
Ele ensinava nesse bimestre, geometria analítica ou descritiva, não sei ao certo, só sei que é aquela que tem que rebater o primeiro diedro no terceiro diedro e o segundo no quarto, qualquer coisa assim. Não posso precisar.
Nem preciso dizer que o meu conhecimento era zero, e que eu dependia novamente da ajuda caridosa de alguém. O escolhido foi Ronildo, um sujeito carrancudo que estudava conosco, mas que era bem esforçado.
Sentei-me ao seu lado e esperei ele terminar a primeira questão pra começar a fazer o meu trabalho de cópia. Ao esticar a vista pra prova de Ronildo, percebi que o professor não tirava os olhos da minha pessoa. Ele olhava fixamente pra minha cara e escrevia alguma coisa em um pedaço de papel.
Comecei a me inquietar quando isso ficou insistente. Observei o outro lado da sala, as pessoas ficavam em pé, pra copiar a questão de quem sabia mais. E o professor olhando fixamente pras minhas fuças.
Parecia uma feira. Um gritava, “me passa aí a segunda”, outro dizia “me passa aí a quarta” e eu sem sair do lugar. Foi me dando um desespero tão grande, que simplesmente desisti. Coloquei a caneta em cima do papel e esperei o tempo acabar, encarando o filha da puta de volta, com os braços cruzados.
Praticamente ficaram somente eu e ele na sala. Todo mundo comemorava a nota máxima no corredor, devido à falta de vigilância do professor, que até o ultimo minuto de aula não tirava os olhos de mim.
Quando tocou o sino indicando o fim da aula, fui lá e numa atitude de “você venceu, seu galado”, entreguei a prova em branco. Ele me disse:
- Rapaz, tu se parece demais com um amigo meu. Quando eu vi, não acreditei tamanha semelhança. Aproveitei, e fiz um desenho do seu rosto. Diga-me se gostou?
À vontade de mandar ele enfiar o desenho em algum lugar escuro não era pequena. Mas mesmo assim, elogiei a arte e fui embora puto, contar a minha falta de sorte aos demais.
Ao sair da sala, ele piscou o olho pra mim e disse que da
próxima vez não iria me desenhar mais e eu poderia recuperar a minha nota. E assim foi feito. Passei na conta, no final das contas.
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