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Thursday, January 31, 2013

Semana nada santa

Em um desses feriados de Páscoa, resolvemos partir em viagem à cidade de Currais Novos, pois alguém tinha a informação de que a festa naquela localidade iria pegar fogo naquele final de semana prolongado. A caravana era formada por mim e o magro Schiavo, numa pick-up LX da Fiat.

No seu famoso gol branco, ia Márcio Careca, Flávio Xingu e um colega chamado Rodrigo, que não sei o seu sobrenome, só sei que o pai dele chama-se Lúcio Flávio, pois o mesmo fez questão de me lembrar umas 20 vezes durante esta viagem. No guerreiro Escort Hobby de cor vinho, iam Staine Funil e o nosso saudoso Geraldo Segundo.

Cada tripulação, inconseqüentemente, providenciou um isopor, encheu de gelo e cerveja e partiu com direção ao Seridó. O magro Schiavo, metido a piloto, dirigia com velocidade mínima de 170 km/h.

Ele não contava com uma curva traiçoeira, já bem próxima do destino, que fingia ser aberta mas que no final se fechava todinha. Nessa hora da curva vínhamos com 180km/h, pois pra completar ainda mais a desgraça, antes da curva ainda tinha uma ladeira descendo, uma pontezinha e uma ladeira subindo, o que fez com que o carro praticamente decolasse.

Dessa forma, o magro achou a curva aberta o suficiente e não aliviou o pé. Nessa hora, comecei a frear o carro imaginariamente e segurar no dispositivo de segurança mais fiel de qualquer carro, o "eita porra", aquele gancho que tem no teto e que serve pro passageiro se segurar em alguma coisa em caso de perigo eminente, uma vez que o motorista tem o volante pra tal propósito.

Como eu disse, o magro não contou com a curva acabando de repente e se transformando em reta, quase que em noventa graus.

A sua tentativa foi válida, porem ineficaz. Tínhamos que virar à direita e como o carro começou a derrapar de dentro da fora, ele tentou encontrar a tangencia indo ao máximo pra esquerda, na contra-mão.

Pro nosso azar, a traseira da pick-up encontrou a parte do acostamento que continha pedregulhos e não se segurou, pois era leve e isso fez com que nós começássemos a dar cavalos de pau em plena estrada.

Em um desses, a traseira atinge o meio fio do lado direito e lá fomos nós ribanceira abaixo, com o automóvel virando de costas e não de lado, como de costume. Ha controvérsias quanto ao numero de vezes que capotamos, mas a sensação era de estarmos dentro de uma maquina de lavar. O carro caiu de cabeça pra cima, lá em baixo. E eu continuava agarrado ao "eita porra".

A musica que tocava na hora do acidente era uma do grupo de pagode Molejo, e dizia assim: "Trás a caçamba, trás a caçamba, que o samba taí..." E ela também continuava tocando no momento da aterrissagem. O que me fez pensar, entre mortos e feridos: "Caçamba, um caralho!!!".
A cena era dantesca. O magro agarrado ainda ao volante, com os dois braços esticados, duvidando estar vivo e suspeitando estar morto, olha pra mim e pergunta:

- Cachorras, tudo bem com você?

Como se alguém pudesse estar bem depois de uma situação daquelas. Eu, virei meu pescoço aos poucos, achando também estar morto, e respondi que sim, que só havia perdido os meus óculos e tive uns pequenos cortes provenientes de algum vidro que quebrou.

O milagre foi tão grande que o teto formava o molde exato das nossas cabeças. Com sacrifício, abrimos as portas e saímos, sem saber onde era a estrada ou onde era o inferno. Eu apostei que a estrada era pra um lado e o magro apontou pro outro. Eu, mesmo cego, acertei e comecei a subir correndo a ribanceira, que diga-se de passagem, era quase a metade do tamanho do Morro do Careca.

Só pra se ter uma idéia de como vínhamos rápido, somente na hora que atingi o asfalto era que Marcio Careca vinha passando. Comecei a pular para chamar sua atenção, o que deu certo.

Ele não viu Schiavo de imediato, pois o mesmo tinha saído em outro ponto da montanha. Quando o Careca viu o estado do carro, pensou que o magro não tinha escapado. Nervoso, começou a perguntar:

- Rapaz, cadê o magrão? Meu irmão, nem me fale uma coisa dessas. Puta que pariu. Olhe o estado do carro. Como você se safou, bicho?

E me abraçava, nervoso. Nessa hora aparece o magrão. Que também foi abraçado. E ficamos todos em silencio por um momento, contemplando o estrago e tentando imaginar como havíamos saído daquela inteiros.

Ao ver a movimentação, Staine e Segundo também estacionam e repetem a mesma cena protagonizada pelos componentes do careca-móvel.

Em menos de cinco minutos, já estavam por ali curiosos, Policia Rodoviária e um jornalista, representante de uma rádio de Currais Novos. O fuzuê estava formado. Nesse momento, resolvo me sentar no banco do passageiro do carro de Marcio, pra dar uma descansada.

Aí o presepeiro do Márcio me aparece com o jornalista, que com o microfone na mão, solicitava um depoimento para a rádio. Por trás dele, o careca se segurando pra nao estourar, dizia: "Ele estava no carro sim, fale com ele, ele é gente boa". E comecou a rinchar.

O incauto jornalista então começa a me fazer perguntas e eu, falando no microfone, vi o careca se abaixando ao lado do jornalista, que estava em pé, apoiado na janela do carro com os cotovelos. Disfarçadamente, cheguei mais perto da porta e olhei pra baixo, pois já suspeitava da atitude do meliante.

O careca abaixa as calças e manda "um barro" bem próximo aos pés do jornalista, que mesmo sentindo odor tão desagradável, continuava firme no seu objetivo profissional, só coçando o nariz as vezes.

Eu não consegui mais terminar a entrevista, de tanto que ria. O jornalista aborrecido se afastou e foi procurar Schiavo.

Como o castigo vem à cavalo, Marcio, que havia se afastado momentaneamente, esquece da sua obra e vem falar comigo, que de tão cansado nem sentia cheiro algum.

- Ei, Cachorra, tu não pode dormir não, viu? Não pode apagar, se não, tu nunca mais acorda. Porque se tu tiver levado uma pancada na cabeça, ninguém sabe.... PUTA QUE PARIU!!!!!
Gritou o Careca, me assustando profundamente.

- O que foi? Pergunto eu, assombrado.

- Acabo de pisar com os dois pés no monte de merda que tinha aqui no chão. ISSO É UMA PORRA!!!!
Ele gritava no meio de todos que ali estavam. E quando alguém olhava pra ele, com expressão de espanto, ele berrava:

- É MERDA, MEU FILHO, NUNCA VIU NAO? MERDA!!!

E saiu arrastando os pés no asfalto pra ver se conseguia limpar, espalhando o perfume por entre os curiosos, que aos poucos foram tirando o time de campo. Durante esses acontecimentos, o carro ficou lá embaixo sozinho por um tempo.

Quando descemos novamente pra olhar de perto o estrago causado, uns fantasmas habitantes da floresta que cercava a estrada, já haviam depenado todos os acessórios do carro.

E como não havia mais o que fazer, continuamos a nossa viagem, agora em dois carros somente, pra terminar a nossa aventura que acabava de começar.

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