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Friday, November 30, 2012

O garçom compreensivo

Sábado à noite, nos encontrávamos na casa de Osvaldo Grilo Jr. (Osvaldinho), eu, Alexandre Motta (Pezão), Ranyere Rodrigues (Boca Aberta) e Bruno Galvão (Galegal). Tínhamos dinheiro no bolso, mas não muito. Eis que Pezão aparece com uma idéia brilhante: Porque não ir para a casa de show Mandacaru, beber, comer e sair sem pagar a conta? Dar um famoso cangapé?

Nos não freqüentávamos muito aquele ambiente, de maneira que não éramos conhecidos dos garçons e seguranças, como éramos no Circo da Folia, por exemplo. A proposição foi aceita por todos, menos por Osvaldo, que se recusou a fazer parte de tal ato. Astuta decisão, eu diria.

Fomos em dois carros: eu e Rany na saveiro dele e Pezão e Galegal no gol deste ultimo. Chegando lá, pedimos uma mesa e dois litros de rum, camarão, filé com fritas e tudo o mais que tínhamos direito.

O mulherio não saía de nossa mesa, pensando elas que éramos ricos empresários ou algo assim. Queriam beber? “Podem pedir à vontade”. Esse era o lema. “Coma aqui um camarão, minha filha!”, dizia Pezão. Até o vereador Aquino Neto encostou-se à mesa e ficou por ali um bom tempo.

Lá pelas três da manha, eu disse a Rany: “Já está na hora de pegarmos o beco, bicho.” Chamei Pezão num canto e comuniquei ao mesmo a minha vontade de ir embora. Ele disse: “Então vá indo embora com Ranyere que eu irei entreter o garçom aqui e quando ele der bobeira, eu saio de fininho”.

Dito e feito. O garçom deu uma bobeira e fomos acabar a noitada na Pool Music Hall, somente eu e Ranyere. Quem não se lembra do famoso guarda Bundinha? Que ficava nos sinais de transito com a bunda empinada ao apitar pra alguém? Então, quando voltávamos da Boite já de manha, encontramos o Bundinha caminhando na rua e eu falei pra Ranyere: “Ei, bicho, vai devagar que aquele ali é o guarda Bundinha, o homem dá mais multa do que a porra!!!”.

Ato continuo, em vez de diminuir a velocidade, o rapaz dá um cavalo de pau bem aos pés de Bundinha, fazendo com que o mesmo desse um pulo para não ser atingido.

Rany abriu o vidro bem devagar e disse, sem alarde: “Bundinha, vai tomar no cu, viado!!!”. Engatou uma primeira e saiu bem devagar. Nunca esperei tamanho ato de coragem do Boca Aberta. Nem Bundinha, pois nunca multou o Rany.

Chega a segunda-feira e nenhuma novidade. Mas lá pelas sete da noite, Pezão liga para minha casa, se acabando de rir e disse: “Das cachorras, sabe quem ligou pra mim? Ramires!”. E eu: “Quem porra é Ramires, meu amigo? E o que eu tenho a ver com isso, que esse Ramires ligou pra tu?”

Ele não conseguia falar de tanto que ria. Quando finalmente conseguiu, falou: “Ramires é o garçom do Mandacaru, porra!”. Gelei na hora. Não tinha mais um tostão restante do final de semana. Como iria pagar aquela merda?

Por acaso, Reginaldo Jales (O matuto) estava na área e ajudou na parte logística. Fomos ao famoso colégio CPU buscar a parte de Ranyere. Meu pai me deu a minha parte. Pezão conseguiu a parte dele com o pai também, mas Galegal deu trabalho pra dar o dinheiro, reclamando como se a gente estivesse errado em ir pagar o pobre garçom.

Galegal deu só uma parte da grana, que teve que ser inteirada pelo matuto, que nada tinha a ver com o caso. Galegal teve que inteirar o dinheiro vendendo a bomba do seu aquário, dias depois. Chegamos na porta do Mandacaru, mandamos chamar Ramires e às gargalhadas de vergonha esperamos por ele no carro.

Eu disse logo: “Pezão, tu entrega essa porra ai, que tu es cara de pau mesmo. Eu vou me esconder aqui no banco de trás!”. Pezão quando avistou Ramires disse: “Olá Ramires, quando a gente ia saindo, não encontrou mais você e por isso deu esse mal entendido!”.

Ramires disse: “Rapaz, eu não quero nem saber o que houve. Graças a Deus que vocês trouxeram o dinheiro e pra mim isso basta. Muito obrigado e tenham uma boa noite!”.

Depois de passada a tensão, quis saber de Pezão como porra Ramires tinha localizado a gente. O negocio foi o seguinte. Ramires reconheceu Aquino Neto na nossa mesa e quando fomos embora, ele foi procurar Aquino para conseguir pistas sobre nós. Aquino disse: “Não se preocupe, aqueles meninos são gente boa. Com certeza não fizeram por mal. Inclusive um deles é filho de Bob e tenho aqui o telefone dele!”. 

O matuto salgado

Na época que a turma do Queima Raparigal ainda estava reunida, um dos pontos de encontro da rapaziada era na calçada da casa de Alexandre Motta (Pezão), filho do ilustre Bob Motta.

Um dos costumes de então era o de “salgar” um individuo que falasse alguma merda, alguma coisa absurda, uma mentira ou qualquer coisa que “a comissão” julgasse como merecedora do “salga”.

Salgar uma pessoa era nada mais do que deixar essa pessoa no meio de uma roda de outras pessoas e baixar o cacete até as mãos e os pés dos agressores não agüentassem mais.

E “a comissão” era formada pelo primeiro individuo que identificasse uma merda falada e gritasse: “salga!!!”, tornando a brincadeira altamente democrática.

Porém, era perigoso acusar, pois se ninguém acompanhasse o acusador, ele apanhava também, para aprender a não acusar ninguém em falso.

Nesse sentido, todos tomavam cuidado com o que iriam falar, para não correr o risco de voltar pra casa com as orelhas queimando, a boca cortada ou as costelas avariadas.

Mas, para complicar ainda mais o seu próprio julgamento sobre como se comportar, se o sujeito ficasse muito tempo calado, também apanhava.

Assim, em uma noite em que todos estavam com muita vontade de bater, o nosso amigo Reginaldo Jales (O matuto), resolve abrir a boca e diz: “Ei pessoal, vocês viram que a coca-cola dois litros está em promoção no supermercado Sirva-se? Está custando apenas 2 reais”

Era a deixa que a turma estava esperando. Perguntaram: “O que isso tem a ver com a conversa, Matuto? Salga nele!!!” E baixaram o pau no Matuto.

Ele, do alto de sua ingenuidade, sem saber porque estava apanhando e ainda ofegante por causa da sessão de pau que havia tomado, pergunta: “O que foi, porra, acharam caro?”

Dessa vez, todos se olharam e caíram na risada e gritaram em uníssono: “Salga de novo, filha da puta!!!”

O garçom precavido

Em meados dos anos 1990, Eu, Gustavo Porpino (Gugão), Alexandre Marinho (Ferreirinha) e Janiel Ferreira, fomos para uma excursão do bloco Caju com Sal com destino à Mossoró. Naquele esquema habitual, a cerveja era franca no ônibus ate a chegada ao hotel, no final da tarde.

Já devidamente alojados em nossos quartos, decidimos então beber mais e pedimos uma garrafa de Rum Montilla, um balde de gelo e algumas cocas. Sem que ninguém soubesse, eu tinha armado uma presepada para o pobre garçom.

Quando ele entrou no quarto e colocou a bandeja com as bebidas e o balde de gelo em cima da mesa, eu fechei a porta atrás dele e bloqueando a saída, anunciei: “Meu camarada, a gente pediu bebida somente pra disfarçar, mas o negócio mesmo é que vamos comer teu rabo, fela da gaita?”

Os caras caíram na gargalhada, porém rapidamente entraram na brincadeira. O garçom começou a ficar apavorado e disse: “Rapaz, deixa de brincadeira, vocês uns moços estudados fazendo uma coisas dessas? Já estou no final do meu turno e vocês me arranjam uma presepada dessas?”. E o mais engraçado era que ele não desgrudava da parede nem com a porra.

E eu ia pro lado dele, forçando para que ele descolasse da parede, mas ele parecia que tinha cola nas costas. Então cinturei o camarada e joguei o mesmo na cama. Ele se levantou igual a um gato. Queria ir pra um lado, os caras fechavam a passagem. Queria ir para o outro, nada.

Quando ele ficou encurralado, eu desabotoei a bermuda e gritei: “Segura o homem que agora eu como ele!!!”.

O elemento começou a chorar e ninguém agüentou mais e estouramos na gargalhada. Ele não quis saber, aproveitou o momento de descuido da moçada e saiu voando dali, gritando alguma coisa que eu não entendi.

No outro dia, quando estávamos almoçando, reencontramos o rapaz. Falei pra ele, com um tom de quem está dando uma bronca: “Quero você hoje no nosso quarto novamente, hein? Você fugiu ontem mas de hoje você não escapa!!!”

O garçom, puto da vida, replicou: “Meu amigo, posso ate ser demitido dessa porra, mas no quarto de vocês eu não vou nem a pau! Vocês são todos um bando de frescos. E quer saber de uma coisa? Vá pra puta que pariu, meu amigo!!!”.

As pessoas ao redor não entendiam o porque da revolta do rapaz, e nem porque uma pessoa era desacatada como eu estava sendo e mesmo assim, não conseguia parar de rir.

Thursday, November 29, 2012

Ranyere endoidou

Voltamos ao começo da década de 1990. Em um belo dia de domingo, formamos um quarteto e começamos a beber exageradamente. Eu, Ranyere Rodrigues (Boca aberta), Alexandre Santiago (Tapuru) e Gustavo Porpino (Gugão).

Lá pelas duas horas da tarde iniciamos os trabalhos bebendo rum na casa de Tapuru. Lá pelas cinco, fomos então para o Bar de Dagô, beber cachaça pura. Na época, o point do domingo era a famosa batucada realizada no Hotel Residence. O Bar de Dagô ficava estrategicamente situado nas proximidades do Residence e lá ficávamos abastecendo até a hora de entrar na festa.

Gugão foi literalmente nocauteado, pois saiu de perto da gente sem ninguém perceber e arranjou uma briga em frente ao hotel e foi pra casa todo fudido. Agora só restavam três no exército de brancaleone.

Planejávamos ir à Ceará-Mirim após à batucada. Era praxe na época os homens irem à Ceará-Mirim nos domingos à noite, após saírem das casas das namoradas, pois esta cidade alem de possuir fama de ter muitos cornos, ainda tinha festas muito boas. A faca e o queijo.

Embriagados, éramos três apertados na cabine da saudosa Saveiro cinza do Boca Aberta. Fomos à minha casa, tomei banho, troquei de roupa e fomos à casa de Ranyere, que fez o mesmo. Quando chegamos à casa de Tapuru, o mesmo entra e não consegue sair mais de lá, devido ao alto grau etílico.

Mas, antes de chegarmos à minha casa, paramos em um cruzamento que morava uma garota camada Michelle. Tapuru começa a esculhambar essa menina a partir do nada. Sabe Deus o que deu na cabeça desse homem. Ele gritava: “Michelle, sua puta!!! Michelle, rapariga!!! Michelle... hfgjskenmsjends... hahahahahaha...”

O homem balbuciava coisas que nem ele mesmo entendia e caia na gargalhada, com cara de peixe morto. Uma comedia.

Éramos somente dois agora, cada um pior do que o outro. Eu particularmente já não acreditava que deveríamos ir, mas seguindo minha lógica de então, desistir seria coisa de frouxo. Percebi então que o Boca Aberta estava em pior estado do que eu e fiquei em estado de alerta. Ele dirigia, que beleza.

Chegando em Ceará-Mirim fomos beber cerveja em um bar nas proximidades da festa. Este bar estava lotado e nem vaga pra estacionar o carro achamos. Sentamos e logo em seguida, o carro que estava estacionado na frente do bar sai e Boca Aberta insiste em querer estacionar o dele na vaga, pra colocar música pra gente ouvir.

Fico na mesa sozinho e de repente, escuto um estrondo. Era Ranyere, que ao tentar estacionar o carro, derruba seis motos que estavam estacionadas, uma ao lado da outra.

Comoção geral no bar, todos correm e eu corro pra tentar salvar a situação, levantamos as motos, os donos putos querendo matar Ranyere, eu apaziguando e mantendo todos calmos. A situação era difícil, pois não éramos bem quistos na cidade, afinal, quem era de natal tinha mais chances com as meninas locais.

Miraculosamente, nenhum dano foi causado nas motos. Nem sequer um retrovisor quebrado. Coisas de Deus. Mas mesmo assim os caras estavam irredutíveis. Usei de todo o meu latim e consegui um salvo-conduto. Depois do sufoco, volto pra mesa e lá encontro Ranyere tranqüilamente bebendo, e me pergunta: “Estava aonde, porra? Estou aqui esperando por tu hà duas horas!!! Assim é foda, vai tomar no cu!!!”.

Eu nem tentei explicar pra ele o que estava fazendo, pois quando o mesmo derrubou as motos, desceu do carro, ligou o som, e elegantemente sentou-se à mesa. Fato este que irritou ainda mais os motoqueiros. Eles achavam que Ranyere estava sendo arrogante. Mas a verdade é que a embriaguez fez com que o fato dele derrubar as motos fosse desconhecido pra ele.

Chega então um bêbado de rua no bar e quando Ranyere viu que o cara tinha uma camisa de Zico, com os dizeres “Se futebol tem alma, o nome dela é Zico”, chamou o sujeito pra beber com a gente. Rany queria porque queria trocar sua camisa de mangas compridas, de listras amarelas e azuis, altamente manjada, com a camisa de Zico do elemento. O bebum se recusou veementemente. Sábia decisão.

Por uma grande coincidência, o bêbado recitava um verso que eu havia aprendido com meu avô Juvenal: 

“O Peido que a nêga deu”

“Ninguém viu o que eu vi
Debaixo da gameleira
Foi um tiro de ronqueira
O peido que a nega deu

Abalou todo o Assu
Ela tava mexendo angu
Passou a perna de lado
Deu um peido tão danado
Que quase não cabia no cu”

Foi somente a deixa. Ranyere ria tanto que despejava lágrimas. E pedia pro sujeito repetir. E repetir. E repetir...

Decidimos então não ir para festa alguma, devido à fatiga em estado avançado dos nossos corpos. Saímos do bar e quase Ranyere derruba as motos novamente. Fomos embora ao som de gritos enfurecidos dos presentes.

O Boca Aberta então resolve dar um cavalo de pau numa rua perto da saída pra estrada. Quem gosta de praticar essa peripécia ou quem entende um pouco de alguns princípios da física, sabe que ao finalizar um 180 graus, se o veiculo encontra-se em velocidade acima dos 60 km/h, o carro tende a sair de marcha à ré.

Dessa forma, para evitar que o veiculo saia descontrolado para trás, ou o sujeito aperta no freio ou então engata uma primeira e faz com que o carro vá para frente. Ranyere não fez nenhuma coisa nem outra. Resultado? O carro saiu de ré até encontrar uma calçada elevada e esmagar a tampa traseira da pick-up.

Decidi então tirar o homem da direção, que nem fez resistência. O problema é que tinha deixado meus óculos em casa e não enxergava quase nada, ainda mais à noite. Mais uma vez Deus nos brindava com uma sorte incrível. Gugão havia deixado os óculos dele pelo carro e foi exatamente o que eu usei. O grau dele era bem diferente do meu, mas era melhor do que nada.

Chegamos na minha casa e coloquei o cidadão pra dormir na minha rede. O sossego durou menos de cinco minutos. O bebum começou a passar mal, vomitou o quarto todo e lá pelas tantas da manha, estava de cuecas no banheiro, com meu pai dando banho nesse corno e ele com cara de choro e de cu ao mesmo tempo.

Na segunda-feira pela manhã, Aguinaldo, o pai dele, esperava pelo carro para ir ao trabalho. O bicho acordou naquela de querer consertar o carro, de não ter vontade de se levantar da cama, de querer se matar e não conseguia ver nenhuma saída.

Eu encorajei o mesmo a procurar uma oficina mecânica para consertar o carro para que o pai não visse o estrago. O mecânico trabalhou depressa e lá pelo meio dia, o carro estava pronto.

Pedi então para que ele me deixasse na Cigarreira do Pedro e fosse embora, pois seu pai devia estar louco procurando por ele. Desci do carro e eis que o sujeito desce atrás. Eu perguntei: “Tu vai pra onde, Ranyere? Teu pai vai te enrabar, bicho. É melhor você pegar o beco”.

Ele nada disse. Pediu uma coca-cola e um Pingo de Ouro à Pedro e sentou-se para juntar-se a nós pra uma partida de dominó. Depois de sentado, ele disse: “Rapaz, eu queria morrer aqui sentado, mas ir pra casa agora é foda. O que vou escutar do meu pai, não desejaria nem pro meu pior inimigo”.

E ficou por lá até eu voltar pra casa e ir dormir novamente, aumentando a raiva do pai, que aflito não podia ir trabalhar.

Semana Santa em Maceió

No final da década de 1990, resolvemos passar a semana Santa em Maceió. Fomos eu, George Meira Lima (o Doido), Alexandre Santiago (Tapuru) e Staine Darlan (Funil). Na ida, causamos logo ótima impressão no resto dos passageiros da excursão. Com um botijão de vinho barato de cinco litros, bebemos a noite inteira, sem deixar o resto dos viajantes dormirem no trajeto Natal-Maceió.

Fazendo questão de sermos chatos, cantávamos em homenagem ao nosso amigo Funil: “Chegou a turma do funil, todo mundo bebe mas ninguém dorme no ponto, Ha, Ha, Ha, Ha, mas ninguém dorme no ponto, nós é que bebemos e eles que ficam tontos!!!”

Na parte do “Ha, Ha, Ha, Ha”, o Doido fazia uma risada alta, que acordava até quem estava do lado de fora do ônibus. Não preciso dizer que chegamos no hotel altamente bem quistos pelo resto do grupo. Demos um rápido cochilo e logo estávamos na piscina do hotel, enchendo o tanque para irmos à noite alagoana.

Ao voltarmos pro hotel, mais ou menos às quatro da manhã, o Doido teve uma idéia típica dele. Cada um teria que atravessar o corredor inteiro, chutar e dar murros na porta de um outro hospede, desconhecido, que se situava na outra extremidade do corredor, e voltar correndo, totalmente exposto, para o nosso quarto de volta.

Quem não fosse estaria punido com uma sarrafo dos outros. Ao terminar de falar a idéia, ele mesmo correu e começou a desferir chutes e pontapés na porta combinada. Eu não acreditava no que via, mas não conseguia parar de rir. Quando ele voltou, me adiantei e fui em segundo. No caminho, pensava: “Puta que pariu, como sou o segundo, esse porra desse hospede vai estar atrás da porta, quando eu bater, ele vai me fuder!!!”. Mas mesmo assim, permaneci no meu objetivo e enfiei o cacete na porta do sujeito.


A risadagem dos caras era mais alta do que as pancadas. Consegui voltar são e salvo, graças a Deus. Tapuru e Funil se engalfinhavam pra saber quem seria o próximo. Funil venceu a guerra e partiu em sua missão. Voltou e lá foi Tapuru. Para dar uma de esperto, Tapuru retira os tênis pra poder correr mais. Aproveitando-se dessa mancada, quando Tapuru já vinha chegando, esbaforido, os caras jogaram os sapatos dele novamente perto da porta do sujeito. A cara de choro que Tapuru fez foi digna de um Oscar.

Com pena de Tapuru, armei uma sacanagem para Funil e o Doido, que estavam no quarto em frente ao nosso. Deixei passar um tempo e com um pano no telefone para disfarçar a voz, liguei para o quarto deles dizendo ser da recepção. Falei: “Boa noite, recebemos uma reclamação do quarto 322. O hospede alega que a porta dele foi esmurrada e que ele viu os agressores entrarem no quarto de vocês”.

Funil, com o cu na mão, respondeu: “Rapaz, não foi a gente não. A gente está dormindo aqui desde cedo”.

Eu então fingindo ser o recepcionista, respondi: “Como ninguém é culpado até que prove o contrario, eu vou averiguar o fato e retorno a ligação caso seja confirmado a denúncia”.

Passa-se alguns segundos e os dois batem na porta do nosso quarto, sussurando: “Cachorra, Tapuru, deu merda. O cara da recepção ligou aqui dizendo que o cara viu a gente!”

Eu abri a porta e perguntei: “Viu a gente ou viu vocês? Sim, porque se ele viu somente vocês, vão lá e conversem, não metam a gente nessa porra não, pois se fosse com a gente, vocês iriam tirar a bunda da seringa!!!”

Os dois saíram putos e logo em seguida em liguei novamente: “Boa noite, sim, averiguamos e de fato o hospede aponta vocês como culpados. Vocês poderiam vir aqui na recepção para esclarecermos esse fato?” Tapuru quase tinha um ataque de riso enrolado no lençol, para não fazer barulho com sua risada.

Funil respondeu: “Está certo, estamos indo aí agora”.

Na passagem, o Doido ainda bateu na porta do quarto e disse: “Ei, porra, vamos lá com a gente, deu merda, deu merda!!!”

Nós fingimos estar dormindo e eles se foram. Fomos atrás pra ver a marmota, mas sem que nos vissem. Chegaram na recepção, deram boa noite ao recepcionista e ficaram esperando o mesmo falar. Como ele não falou nada, eles disseram: “Somos os hospedes do quarto 311”. O recepcionista olhou com cara de “E dai?”, e eles disseram: “Você não chamou a gente agora? estamos aqui.”

E o cara falou: “Eu chamei? Eu não chamei ninguém aqui, estão malucos?”. Funil falou: “Como não chamou, porra? acabou de telefonar mandando a gente vir aqui, que palhaçada é essa?”

Ficaram nessa discussão por um tempo e depois voltaram pro quarto putos com o recepcionista. Não falaram mais no assunto quando acordaram e também nos fizemos de doidos. Quando já estávamos chegando em Natal, eu cheguei perto de Funil e falei, com a mesma voz que fiz quando liguei pra ele: “Boa noite, recebemos uma reclamação do quarto 322...”

Ao perceber que tinha caído numa sacanagem, Funil fica olhando com a cara de puto, enquanto o Doido começa a gritar: “Funil, como tu não percebeu que era esse homem, porra?”

E a briga entra eles foi o motivo de pelo menos mais meia hora de riso, que ajudou a amenizar o tédio da viagem de volta. E o que fez com que os passageiros da excursão, sem paz na ida, também nao tivessem paz na volta.

O Chevette Folião

Essa história se passou no inicio da década de 1990. O local era Pirangi do Norte, litoral sul do Estado do Rio Grande do Norte. Como de costume, quando íamos para as noitadas no famoso e saudoso Circo da Folia, guardávamos nossos carros ("nossos" é modo de dizer) na casa de Léo Leite, pois além do amplo terreno para estacionamento, sua casa ainda era bem próxima deste clube.

Para completar ainda mais o quadro, era período carnavalesco, onde os níveis etílicos não possuem limites. Assim, da noite do domingo para a manhã da segunda-feira, voltávamos calmamente para a rotineira missão de entrar nos nossos carros e "responsavelmente" nos dirigirmos para nossos leitos.

Para nossa surpresa, Léo reconheceu um Chevette branco como não sendo de nenhum conhecido dele e ordenou que tirássemos o veiculo não identificado de lá, naquele mesmo instante.

O Chevette estava amassado na parte dianteira, que visivelmente tinha sido resultado de algum acidente no período do reinado de momo. O que Léo não sabia era que o dono do Chevette, no domingo à tarde, pedira aos seus pais para guardar o carro ali até a chegada de um guincho, na segunda-feira, para levar o carro até Natal.

Desconhecendo esse fato, Léo, nervoso, pede que retirassemos o automóvel de dentro dos limites da sua propriedade. Até hoje eu nao sei o que o motivou a isso, pois como a tartaruga em cima do poste, o Chevette nao teria ido parar ali sozinho e nem muito menos sem o conhecimento dos pais dele.

Mas enfim, éramos sete elementos empurrando o carro e Piteno sentado ao banco do motorista, guiando o trajeto do carro. Quando o carro atingiu a rua, cada indivíduo envolvido nessa operação, arrancou um souvenir do carro. Logo após todos os assessórios terem sido subtraídos, Piteno, que estava ao volante retornou ao seu posto e disse: “Empurrem mais, pois o carro ainda não está bem estacionado!!!”

Contrariados, recomeçamos o trabalho. Piteno, ao volante, agora estava tendo o carro sendo movido à marcha ré e ele estava com um pé dentro do carro e outro fora, fingindo também estar fazendo força. Começamos então a perceber a intenção do “motorista”, que era supostamente nos fazer um susto, pois a casa da esquina, vizinha à do nosso amigo, tinha o terreno rebaixado e o nível do teto era quase que no mesmo nível da rua. Pensávamos então que ele iria levar o carro até o limite do muro e chegando ali, freasse o veiculo.

Para nosso espanto, Piteno começa a olhar para a gente, aperta repetidamente na embreagem, alegando estar pisando no freio e diz, com cara de puta: “O carro não quer parar não, faltou freio, faltou freio!!!”

Quando ele viu que o carro atingiu velocidade suficiente para não parar mais, o mesmo pula do veiculo, que despenca casa abaixo, ficando com a traseira quase se encostando ao chão e a frente quase que em 90 graus, com a barriga apoiada no que restou do muro.

Evidentemente, não ficou alma viva no local após essa grande merda. Cada um agarrou seu souvenir e desapareceu dali em questão de segundos. Eu estava de carona com Marcos Ribeiro (Marquinhos da Bhrama) que tinha uma pick-up Pampa, e que colocou o pára-brisa do Chevette na carroceria da pick-up. Eu tinha o meu souvenir nas mãos, um toca-fitas TKR que a fita entrava de frente (que segundo os especialistas da época, era o melhor do mercado) e lá estava ainda em estado de choque, resultando da cena que havia presenciado momentos antes.

Marquinhos, lógico, não estava devagar e na passagem do primeiro quebra-molas, escutamos um estrondo terrível: o pára-brisa que estava tranqüilamente instalado no Chevette momentos antes, agora estava reduzido à milhões de cacos. Bem, pensei: “Que se foda o pára-brisa, pelo menos o meu toca-fitas está inteiro!”.

Ledo engano. Ao chegar no hotel onde estávamos hospedados em Búzios, escondi o toca-fitas num arbusto para que meus pais não questionassem sobre a origem do mesmo. Entrei no chalé, e minha mãe que já estava acordada, começou a conversar alguma coisa comigo, que não lembro o que era pois não dava à mínima atenção.

Minha atenção estava voltada para o lado de fora, onde eu assistia impotentemente o jardineiro pegar o toca-fitas que eu havia escondido tão brilhantemente. Pensei em ir lá fora, agarrar ele pelo pescoço, mas minha mãe perguntou “aonde você vai?” e me seguiu até a varanda. Observei ele se afastar com meu brinde nas mãos, olhando para mim e sorrindo. O que eu iria fazer? Chamar a policia para denunciar que o jardineiro roubava um toca-fitas que não era meu?

Quanto à Pampa do meu amigo, acredito que esteja onde aquela Pampa estiver, ainda possui cacos de vidros do pára-brisa quebrado.Questionado sobre o episodio anos depois, Leo Leite disse que passou mal naquele dia de tanta raiva, quase tendo um enfarto. Sem, lógico, ir dormir sem levar uma surra dos pais, que acordaram quando todos já estavam bem longe dali.