Janeiro. Como o assunto era mais delicado, nos distanciamos dos demais e fomos beber embaixo de um poste de luz, do outro lado do jardim.

Conversa vai, conversa vem, minha cerveja acaba. Eu grito pra Robson me jogar outra latinha. Ele pergunta se eu tenho certeza e eu digo que sim, que jogue logo essa porra.

E ele o fez. A trajetória da lata pode ser descrita como um arco. Ele jogou a lata pra cima, pra que quando estivesse caindo, chegasse às minhas mãos. Mas quando olhei pra cima, fiquei cego devido a luz do poste e a latinha fechada foi de encontro justamente à minha boca. Foi nocaute instantâneo. Cai e todos correram pra ver o estrago.

Pra dar uma de bichão, eu me levantei, ainda grogue, e disse que estava tudo bem, que nada demais havia ocorrido. Foi quando observei a careta de espanto que Vaguinho fez ao olhar pra minha cara. Olhei então pra minha camisa, que era branca, e estava vermelha. Passei a mão na boca e o lábio superior agora eram dois.

Comecei a entrar então em desespero. Vaguinho me pega pelo braço e me leva pro ambulatório. Os enfermeiros de lá fizeram a mesma cara de nojo. Disseram que eu tinha que ir pro hospital, que ali eles não eram capazes de dar pontos. Deram então um ponto frio (juntaram um corte e colocaram uma espécie de esparadrapo) e mandaram chamar alguém da organização pra me levar pro hospital.

Arranjaram-me um sujeito chamado Luciano, que estava muito doido de maconha. Entramos no seu corsa vinho e o bicho mandou os pés. Passava sem parar em qualquer quebra-mola, o que fazia minha dor aumentar umas dez vezes a cada paulada.

Disse a ele que fosse devagar nos quebra-molas, que eu podia agüentar a dor da espera, mas não a dor do solavanco. Foi inútil. Ele não escutava, estava muito doido pra isso. Mandei então ele se fuder e ficava em pé a cada quebra-mola, no banco de trás, pra tentar suavizar o impacto.

Chegando no hospital, Vaguinho quase quebra tudo, esculhambando o estudante plantonista pois o mesmo me mandou ir pro final da fila e na fila tinha umas 15 pessoas, com problemas menores. O maconheiro que nos acompanha apenas assistia calado ao espetáculo. Resolvemos voltar ao campus, e novamente lá vai quebra-mola pela frente.

Uma vez de volta à UFES, eu queria matar o puto. Foi ai que encontramos a minha salvação. Como se diz, esperança vem em várias formas. Ela era uma das chefas da organização, chamava-se Mariana e por sorte, o pai dela era o diretor do hospital público em que estive, uma espécie de Walfredo Gurgel. O detalhe era que eu tinha um plano de saúde da Hapvida que não era aceito em Vitória.

Quando soube do ocorrido e tentando mostrar que era “a poderosa” muito mais do que me ajudar, ela agarra no celular e telefona pro pai imediatamente, ordenando que o mesmo fosse pro hospital, que ele em pessoa iria dar os pontos na minha boca, que não parava de sangrar.

Lá vamos nós pro corsa vinho de novo e tome quebra-molas novamente. Dessa vez Vaguinho ia atrás comigo, pois a jovem ia na frente com o Luciano. A menina ia se segurando onde podia, mas não pedia pro cara ir devagar, o que me fez acreditar quer aquilo só podia ser putaria.

Dito e feito. O pai dela chega e já tem uma sala pronta pros procedimentos. O detalhe era que ele era vascaíno e ao saber que eu era flamenguista, já me ameaçou de deixar uma cicatriz à la frankstein. Tudo era brincadeira, e no final das contas, ele fez um excelente serviço e a Mariana já estava mais calma e também parecia uma pessoa boa.

Quando fomos nos despedir do médico já no estacionamento, Vaguinho fez questão de lembrar ao médico:

- A propósito, viemos aqui antes e tentamos ser atendidos, mas um filha da puta careca, estudante de medicina, foi muito grosso conosco e disse que a gente esperasse que talvez na manha seguinte pudéssemos ser atendidos, mesmo a gente dizendo que éramos amigos da Mariana e que estávamos no congresso de estudantes de administração, o que evidentemente era mentira, pois não mencionamos o nome de Mariana, pois nem sabíamos da existência dela no começo.

O médico ficou injuriado com o descaso para conosco e para com a sua filha e conseqüentemente com ele e disse que iria tomar as providencias dele, que o mencionado estudante estava em condições precárias de notas e que ele daria um jeito pra ele pagar a sua disciplina novamente, uma vez que o diretor também ensinava na faculdade de medicina.

E fomos pra casa satisfeitos, eu com a boca costurada e Vaguinho com a alma lavada, de saber que o abusado estudante teria que ter mais alguns meses vendo a cara do professor novamente.

Thursday, April 25, 2013

O gol virado

Como havia dito anteriormente, Marcio Careca tornou-se alvo das brincadeiras sem noção de Alberto. Quando o Careca comprou um gol branco zero kilometro, evidente ficou muito orgulhoso de sua aquisição. E cuidava muito bem do carro, como deve ser feito, lavando a viatura de manhã, de tarde e de noite.

Alberto sabendo do zelo do crioulo com o carro e num desejo continuo de zoar com a cara do Careca, coloca um anuncio nos classificados do Diário de Natal, no sábado, que dizia que o senhor Marcio tinha um gol pra vender, seminovo, mas que havia sido virado e o valor do mesmo era mais ou menos de uns 10% do valor que Marcio havia pago poucas semanas antes. E colocava o numero do celular de Marcio pra maiores informações.

Eu estava no carro com Marcio, vindo pela Prudente de Morais, sentido Candelária-Lagoa Nova, mas na verdade estávamos indo pra Rodoviária, onde Marcio tinha uma lanchonete.

Pra isso, estávamos parados na Prudente com a rua da rodoviária, ali onde fica o cartodromo, com a intenção de virar a esquerda e seguir até a rodoviária. Foi quando Marcio recebeu a primeira ligação. O sujeito indagou sobre o carro e eu só escutei Márcio falando:

- Amigo, você deve está ligando pro número errado. Por acaso eu até tenho um gol, mas ele nunca foi virado, não. Certo. Tchau.

Quando estávamos parando o carro na Rodoviária, veio a segunda ligação. E veio a terceira. Na quarta, ele finalmente se enfezou:

- Meu amigo, que historia de carro virado é essa? Onde você conseguiu o meu numero de telefone? Diário de Natal? Vai tomar no cu, porra. Aqui não tem carro virado nenhum. Virado é o meu ovo.

E nas ligações seguintes, ele já atendia mandando o cara tomar no cu. Parou numa banca e comprou o jornal pra verificar os classificados. Constatando que de fato seu numero de telefone estava ali, automaticamente liga pra Alberto, pois sabendo que era o único que tinha dinheiro sobrando pra gastar com esse tipo de bobagem.

Escutando a risada de rapariga de Alberto, começou sua vingança, que consistia em minar a credibilidade do rapaz em todos os cantos que chegava, sem alarde, bem no estilo Márcio Careca. Devido a isso, nessa época, sem Alberto saber, qualquer coisa contada por ele tinha menos credibilidade do que um menino de dois anos.

Acredito que por causa de Márcio, quando Alberto dava bom dia, o povo olhava pro céu pra conferir se era dia mesmo e até hoje há quem acredite que Alberto nunca falou algo que fosse verdadeiro na vida.

Wednesday, April 24, 2013

A faixa na praça

Sem sombra de dúvidas, o cara mais sem noção quando se trata de brincadeiras se chama Alberto Campos, o nosso Jacaré. Ele não se contenta em fazer uma brincadeira que permaneça no nosso circulo de amizade. Ele quer que ela chegue à nível municipal, estadual e quiçá, federal, como foi no caso da Pegadinha do Mução, que armou pra mim.

Seguindo essa linha de raciocínio, um dos seus alvos prediletos foi o ilustre Marcio Robério, também conhecido como Marcio Coveiro e Marcio Careca, dependendo de quem seja o interlocutor.

Como era sabido por todos, Marcio era apaixonado por uma menina de nome Andréia, cujo sobrenome irei ocultar por motivos óbvios, deixando somente os mais íntimos por dentro.

O curioso foi que na época do plano de Alberto, Marcio já devia ter acabado o relacionamento com a menina ha uns quatro anos, pelo menos. O safado mandou confeccionar uma faixa enorme, que dizia: “Andréia Fulano, nunca deixe de te amar, do seu eterno Marcio Robério”.

Outro detalhe que aumentou bastante a adrenalina da brincadeira era que a menina estava com casamento marcado. Alberto arranjou para que a faixa fosse colocada na praça Pedro Velho, aquela do Palácio dos Esportes, de maneira que quem fosse pra dar uma volta na Praia do Meio[1] pudesse ver o conteúdo da faixa.

Fez isso e calmamente procurou saber onde estávamos bebendo, pois dia de sábado após o meio dia não tinha ninguém mais com intenção de permanecer sóbrio na cidade. Descobriu que estávamos na picanha do Quebra-osso, que na época era situada na Xavier da Silveira com a rua da Saudade, em Morro Branco.

Chegando lá, Alberto espera uma ida de Marcio ao banheiro sopra no meu ouvido disfarçadamente a historia, pros outros componentes da mesa não ficarem sabendo. Ele diz que vai ligar pro meu celular e que eu deveria simular que era alguém me ligando, contando que viu tal faixa.

Dito e feito. O meu telefone toca e eu finjo estar falando com alguém. E começo o teatro, falando em voz um pouco mais alta.

- O que? Marcio Careca fez isso? Ele disse que não tava nem ai pra essa menina mais. Meu irmão, estou besta aqui.

Márcio começa a fazer aquele gesto conhecido dele, de enxugar a cara com a mão aberta, começando na testa e chegando até o pescoço, e pergunta:

- Eu fiz o que, Cachorra? Quem ta falando ai? Que merda é essa?

Fiz sinal pra ele se acalmar e disse que estava pegando mais detalhes. Quando desliguei, o homem já estava colocando o coração pela boca. E contei-lhe, o que supostamente havia acabado de saber.

Falei que ele era um palhaço, que vivia alegando que não gostava mais dessa Andréia, mas no entanto, havia mandado fazer uma faixa pra ela. O bicho ficou branco.

- Que faixa é essa? Que porra de faixa é essa? Meu irmão, isso é presepada sua, Betão? Ele cantou logo a pedra, perguntando a Alberto.

Alberto negava, mas negava rindo feito uma puta ruim. E ainda sentenciou pra Márcio:

- Rapaz, se eu fosse você, eu me preparava, pois o noivo dela vai te dar um pau. Natal é um ovo e uma hora dessas, ele já deve estar sabendo com certeza.

Marcio Careca se levantou apressado e disse:

- Eu não quero nem saber quem colocou essa merda, eu vou é lá arrancar essa merda antes que ela me ligue, me esculhambando. Mas quem colocou essa porra não fui eu, eu juro.

Saiu em disparada pra Petrópolis. Nesse momento, Alberto faz seus contatos e pede pra arrancarem a faixa, antes que Marcio chegue ao local.

Depois de uma hora, o Careca volta ao Quebra-osso. E aí que reside o mistério dessa historia. Alberto alega que retirou a faixa antes do Careca chegar lá e deu um fim a mesma. Marcio alega que quando chegou ao local, retirou a faixa e tocou fogo. Como ninguém nunca viu a faixa, fica a palavra de um mentiroso contra o outro.

Se nunca existiu a tal faixa, o golpe foi mais perfeito ainda, pois causou o mesmo efeito na vitima sem o arquiteto do plano gastar nem um tostão. Esse era o grande Jacaré, antes de se tornar cubano e gastar seu tempo aprontando em outras paragens.

[1] Nessa época, era programa comum dos jovens dar um passeio pela orla na parte da tarde.

Tuesday, April 23, 2013

Patropi

Patropi era um professor de desenho técnico que tivemos no quarto período. Seu nome era Davi, mas ele era o retrato cagado e cuspido daquele personagem Patropi, da Escolinha do Professor Raimundo. Os óculos, a bolsa, as roupas, a barba, o cabelo. Eram clones.

Ele ensinava nesse bimestre, geometria analítica ou descritiva, não sei ao certo, só sei que é aquela que tem que rebater o primeiro diedro no terceiro diedro e o segundo no quarto, qualquer coisa assim. Não posso precisar.

Nem preciso dizer que o meu conhecimento era zero, e que eu dependia novamente da ajuda caridosa de alguém. O escolhido foi Ronildo, um sujeito carrancudo que estudava conosco, mas que era bem esforçado.

Sentei-me ao seu lado e esperei ele terminar a primeira questão pra começar a fazer o meu trabalho de cópia. Ao esticar a vista pra prova de Ronildo, percebi que o professor não tirava os olhos da minha pessoa. Ele olhava fixamente pra minha cara e escrevia alguma coisa em um pedaço de papel.

Comecei a me inquietar quando isso ficou insistente. Observei o outro lado da sala, as pessoas ficavam em pé, pra copiar a questão de quem sabia mais. E o professor olhando fixamente pras minhas fuças.

Parecia uma feira. Um gritava, “me passa aí a segunda”, outro dizia “me passa aí a quarta” e eu sem sair do lugar. Foi me dando um desespero tão grande, que simplesmente desisti. Coloquei a caneta em cima do papel e esperei o tempo acabar, encarando o filha da puta de volta, com os braços cruzados.

Praticamente ficaram somente eu e ele na sala. Todo mundo comemorava a nota máxima no corredor, devido à falta de vigilância do professor, que até o ultimo minuto de aula não tirava os olhos de mim.

Quando tocou o sino indicando o fim da aula, fui lá e numa atitude de “você venceu, seu galado”, entreguei a prova em branco. Ele me disse:

- Rapaz, tu se parece demais com um amigo meu. Quando eu vi, não acreditei tamanha semelhança. Aproveitei, e fiz um desenho do seu rosto. Diga-me se gostou?

À vontade de mandar ele enfiar o desenho em algum lugar escuro não era pequena. Mas mesmo assim, elogiei a arte e fui embora puto, contar a minha falta de sorte aos demais.

Ao sair da sala, ele piscou o olho pra mim e disse que da
próxima vez não iria me desenhar mais e eu poderia recuperar a minha nota. E assim foi feito. Passei na conta, no final das contas.

Monday, April 22, 2013

Chico Bola e a cola


Meu querido amigo Chico Bola é uma das figuras mais engraçadas que conheço. Já havia terminado o segundo grau e nao sei porque cargas d’água estava fazendo de novo. Mas o fato é que ele sabia muito sobre matemática e sempre ajuda aos mais necessitados.

Se não me engano no terceiro período, estudamos com o grande professor de matemática Antonio Roberto, grande incentivador dos alunos sobre as olimpíadas de matemática. Roberto iria aplicar prova sobre produtos notáveis, e Chico Bola dizia que esse tema era muito fácil e que na linguagem dele, era “chocolate”. Mas pra mim estava mais pra fezes.

Ficou acertado que Chico iria sentar-se na minha frente, iria fazer a prova, copiar tudo em um papel e passar pra mim antes de entregar ao professor. Chico acabou a prova em quinze minutos, mas antes de começar a copiar as respostas num papel, Roberto passa ao seu lado e Chico pra se mostrar, mostra a prova a Roberto, perguntando se estão todas certas.

Roberto passa a vista e sem dar reação a Chico, diz:

- Acertou todas, nota dez. Me dê logo essa prova aqui.

E tomou a prova das mãos do fresco do Chico Bola. Ele insistiu que ainda precisava acertar algumas coisas, mas Roberto foi firme e disse que ele não precisava ajeitar nada, que era dez e pronto.

Eu só não matei o filha da puta do Chico ali mesmo pois não tinha uma arma. Ele disse-me para não me preocupar, que ele se lembrava das questões e iria me mandar.

No corredor, refez a prova inteira e foi na porta da sala e pediu pra uma menina que sentava na primeira cadeira para que passasse esse papel pra um cara de óculos, que estava logo atrás dela.

Eu esperei mais de uma hora pela ajuda de Chico, que não chegou. Entreguei a prova quase em branco, o que estava nela eram apenas desenhos que rabisquei no papel.

Saí da sala puto, procurando Chico. Quando o encontro, pra minha surpresa, ele me pergunta, todo sorridente:

- E aí, fácil demais não era não?

- Fácil demais, um caralho, Chico!!! Cadê a porra da cola que tu disse que iria me dar?, perguntei indignado.


- Rapaz, eu refiz a prova inteira e passei pra aquela menina te dar. Mandei ela dar pra aquele cara de óculos, se explicou Chico.

Nesse momento chega um sujeito que estava sentado na minha frente, dizendo que uma alma caridosa mandou uma menina entregar todas as questões da prova pra ele, e que se não fosse essas questões, ele iria tirar um zero.

E o filha da puta usava óculos.