Total Pageviews

Monday, July 29, 2013

O passeio à casa de Pezão

Naquela ânsia desenfreada de quem está começando a dirigir, eu pedia o carro ao meu pai toda a hora que ele aparecia na minha frente.

- “Eu vou comprar pão!”, dizia eu, entusiasmado.

Ou então, “Papai, deixe-me dar uma volta no quarteirão”.

Nessa noite, pedi o carro pra ir dar uma voltinha na casa de Pezão. Chegando lá, não tinha ninguém, somente Reginaldo Matuto se encontrava na calçada, esperando por alguém chegar. Quando desliguei o carro, ele me contou que estava sendo realizado uma festa de São João no colégio objetivo, lá em Petrópolis e que todo mundo devia estar lá.

Petrópolis é um bairro afastado da minha casa, que é em Morro Branco. E eu nunca tinha saído de Morro Branco dirigindo, mas não podia deixar que isso me impedisse de ir à tal festa. O Matuto entra no carro e zarpamos pra diversão, sem se importar com o fato de meu pai ter autorizado somente a minha ida à casa de Pezão, que ficava há 2 quarteirões de distancia.

Tudo corria bem ate que de repente surge uma “boca de lobo” na nossa frente. Tratava-se de uma tampa de bueiro da CAERN , bem alta, sobressaindo do calçamento. Reginaldo disse-me para desviar e eu disse que não, que dava pra passar por baixo do carro sem problemas.

Só escutamos aquele barulho gigantesco e a partir disso, nada adiantava se eu girasse a direção do carro toda pro lado direito ou toda pro lado esquerda, o veiculo continuava indo reto. Havia quebrado a caixa de direção por completo e não tinha jeito do carro andar, para que eu mentisse pro meu pai, dizendo que o acidente havia sido perto de casa.

Nessa época ninguém nem sonhava que existia o tal do telefone celular. Então corremos pro Sandunas e lá encontramos uns amigos muito gente boa. Piteno, Pezão e Segundo (José Caldas Marinho), todos num Selvagem de propriedade deste ultimo.

Contamos o ocorrido, todos riram bastante da minha situação, como não podia deixar de ser diferente, e fomos analisar o carro. Quando chegamos a conclusão que o mesmo não teria jeito, resolvemos ir na minha casa contar ao meu pai. Fomos os cinco.

Chegando lá, meu pai estava na varanda e já foi perguntando pelo carro. Eu falei que o carro havia quebrado. Onde, ele perguntou. Ali, eu respondi. Ali aonde, meu filho, insistiu ele. Ali perto do objetivo (eu pronunciei esta ultima palavra na VDM, velocidade de dicção máxima), disse eu tentando enrolar. Perto de onde, se assustou o homem.

Nesse momento, os quatro indivíduos ficaram escondidos atrás do muro, pois já sabiam a reação escandalosa que minha mãe iria dar. No que meu pai está vestindo a camisa pra ir tentar consertar a merda que eu tinha feito, minha mãe sai lá de dentro perguntando o que houve. Quando eu tentei dizer, já veio com a gritaria, me chamando disso, e daquilo, pra deleite dos senhores que assistiam de camarote. Começaram a gritar e gargalhar e fugiram, deixando somente Piteno, que já havia pego a sua canoa.

Assim, saímos eu, papai e Piteno pro local do crime. Chegando lá, papai foi olhar embaixo do carro o estrago que havia sido feito. Nesse momento, o selvagem de Segundo já estava lá novamente, acompanhado agora do bugre Cobra de Marcio Cachaça.

Cachaça, pensando se tratar de um de nós embaixo do carro, encosta o bugre bem perto e diz: “O que esse mecânico buceta pensa que vai consertar”?

Meu pai se levanta e diz, com cara de poucos amigos: “Eu não vou consertar porra nenhuma, pois eu não sou mecânico!” Cachaça diz: “Eita, porra, foi mal!”, e vai embora, com cara de rapariga. Você imagine ai a minha situação.

O fato é que o carro teve que ser rebocado pra Espacial Veículos , o fato é que não teve festa de São João no Objetivo nenhuma, o fato é que eu fui motivo de piada por uns seis meses e o fato é que até o dia que faleceu, meu pai não pronunciou uma palavra sobre o ocorrido. Isso é que é ter elegância.

Friday, July 26, 2013

Das Cachorras

No decorrer desses quase 20 anos de existência, já ouvi inúmeras versões sobre a origem do meu apelido. Gente que jura que estava comigo quando eu fui ter relações sexuais com cadelas. Gente que jura que sabia que eu tinha um canil que só tinha cadelas e o único cachorro era eu. E por ai vão as insanidades. Mas a verdade é só uma.

Estava sendo realizado no Colégio Nossa Senhora das Neves, onde eu estudava, a feira de ciências que todo colégio realizava em um determinado período do ano. Eu tinha então 14 anos e cursava a oitava série do primeiro grau.

Planejamos ir pra tal feira de ciências, pois apesar de ninguém ter interesse algum na ciência, tínhamos sim interesse no monte de meninas que por lá se encontravam, pois nesses eventos, o menos importante era o que estava sendo exposto e sim o fato de que todos as pessoas da cidade da nossa idade estariam lá.

Pra apimentar mais um pouco a história, resolvemos passar num bar bastante conhecido da minha época chamado Trovão Azul, localizado ali na Afonso Pena, já perto do CCAB Norte. A intenção era tomar umas cinco cervejas e partir pro destino final.

Chegando no Trovão, não sei porque resolvemos trocar e ir pro bar vizinho, o Bar do Ednaldo. Pelo que me lembro, estava fazendo um sol forte no Trovão naquela hora do dia e no Ednaldo (hoje Cantina do Ednaldo) tinha sombra, qualquer coisa assim. Talvez se tivéssemos ficado no Trovão esse apelido nem existiria. O fato é que estavam eu, Frederico Lemos (o doido Zé Zuada), Leonardo Leite, e o nosso famoso Carlos Eduardo Mello (Piteno), hoje vegetariano.

Após meia grade de cerveja e eu já embriagado, devido ao inexistente costume do meu organismo ao álcool, chega outro carro com mais quatro indivíduos dentro, e eles eram Denis Zambon, Vlaviano, Gley Karlys (Araci de Almeida) e Fernando Bastos (Fernandinho).

Quando a primeira grade foi completada, eu não sabia mais onde era o céu e nem onde era o chão. Comecei a ver o mundo rodar e obvio, debaixo da gargalhada geral, pois todos já eram mais velhos e bebiam bastante, fui me sentar no chão, encostado no muro, por acreditar que dali não cairia.

A sensação era terrível, a vontade de vomitar era enorme e eu não pude conter. Vomitei tudo o que tinha bebido, tudo o que tinha comido e mais alguma coisa. Ednaldo tinha uma cadela chamada Xuxa, que sempre ficava na porta do banheiro. Ela foi atraída pelo vomito e começou a lamber o mesmo.

Mas em nenhum momento ela me lambeu, como alega o senhor Gley, e eu posso afirmar categoricamente isso, pois em nenhum momento eu dormi, estava acordado o tempo todo, e estava sentado, não deitado como aumentou o Araci de Almeida.

A cadela veio, lambeu o vomito e se entrou novamente no bar. Essa operação não durou mais que dois minutos. Mas a historia que o senhor Gley saiu contando por ai foi que ela me lembeu todo, inclusive na boca. É um filha da puta. Então me apareceu poucos dias depois na casa de Pezão, numa das reuniões diárias, e quando me viu, já saiu do carro dizendo: “Ei, pessoal, conhecem aqui o Das Cachorras?”

Evidentemente, todos ali adoraram e o apelido se espalhou como água. Por causa desse cretino, tem gente que me conhece há quase vinte anos e não sabe que o meu nome é Fabiano.

Eu não sei qual coisa boa Gley fez na vida, mas que eles fez duas merdas grandes, isso eu posso afirmar. Uma foi ter colocado esse apelido na minha digníssima pessoa e a outra foi ter projetado o Frasqueirão, o campinho do ABC Futebol Clube. Nem pra projetar um pro meu glorioso América ele presta.

Wednesday, July 24, 2013

Carlinho Grilo e o freezer

Quando o meu compadre Bebeto Grilo casou, foi morar na fazenda da Família, no município de Espírito Santo, lá perto de Nova Cruz e Santo Antonio do Salto da Onça.

Bebeto vem a ser irmão de Carlinhos Grilo, de Osvaldo Grilo e de Liginha, e também filho de Seu Osvaldo e Dona Teresinha, família tão querida e amiga que mora na mesma rua que meu pai há quase 30 anos, e onde eu morei desde os 3 anos de idade até os 24, quando me mudei pro Canadá.

Como presente de casamento, Bebeto ganhou um freezer horizontal, daqueles usados nos bares pra estocar cerveja e refrigerante, presente de sua avó e que deveriam levar pra fazenda. Em vez de cerveja, Bebeto iria armazenar o leite tirado do gado da fazenda.

Paulo Frederico, também conhecido como Fredeca, se ofereceu pra levar o freezer em sua camionete S10, afinal tudo era motivo pra ir até a fazenda Jardim Santa Tereza pra uma boa cachaça e se tivesse sorte, ainda teriam a companhia do grande Chico Preto, trabalhador antigo da fazenda.

Fredeca, com a ajuda de Rui Barbosa, amarrou o freezer na caçamba da camionete e partiram contentes pra fazenda. Eis que o nó que foi dado não foi muito eficiente e a corda começou a se soltar aos poucos. Quando estavam na BR 101, já chegando em Goianinha, encontram uma ladeira e “responsavelmente”, Fredeca promete colar o ponteiro da camionete, somente pra dar mais um pouco de emoção à viagem.

Vinham com os vidros abertos, mas pra ganhar mais velocidade, resolveram fecha-los. Só a física explica, mas nessa hora, um vento canalizado conseguiu penetrar por baixo do frigobar, que fez com o mesmo fosse parar em plena rodovia.

Foi uma sorte tremenda que não vinha nenhum carro atrás deles, pois caso contrario, ambos estariam na cadeia até hoje pagando por homicídio culposo. O mais próximo de um assassinato foi um sujeito que vinha em uma bicicleta no acostamento.

O sujeito viu aquela geladeira vindo em sua direção, puxou pra um lado, a bicha foi pro mesmo lado, puxou pro outro, ela foi pro outro, mas ele, malandro, conseguiu driblar o objeto voador identificado, afinal, o nordestino é antes de tudo um forte.

Na hora que o carro foi aliviado no peso do frigobar, o motorista percebeu de imediato e olhou pro retrovisor pra ver o estrago. Avisou a Carlinhos e voltaram pra tentar recuperar o eletrodoméstico.

O que restou do freezer era uma massa destruída, um pouco maior do que um frigobar. Os dois recolheram o troço e colocaram na camionete outra vez, dessa vez amarrando bem firme o nó, como se fosse adiantar alguma coisa.

Chegando na fazenda, o Seu Osvaldo esperava por eles na varanda da casa, ansioso pra ver o freezer funcionando. Quando viu o estado em que se encontrava os restos mortais, não acreditou no que via e perguntou ao Rui Barbosa:

- “Carlinhos, esse freezer é Cônsul, não é?”

- “É papai, é Cônsul”, respondeu Carlinhos.

- “Você sabe onde é a fábrica da Cônsul?”, perguntou Seu Osvaldo.

- “Sei não, papai”, retrucou Carlinhos.

- “A fábrica da Cônsul é lá no Rio Grande do Sul. E como nós estamos no Rio Grande do Norte, trata-se de uma grande viagem. Mesmo com essa grande viagem, os freezers vêm amontoados em cima de um caminhão e nenhum cai, ta me entendendo, nenhum!! Como você não consegue trazer essa merda de Natal pra Espírito Santo sem derrubar, Carlinhos? Desapareça com essa merda da minha frente e traga ela inteira e funcionando aqui amanha. Mas dessa vez amarre essa porra com vontade!!!”

Carlinhos e Fred se segurando pra não rirem na frente de Seu Osvaldo, recolhem o ferro-velho e colocam novamente na camionete, com a ingrata missão de arranjarem um lugar pra consertarem aquele amontoado de ferro.

Tuesday, July 23, 2013

Carlinhos Grilo e o casamento

Voltando do Iate Clube onde disputávamos amadoríssimas partidas de tênis, eu e Carlinhos Grilo, o jovem deputado, também conhecido por Rui Barbosa, não pela inteligência mas pelo tamanho da cabeça, tivemos que parar em um semáforo.

Carlinhos fica calado e observando dentro de uma igrejinha, que fica ali na Ribeira, perto da ladeira de Marpas , onde estava sendo realizado um casamento. O sinal abriu e em vez dele sair, ele deu a volta e parou o carro e disse, com cara de puta:

- “Fabiano, você quer ver como estragar a vida de um cara inseguro?”

Curioso, quis saber do que ele estava falando. Com o carro ainda ligado e pronto pra fuga, o escroto do cabeção desce e só de bermudas e camisa, todo suado, grita pra dentro da igreja:

- “Rapaz, não case não, tu é corno, todo mundo sabe. Tu vai casar mesmo? Ha ha ha ha... nao faça essa besteira, rapaz... ha ha ha ha... nao case, tu é corno... ha ha ha ha... CORNO SAFADO!!!”

Ele falava e ria ao mesmo tempo, o que dava mais autenticidade ao seu discurso, como se de fato soubesse de alguma coisa da vida daquele pobre noivo que o mesmo desconhecia. O pobre diabo começou a se dirigir à porta e Carlinhos, que não é bobo, correu pra dentro do carro e fomos embora. Eu sem acreditar no que estava presenciando.

O bicho gargalhava tanto que eu pensei que ele ia morrer ou me matar, num acidente automobilístico. Quando ele conseguiu se controlar um pouco, já perto de casa, ele disse, com a naturalidade de um assassino em série:

- “Fabiano, esse rapaz nunca mais vai ter paz na vida. Se a noiva for puta, vai telefonar agora pros caras que comeram ela, pedindo explicações. Se for santa, vai ficar com fama de puta entre o noivo e os amigos e familiares. Já pensou, que azar desse cara a gente ter passado por aqui agora?”

- “A gente uma porra, você que fez a merda. Não coloque mais essa na minha já extensa lista de pecados”, rebati assustado.

Ele insistia que eu dei apoio e que eu poderia ter impedido que o mesmo fizesse tamanho desatino. Eu só sei que esse foi o maior ato de crueldade gratuita que eu já vi alguém cometer na vida. Se você casou nessa igreja por fim dos anos 1990 e acha que é corno, fique aliviado e saiba que tudo não passou de mais uma fuleiragem do nosso Rui Barbosa.

Monday, July 22, 2013

Tapuru perde a linha


Numa daquelas canas malucas, eu e Schiavo resolvemos ir tomar uma na casa de Bigode, na praia de Caraubas. Sabíamos que Tapuru estava em Muriú, tomando uma na casa do seu primo Ronaldo. Passamos por lá no caminho para levarmos o grande Tapuru conosco.

Acontece que o mesmo já estava morto de embriagado naquele momento e insistiu em ir dirigindo o seu próprio veiculo, o que fortemente desaconselhamos o rapaz, mas diante de sua teimosia conhecida até por Bento 16, resolvemos ir um carro atrás do outro.

Quando estávamos quase saindo de Barra de Maxaranguape, o bebum Tapuru nao parou em um cruzamento que era suposto parar e colide com uma senhora que dirigia um surrado Chevette e que estava acompanhada dos filhos e de outra amiga.

Ao bater no carro, a primeira reação do mago velho foi ir embora, pra nao ter que pagar a conta. Mas a mulher era obstinada e seguiu o mesmo até perto de caraubas, onde dá uma fechada no Tapura, obrigando o mesmo a parar o carro pro estrago nao ser maior.

A gente havia visto a batida e entramos no ritmo de fuga juntamente com o infrator e como nao víamos mais Tapuru no retrovisor, resolvemos voltar pra ver o que tinha acontecido com o rapaz.

A mulher chamava Tapuru de irresponsável e Tapuru rebatia dizendo que ia pagar. Ela indagava como ia pagar se ele estava fugindo. Tapuru nao tinha nada a dizer, só repetia que ia pagar o prejuízo dela. Ela dizia que queria o dinheiro na hora e que ia chamar o marido pra resolver a questão. Tapuru repetia calmamente que iria pagar na segunda, que ali nao possuía o montante.

E a discussão continuava em círculos, com a senhora argumentando que Tapuru havia fugido e que o que garantia a ela que ele nao iria desaparecer na segunda. E Tapuru, com o peso da culpa nas costas, tentava se manter calmo, dizendo que havia errado ao tentar fugir mas que na segunda pagaria pelo carro.

E a mulher berrava, berrava e ate ameaçou das uns safanões do mago bacalhau. Foi nessa hora que vi o mago Tapuru saindo de fininho pro canto da estrada, com as mãos na cabeça como se dissesse: “eu nao agüento mais essa mulher gritando”...

Ficou andando com as mãos na cabeça, dando voltas em torno do próprio corpo até que não agüentando mais a falação da senhora, arrancou uma das estacas que segurava uma cerca e começou a bater com o pedaço de pau no chão, indo em direção à senhora e berrando, com os olhos esbugalhados:

- “Minha senhora, eu já disse que ia pagar esse caralho, mas se a senhora abrir a boca mais uma vez, eu quebro esse pau inteiro em cima dessa lata velha e quebro também em cima da sua cabeça”.

Até eu e Schiavo ficamos assustados com a valentia do magro tapura, que foi se acalmando aos poucos e voltando a si, bufando e envergonhado, conseguiu ainda ouvir as ultimas palavras da senhora, que mudou de idéia repentinamente:

- “Então nós estamos esperando pela ligação do senhor na segunda-feira”.

E Tapuru saiu triunfante, cheio de moral, soltou o pedaço de pau no chão e entrou no carro, parecendo Chuck Norris depois da gripe.