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Monday, December 3, 2012

Pinel e a carona maldita

Mais um dia de domingo que fomos à noite para Ceará-Mirim. Estávamos bebendo durante o dia, eu, Humberto Grilo (Bebeto da Égua) e Marcelo Filho. Fomos os três no carro de Marcelo Filho. Não sei quando aconteceu, mas ele foi embora e nos deixou por lá.

Por azar, naquele dia, não tinha uma pessoa conhecida em Ceará-Mirim para nos trazer de volta pra Natal. Não tínhamos um tostão furado no bolso. Eu tinha somente um talão de cheques que de nada me adiantava naquela hora. Decidimos então nos sentar na calçada pra esperar o dia amanhecer, afinal, de dia conseguimos pensar melhor.

Eis que surge de repente um conhecido meu, Almeida Junior (Junior Pinel) e pergunta o que estou fazendo ali. Sem responder, pergunto se estão indo pra Natal e se podem dar uma carona pra mim e pra Bebeto. Com a resposta positiva, entramos no carro. Um dos maiores erros da minha vida.

O amigo de Pinel e dono do carro era um tal de Alexandre. Não me perguntem mais nada sobre ele pois eu não sei. Sei que seu carro naquela noite era um gol cinza escuro. Para dar inicio à nossa agonia, eles não pegam a BR que leva até Natal. Ao invés disso, começam a entrar mata adentro. Questiono o porque do caminho alternativo e escuto uma resposta bastante animadora: “Meu irmão, tu acha que esse carro tem documento? Tu acha que esse bicho tem carteira de motorista? Se a gente for pela BR podemos ficar presos na rodoviária, por isso vamos por dentro do mato mesmo!”

“Excelente”, pensei comigo mesmo. Quase no mesmo instante que me calo, surge em nossa frente uma casa na beira de uma estradinha daquelas de barro. E na frente dessa casa, encontra-se um cavalo selado, com arreio e tudo, amarrado em uma arvore, quase em frente à porta da frente dessa casa.

O motorista para o carro e Pinel corre pra desamarrar o cavalo, montando no mesmo e saindo de fininho. O motorista Alexandre achando pouco, corre pra chutar a porta do dono da casa. A porta era daquele tipo que se divide em dois, podendo abrir somente a metade de cima ou somente a metade de baixo, caso o dono prefira.

Ao correr e chutar a porta, a mesma cedeu, pois provavelmente a trava não era de material muito forte. Mas, devido à violência do chute, ele derrubaria até uma porta de concreto. Assim a porta se abre e o rapaz entra de casa adentro, caindo em cima da rede do proprietário, que dormia na sala.

Eu e Bebeto continuávamos sentados no banco de trás, sem acreditar no que estávamos vendo. O dono da casa sai correndo atrás do tal de Alexandre, que chega a tempo ao carro, e acelera, deixando o sujeito para trás. Eu não sabia ainda, mas esse seria um dos dias que mais tive medo na vida.

Olhei para trás e vi a cara de desespero do pobre homem quando olhou pra arvore e não viu seu cavalo. Angustiado, começou a correr atrás do carro, gritando. Há mais ou menos 1km da casa, o cavalou parou e não queria andar nem a pau. Pinel então desceu do bicho e estava tentando tirar a sela quando chegamos. Entrou no carro correndo, com a sela no colo, novamente à tempo do cara não pegá-lo.

Nunca mais esqueço da cara do pobre homem que acabara de perder sua sela, talvez um dos bens mais preciosos que possuía.

Achando pouco, a cada 100 metros que rodávamos, o motorista dava um cavalo de pau. Fomos sair dessas estradas de barro com o dia já amanhecendo, lá pelos lados do setor industrial de Extremoz. As pistas estavam em obras, de maneira que os carros que iam se encontravam com os que vinham, sem ter aquele canteiro central separando as duas pistas.

Ao longe, avistei um ônibus da Guanabara. O tal do Alexandre disse então: “Eu quero ver se esse motorista desse ônibus é macho mesmo! Vou colocar o carro por cima dele pra ver se desvia pro lado ou se bate na gente”.

Nessa hora eu comecei a berrar: “Filha da puta, não faça isso! A gente vai morrer aqui nessa merda, por causa de imbecilidade”. O imbecil não quis conversa e como um kamikaze, mirou o carro de frente com a porra do ônibus. Bebeto dizia, desesperado e batendo no meu braço sem parar: “Das cachorras, ele não vai parar não, estamos fudidos”.Quando chegou bem próximo do ônibus, certo que íamos morrer, fechei os olhos e me preparei pra minha entrada no inferno, afinal o tal do Alexandre ia pra lá com certeza e como eu estava de carona com ele...

No ultimo segundo possível, o motorista do ônibus, talvez com pena de mim que nada tinha a ver com o basquete, joga o ônibus pra cima da calçada, subindo o canteiro e quase virando de lado. Pelo menos quando abri os olhos e olhei pra trás, o ônibus tinha metade das rodas em cima da calçada e metade embaixo e o motorista tentando controlar o veiculo.

Em vez de se conformarem com a sorte, esse fato fez com que os dois bosteiros ganhassem ainda mais coragem. Ao chegarmos na Avenida Tomaz Landin, encontramos uma grande parada de ônibus, que devia reunir no mínimo umas 100 pessoas, que esperavam o transporte para irem pro trabalho, afinal era segunda-feira de manhã.

O endiabrado motorista do gol cinza anuncia: “Vou dar um cavalo de pau no meio dessa gente e não vai ficar um só pra contar a historia!”.

Dito e feito. Botou o carro por cima dos pobres trabalhadores e apertou na buzina sem soltar, o que felizmente alertou-os e todos saíram correndo pra onde podiam, uns pulando no chão, outros subindo na parada. Por outro ato de extrema sorte, ele não machucou ninguém, a não ser talvez com arranhões das quedas, mas não por danos causados pelo carro em si.

Quando o carro parou no fim do cavalo de pau, fiz minha primeira tentativa de fugir. Forcei o banco do carona pra frente, porem o mesmo não ia, pois alem de Pinel fazer força contraria, a sela que estava no colo dele não permitia que eu movesse o banco. E nesse curto tempo, o tal do Alexandre acelerou novamente.

Chegando na Ponte de Igapó, Pinel se cansa e lança a sela do pobre coitado no Rio Potengi, fazendo com que o bem mais caro do sujeito da casinha fosse literalmente de água abaixo.

A agonia continuou ate o sinal da quinze (Bernardo Vieira com Hermes da Fonseca). O carro ficou parado no sinal e não tinha como sair, e como já não tinha mais a sela, forcei minha passagem e consegui sair do carro. Bebeto não conseguiu e foi com ele ate em casa.

Eu posso dizer que aqueles trinta minutos de caminhada que separam esse cruzamento da minha casa foram os minutos mais gostosos da minha vida. O alivio era tão grande que mesmo depois de um domingo de farra e uma noite bastante cansativa e horrenda, caminhar pelas minhas próprias pernas, com a certeza absoluta que nada me aconteceria, me fez chegar em casa cantando, dando bom dia aos passarinhos e aos felizes transeuntes que iam pras suas aulas e trabalhos.

4 comments:

  1. Amigo vc não sabe o quanto seus "causos" me divertem... ao ponto dos que estão em volta de mim chamarem de doido ...concordo...o cara ficar rindo na frente de um computador é coisa de doido mesmo..sempre relatando o fato com tanta veracidade que digo sem pestanejar..ME SENTI DENTRO DO GOL CINZA..Alexandre seu fdp..kkkkkkkkkkkk

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  2. Quase morro de rir, puts, se fosse comigo eu saía todo cagado, ri demais homi, tem muito doido no mundo, vooots...

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  3. Alexandre meu fio, a barra foi pesada... kkkkkkkkkkkkk

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  4. Alexandre hoje é prf 🤙🤣🤣🤣🤝

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