No inicio de 1995, eu contrai uma tal de Hepatite. Fiquei internado
por uns cinco dias no ITORN e depois fiquei de repouso em casa por mais
uns dias. Quando me recuperei, e na falta do que fazer, me juntei ao
velho Mariel e fomos inventar de praticar Capoeira, lá no Camana.
Como
parte da minha recuperação física, eu ia correndo da minha casa ate o
Camana (Alexandrino de Alencar com Hermes da Fonseca), fazia a aula e
voltava correndo pra casa.
Nesse período,
evidentemente, eu não podia consumir bebidas alcoólicas. E sair de casa
com os amigos para os bares não era dos programas mais agradáveis. Mesmo
assim, as insistências para que eu fosse eram enormes, no intuito de me
irritar. Da mesma forma que mostrávamos revista Playboy para Alexandre
Motta (Pezão) quando este voltou pra casa após uma cirurgia de fimose,
cheio de pontos.
Nesse sentido, numa sexta-feira à
noite, Sérgio Coutinho (O Boy) e Bruno da Cunha Lima (Operário Ladrão ou
Lalau, dependendo da época), aparecem lá na aula de Capoeira, me
convidando para ir com eles ao Castelinho, que ficava ali perto da Praça
Augusto Leite, no começo da Afonso Pena.
Argumentei
que não iria pra porra de bar nenhum e Sérgio, para me deixar sem
desculpas, disse, com tudo já devidamente planejado: “Tá aqui a chave do meu carro, vai pra casa tomar banho que eu vou com Bruno e você encontra a gente lá no Castelinho”. Ele tava com o braço engessado e deu isso como desculpa para não querer dirigir.
Contrariado,
aceitei o convite. Fui em casa, tomei banho e voltei ao tal bar
Castelinho. Passei em frente e não vi esses dois cidadãos por lá. Mesmo
assim resolvi descer. Uma das piores decisões da minha vida.
Quando
estacionei o carro em uma esquina anterior ao bar (no sentido
Hermes-Prudente), pois estava lotado e não pude parar mais perto, desci,
fechei a porta e escutei alguém falando comigo. Eram dois elementos,
que eu entendi ser os flanelinhas e respondi: “Tá certo!”, pois pensei que eles tinham dito que iriam olhar o carro.
Foi quando escutei: “Tá certo um caralho, você ta doido?”, e encostou o revolver na minha barriga. Percebi que era um assalto. Pensei: “Puta que pariu, só podia ser comigo, se eu tivesse em casa nada dessa merda estaria acontecendo! Sérgio, filha da puta”. Entreguei a chave ao valente, pedindo que me deixasse ir e levasse o carro, afinal aquela merda não era minha mesmo.
Ele disse: “Não senhor, você vai pra mala. E você que vai abrir!!!”.
Agora você imagine o sujeito abrir a mala do carro pra ele mesmo
entrar, incentivado por um trabuco na mão de um louco que babava e
suava. Demorei uns 30 segundos pra poder acertar o buraco da chave, de
tanto que tremia.
Quando finalmente abri a porra da
porta da mala, ele m ajudou a entra delicadamente e fechou-a. No momento
em que passávamos em frente ao Castelinho novamente, Sérgio e Bruno
vinham chegando de uma “voltinha na Praia do Meio” e reconheceram o carro saindo e foram atrás, pensando que eu estava indo embora.
Ao
chegar na Hermes da Fonseca, eu escutei Sérgio gritando com o cara,
mandando ele encostar o carro, pois havia percebido que se tratava de
furto. O que Sérgio não sabia era que eu estava na mala. Ele pensava que
o cara tinha arrombado a porta e estava levando o carro.
O
ladrão ficou doido e puto comigo, como se eu tivesse alguma coisa a ver
com aquilo. Começou então uma perseguição cinematográfica. O carro de
Sérgio era um Monza e o de Bruno era um Pampa. O Monza corria mais, mas
quando o ladrão dava uma bobeira, Bruno metia a Pampa na traseira do
Monza, numa tentativa de parar o carro.
A cada batida
eu ia mais pra perto do banco de trás, tentando me esquivar de uma
possível colisão fatal. Eu só sei que após mais de meia hora de
perseguição, Sérgio teve a brilhante idéia de parar num posto policial e
chamar o guarda pra ir com eles, o que este de pronto se negou,
alegando não poder deixar o posto desguarnecido.
Nesse
tempo de conversa, os ladrões conseguiram escapar e eu parei de ouvir o
barulho da buzina de Bruno, que nesse tempo todo não parava de roncar.
Os ladrões foram para um bairro chamado Guarita e disseram: “É malandro, agora tu vai se fuder, quem mandou teus amigos nos seguirem?”
Exatos 2 minutos após ele dizer isso, o carro pára e escuto as portas se abrindo. Pronto, me fudi, pensei. Vou morrer aqui por causa do carro de Sérgio. Ô maneira boa de chegar ao céu (ou inferno).
Passaram-se
uns minutos e eu todo encolhido, em posição fetal, e nada acontecia.
Até que comecei a ouvir vozes de crianças e mulheres. Comecei a chutar a
tampa da mala pra abrir um espaço para que eu pudesse respirar. Pelo
buraco, pedi para abrirem a mala com a chave, uma vez que o carro estava
ligado e a chave só poderia estar lá.
A população
desconfiada não queria abrir. Disseram que iriam esperar a policia
chegar. Contei o que houve a um sujeito que falava mais comigo e este me
pediu para passar a minha identidade. Cômico. O que uma identidade iria
fazer de diferença? Só sei que com a identidade em mãos, ele abriu a
mala e eu me vi no meio de uns 100 curiosos.
Fui pra
casa de uma senhora beber água e esperar a polícia, que chegou
acompanhada de Dona Olívia e Kika, Mãe e irmã de Sérgio,
respectivamente. Elas trouxeram o documento do carro e disseram me
reconhecer, só assim eles acreditaram em mim. Puta que pariu.
Fomos
pra delegacia e depois pra casa de Sérgio, onde o mesmo se encontrava
na calçada com Bruno e seu Paulo e com uma pistola na mão. Não sei pra
quê. Como eu não tinha morrido do assalto, pensei que hepatite nenhuma
mais iria me matar. Voltamos ao Castelinho só de pirraça e bebemos até
fechar o bar.
E nunca mais parei de beber. Ficam sem beber dá azar, acreditem.
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