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Thursday, February 14, 2013

Um burro na praça e outro no asfalto

Ao chegarmos em Currais Novos após a virada, fomos tomar cerveja em umas barracas que estavam montadas em frente ao Hotel Tungstênio. Pra animar mais ainda a brincadeira, jogávamos dominó, na modalidade conhecida como “burrinho”, onde se começa com três pedras e vai aumentando na medida em que se perde, se transformando no “Burro” quem atingir a quantidade de oito pedras primeiro, isto é, ter sete nas mãos e perder mais uma vez.

Quem perde, tem que imitar um burro, rinchando e dando coice, numa circuito a ser combinado previamente. Nessa seqüência, o nosso querido amigo Flávio Xingu foi o burro e deu um show.

Rinchou, deu coices, bufou, balançou a cabeça, empinou com as mãos fingindo estar segurando uma rédeas imaginarias, tudo isso em frente às moiçolas da cidade, que todas arrumadas e perfumadas desfilavam na área. Acredito que não teve uma pessoa naquela cidade que não caiu na gargalhada com a performance do grande índio.

Depois desse sucesso estrondoso, fomos pra casa do Rodrigo pra tomarmos um bom banho e irmos pra noite. Xingu estava possesso, pois tinha sido o único burro a perder e queria uma revanche a todo custo. Não conseguiu e conformou-se.

Fomos pra festa e quando voltamos, já passava das sete da manhã e ninguém se agüentava em pé. Todos se organizaram pra dormir, menos Xingu, que teimava em continuar acordado.

Como não arranjou companheiro pra cachaça que queria tomar a tomar, e como estava roendo mais do que o maior dos ratos, sentou à soleira da porta da frente da casa e ficou soltando pequenos galanteios pras pessoas que por ali transitavam, entre uma dose de whisky e outra.

- Ei, minha filha, você ta muito bonita hoje, dizia ele pra uma. “Meu senhor, vá devagar pra não cair”, dizia pra outro. “Minha senhora, se eu fosse você, não acordava tão cedo”, aconselhava outra. Ele dizia algo e caia na gargalhada sozinho, antes mesmo de terminar a frase, completamente embriagado.

A galera dentro da casa já não agüentava mais, todos queriam dormir e não podiam devido as gracinhas do índio. Quando pensávamos que o pior havia passado, Xingu resolve começar a cantar.

Márcio Careca então dá um grito, dizendo:

- Porra, Xingu, vai dormir caralho, seu corno de uma porra.

Nisso, Xingu, que nesse momento cantava um samba de Noel chamado O Gago Apaixonado, que ele conheceu através da gravação de Moreira da Silva e que cantávamos juntos todos vez que estávamos bêbados, não perdeu tempo:

- Eu tenho um amigo que não usa cueca, o nome dele é má-má-má-má-má-má-má Márcio careca!!!

Ninguém agüentou mais a fuleiragem do índio e estouramos na gargalhada. Ninguém dormiu mais. Ficamos ali conversando e resolvemos ir tomar café da manhã no hotel que fica situado no topo do açude Gargalheiras. Chegamos lá já eram umas onze da manhã e pra nossa surpresa, estava recheado com as mais belas representantes da sociedade natalense da época.

Era inacreditável o numero de beldades. Logo se começou outro jogo de burro e o perdedor, teria que sair da nossa mesa, descer as escadas, tocar em um dos carros, e voltar subindo as escadas ate sentar-se novamente à nossa mesa, tudo isso rinchando e dando coices.

Pro meu azar, o perdedor fui eu. Era vergonhoso demais. Neguei-me a ir, e iniciou-se uma discussão ferrenha entre dois grupos, os que apoiavam a minha ida e os que defendiam ser demais.

Xingu, que havia sido o palhaço da noite anterior e muito meu amigo, apoiou a minha decisão, o que me deu um grande respaldo. Márcio Careca estava indignado. Ele queria me ver malhado total.

Combinamos então que eu poderia dar meus trotes de burro na estrada que liga Acari à Currais Novos. Mas que a distancia tinha que ser grande. O triplo do tamanho. Topei e chegando lá, paramos os carros e marcamos uma arvore bem distante pra ser o meio do percurso. Iria ate a arvore e voltava, rinchando, dando coices, e com uma na frente segurando uma rédea imaginaria e outra dando tapas na minha própria bunda, pra incentivar o burro a correr mais.

Quando eu me meti a correr, só escuto um buzinaço e uma gritaria. Todo mundo saiu do restaurante ao mesmo tempo e todas as meninas que lá estavam, agora gritavam e riam daquele sujeito se fazendo de burro. Diminuíram a velocidade e foram me acompanhando ate a arvore. Fechei os olhos e continuei bravamente, debaixo de muito barulho.

Quando finalmente estava no meu caminho de volta, enxergo ao longe os seis galados rolando no chão de tanto rir. E eu vendo, pelo canto do olho, aqueles carros todos devagar, acenando, pulando e gritando, não pensei duas vezes: dei uma ultima rinchada gloriosa e uma arrancada que só parou dentro do carro do Careca, ainda escutando o burburinho da massa.

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