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Thursday, December 20, 2012

Copa do Mundo explosiva

O Brasil perdeu a Copa de 98 como todos sabem, mas isso não foi empecilho para que tomássemos as cervejas que estavam preparadas para serem tomadas em caso de vitória.

Nesse sentido, fomos à Praia do Meio e ao Dom Quixote, onde a juventude se reunia após os jogos. Saímos do fuzuê lá pelas 10:00 da noite. Voltei pra casa com Marcio Bezerra (Marcio Careca).

Quando este estava no caminho da minha casa, percebeu uma barraca de rua que vendia fogos de artifício, afinal, estávamos próximos do São João. Com aquela risada de rapariga típica dele, diz: “Cachorras, vamos fazer um estrago hoje à noite?”

O careca usava uma pochete virada pra frente. Perguntou ao dono da barraca: “Me dê ai cinco bombas bujão da maior que voce tem!”. O rapaz apresenta umas bombas bem grandes e Márcio, do alto de sua experiência, sentencia: “Essas não, eu quero aquelas que voce tem escondido lá embaixo. Aquelas!!!”.

O sujeito se abaixa pra pegar umas bombas que guardava escondido. Nesse momento, o careca começa a colocar as bombas menores dentro de sua pochete. Colocou o que pôde.

Quando o sujeito me mostrou a bomba, eu não acreditei que aquilo pudesse ser vendida assim, pra qualquer civil. Deveria ser de uso exclusivo das forças armadas. Eram maiores do que minha mão. Pagamos pelas bombas e fomos a um posto de gasolina compra cigarros e isqueiro pra fabricarmos nossas bombas-relógio.

Para aqueles que desconhecem esse maravilhoso “device”, darei aqui uma aula de graça. Pega-se um cigarro e retira-se o filtro. A depender da espera que voce deseja, corte o cigarro em duas ou três partes, para ser mais rápido a detonação. Se quer esperar mais, deixe o cigarro inteiro.

Nós cortamos em três partes, afinal não queríamos esperar muito. Coloca-se a parte do cigarro que foi previamente cortada em cima do pavio, fazendo com que o pavio entre dentro do cigarro e fique ali acomodado. Coloque a bomba deitada e contra o vento, para o cigarro não apagar e o plano ir por água abaixo. Acenda o cigarro, dê uma forte tragada para que não pare de queimar, se esconda e observe a detonação e o desespero dos ocupantes do local a ser bombardeado.

Demorava mais ou menos uns 10 minutos, o que dava tempo suficiente para estacionarmos o carro num ponto estratégico e ficarmos na espreita. A primeira vitima foi Alessandro Leão. Ele não sabe quem foram os autores desse bombardeio ate agora. Espero que não queira se vingar de Marcio, uma vez que eu estou bem longe.

Colocamos o dispositivo em cima do muro e estacionamos o carro estrategicamente na casa de Mução (Rodrigo Pastel), que fica à poucas casas da residência de Leão. O estrago foi tão grande que acho que eles pensaram que estavam realizando um ataque aéreo à Natal. Saiu Alessandro, Fabio, Tiago e Mano, o pai deles, todos sem camisa e procurando saber o que houve.

Chegamos bem perto de morrer de tanto rir da reação deles. E esbravejavam que iam matar o filho da puta que fez aquilo. Gritavam: “Apareça, porra!!! Seja homem!!!” E a gente ali, ha poucos metros, tendo contorções de tanto rir.

Como Carlinhos Grilo (Ruy Barbosa) era muito amigo de Tiago Leão, planejei soltar uma bomba na casa da Família Grilo, somente pra semear a discórdia entre as duas famílias.

Armamos a bomba e paramos o carro na Cigarreira do Pedro. Outra vez, sucesso total. Quer dizer, parcial. As luzes da casa se acenderam, abriram a janela da cozinha, mas ninguém saiu na rua. Mas pelo menos acordaram.

Descemos mais um pouco na rua e fomos bombardear a casa da família de Frederico Lemos (O Doido Zé Zuada). Na casa dele foi melhor, pois o portão de grade nos permitiu chegar mais perto da varanda, o que nos deu uma enorme vantagem acústica. Paramos na lagoa de Morro Branco pra assistirmos de camarote.

Dessa vez o estrondo fez tremer até o gol branco do careca. Meu Deus, a cena de Djesum (pai de Frederico) só de bermudas na calcada, doido igual à uma barata que acabou de receber um borrifada de inseticida, correndo de um lado para o outro, procurando identificar o soldado que quase explodira a sua casa, me trás às lagrimas ainda hoje.

Interessante dizer que não havia dialogo entre eu e o careca entra uma missão e outra. Só gargalhadas. Gargalhadas no ultimo volume possível para um ser humano. E batíamos no vidro do carro. E Marcio parava o carro pra não colidir em nada, pois não conseguia ir alem. Recomeçava a andar e logo parava de novo. Senhor, cheguei muito perto mesmo de morrer naquele dia. Minhas tripas davam um nó.

O quarto escolhido para a missão, e como não poderia deixar de ser, foi a casa da família Santiago. Nessa altura, já era umas duas horas da manhã. O silencio na rua Meira Brandão era total. O dispositivo ecoou por toda a Praça Augusto Leite. Dessa vez, curiosamente, não ficamos pra ver quem saiu na rua.

Por fim, fomos na casa de Sérgio Coutinho. Nesse alvo a operação foi fantástica, digna de um soldado do IRA. Resolvemos inovar e colocar a bomba dentro do carteiro. Como ela era tão grande e não passava pela portinhola, tivemos que fazer malabarismos para colocar por dentro do muro. Isso sem falar que Bruma, a Rotweiller não dava sossego.

Conseguimos colocar por dentro do muro, uma vez que a caixa do correio não estava fechada a chave e acendemos. Fomos pra esquina e apagamos as luzes do carro. Quando a bomba estourou, alem de fazer com que o carteiro voasse longe em pedaços, levou também fragmentos do muro, fazendo com que a casa de Sérgio tivesse sido literalmente atingida por um morteiro ou coisa do tipo.

Acho que devido ao isolamento dentro da caixa do carteiro, essa bomba foi de fato perigosa e barulhenta. Não acordou somente a família Coutinho. Os vizinhos da frente e do lado também foram pra rua pra saber o que estava acontecendo. Todos de pijama pensando se tratar da terceira guerra mundial. Devia ter uma aglomeração de pelo menos uns 10 curiosos.

E assim como a Família Leão, gritavam querendo saber quem tinha sido o autor de tal façanha. Ah, se eles fossem andando pro Gol branco de Márcio que estava na esquina. Iriam nos linchar, pois não iríamos conseguir nos mexer de tanto rir.

Monday, December 17, 2012

Sovaco de vala

Na minha época de farras, uma grande pedida era o Circo da Folia que armavam na Festa do Boi, no parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim. Em uma dessas farras, eu estava muitíssimo bem acompanhado. Em um carro estava Miguel Nasser (Miguel Varado) e eu. No outro, Jads Costa (Sovaco de Vala), Carlinhos Brandão Ramalho (Carlinhos Macaco) e Neto Brasil.

Naturalmente, com o dia já claro, estávamos retornando aos nossos lares. Como Sovaco de Vala não tinha condições de se manter em pé, Neto Brasil assume o volante do Santana vermelho de Sovaco e pediu para que nós fossemos o acompanhando ate a casa de Sovaco para pegar ele e Macaco.

O cidadão Sovaco estava deitado no banco da frente (o banco estava deitado) sem camisa e com os dois braços apoiando a cabeça. Como seu apelido se justifica, o sovaco do rapaz fedia de verdade. Irritado com a catinga que exalava do rapaz, Neto Brasil veio da Festa do Boi ate Morro Branco queimando todos os cabelos do sovaco de Jads, um por um, com um isqueiro. Era uma mão no volante e outra no isqueiro. Quando chegou ao seu destino, o Sovaco de Vala estava totalmente depilado. Melhor do que qualquer depiladora.

Sovaco de Vala morava no edifício Sainte-Etienne, ali no cruzamento da Rui Barbosa com a Nascimento de Castro. Neto falou com o porteiro e explicou a situação e ele nos deixou entrar pra levar Jads pro seu apartamento. Ninguém queria subir com o rapaz, com medo de levar bronca dos seus pais.

Foi ai que alguém teve a brilhante idéia. Quem já foi nesse prédio sabe que o estacionamento que não é embaixo dos edifícios fica bem no centro do complexo. E foi ali que Neto estacionou o carro. Eram umas 7:00 da manhã de um sábado.

Primeiro, tiraram a roupa de Sovaco de Vala por completo, deixando-o do jeito que veio ao mundo. Depois abriram as duas portas do carro e ligaram o som no volume máximo. Foi assim que deixaram o rapaz.

Ficamos sabendo depois que choveram ligações para o porteiro, pois as pessoas acordavam com o barulho e quando iam ver, encontravam um cidadão nu com as duas mão na cabeça e deitado tranqüilamente no banco da frente do seu automóvel, com as duas portas abertas, escutando “Praia de Iracema” nas alturas.

O porteiro foi correndo acordar o pai de Sovaco, que até hoje quer conhecer os indivíduos que participaram daquela operação com o filho dele.

Monday, December 3, 2012

O lobo mau e o motoboy

Sábado à noite, eu e meu amigo Luciano Berberick chegamos à casa do ilustre Flávio Santiago (Xingu) para pegá-lo pra tomar umas boas e tocar um pagode. Ao estacionar o carro, percebo um entregador de pizza abrindo o baú da moto e pegando uma pizza que iria ser entregue na casa da família Santiago.

Automaticamente me veio uma idéia. Falei pro entregador: “Quer ganhar cinco reais extra? Me empreste ai o seu capacete que eu vou fazer uma brincadeira com o meu tio. Não se preocupe, eu sou da família”.

Ele acreditou, me deu o capacete e se escondeu juntamente com Luciano. Olhei por cima do muro e seu Rui Santiago (pai de Tapuru, Xingu e Caixa) estava sem camisa, conversando alguma coisa com dona Zélia (a mãe desses três acima), em pé na varanda, olhando pra televisão dentro de casa.

Apertei na campainha e ele falou que já estava indo. Não esperei nem dois segundos, dei três fortes chutes no portão de alumínio e gritei: “Bora, porra!!! Você pensa que eu tenho a noite toda aqui?”

Ele se assustou e veio devagar, arrastando as sandálias. Então falou, abrindo metade do portão, pegando a pizza só com o braço pra fora: “Calma meu rapaz, eu tenho que pegar o dinheiro lá dentro.”

Eu disse, escondendo um pouco a minha cara no portão para não ser reconhecido: “Calma uma porra!!! Você pensa que sou seu empregado pra ficar esperando aqui a noite toda? Vamos logo senão eu quebro esse portão todinho aqui”.

Acredito que ele desconfiou de alguma coisa, mas como poderia alguém saber que ele havia pedido uma pizza? Só podia mesmo ser o cara da pizzaria que estava alterado.

Quando voltou, trouxe Xingu à tiracolo, que foi o portador do dinheiro. Entregando-me a grana, perguntou: “O que é que ta pegando aqui?” Eu falei olhando pra seu Rui: “Foi trazer o filhinho bombado, foi? Você acha que eu tenho medo desse monte de bomba?”

Xingu começou a se inchar e disse: “Esse bicho ta querendo dar alteração é?” Quando ele falou essa frase clássica dele, eu não agüentei e caí na gargalhada. Tirei o capacete e não teve preço a cara de espanto deles. Não tinham outra solução senão rir do meu golpe de mestre.

O entregador ficou pedindo desculpas e todo mundo ficou rindo. Xingu disse: “Papai, como tu não reconhecesse Fabiano?” Seu Rui disse: “Do mesmo jeito que você não reconheceu”. E a gente ria.

Falei que pelo teatro bem feito, eu merecia pelo menos um pedaço daquela pizza. Entramos ainda rindo quando nos deparamos com Dona Zélia, apreensiva olhando para saber o que tinha acontecido.

Quando seu Rui contou, ela ficou brava de verdade. Começou a me xingar, dizendo que seu Rui não era meu amigo e nem tinha a minha idade pra participar de minhas brincadeiras. Fiquei escutando calado a bronca que recebia. Quando olho pro lado, se escondendo atrás da pilastra, seu Rui se acabava de rir da minha situação.

Ele ficava fazendo o sinal de “se fudeu!!!” com as duas mãos e rindo. Como a bronca não parava, fui embora sem comer a pizza, ainda debaixo dos protestos de tão protetora esposa.

Pinel e a carona maldita

Mais um dia de domingo que fomos à noite para Ceará-Mirim. Estávamos bebendo durante o dia, eu, Humberto Grilo (Bebeto da Égua) e Marcelo Filho. Fomos os três no carro de Marcelo Filho. Não sei quando aconteceu, mas ele foi embora e nos deixou por lá.

Por azar, naquele dia, não tinha uma pessoa conhecida em Ceará-Mirim para nos trazer de volta pra Natal. Não tínhamos um tostão furado no bolso. Eu tinha somente um talão de cheques que de nada me adiantava naquela hora. Decidimos então nos sentar na calçada pra esperar o dia amanhecer, afinal, de dia conseguimos pensar melhor.

Eis que surge de repente um conhecido meu, Almeida Junior (Junior Pinel) e pergunta o que estou fazendo ali. Sem responder, pergunto se estão indo pra Natal e se podem dar uma carona pra mim e pra Bebeto. Com a resposta positiva, entramos no carro. Um dos maiores erros da minha vida.

O amigo de Pinel e dono do carro era um tal de Alexandre. Não me perguntem mais nada sobre ele pois eu não sei. Sei que seu carro naquela noite era um gol cinza escuro. Para dar inicio à nossa agonia, eles não pegam a BR que leva até Natal. Ao invés disso, começam a entrar mata adentro. Questiono o porque do caminho alternativo e escuto uma resposta bastante animadora: “Meu irmão, tu acha que esse carro tem documento? Tu acha que esse bicho tem carteira de motorista? Se a gente for pela BR podemos ficar presos na rodoviária, por isso vamos por dentro do mato mesmo!”

“Excelente”, pensei comigo mesmo. Quase no mesmo instante que me calo, surge em nossa frente uma casa na beira de uma estradinha daquelas de barro. E na frente dessa casa, encontra-se um cavalo selado, com arreio e tudo, amarrado em uma arvore, quase em frente à porta da frente dessa casa.

O motorista para o carro e Pinel corre pra desamarrar o cavalo, montando no mesmo e saindo de fininho. O motorista Alexandre achando pouco, corre pra chutar a porta do dono da casa. A porta era daquele tipo que se divide em dois, podendo abrir somente a metade de cima ou somente a metade de baixo, caso o dono prefira.

Ao correr e chutar a porta, a mesma cedeu, pois provavelmente a trava não era de material muito forte. Mas, devido à violência do chute, ele derrubaria até uma porta de concreto. Assim a porta se abre e o rapaz entra de casa adentro, caindo em cima da rede do proprietário, que dormia na sala.

Eu e Bebeto continuávamos sentados no banco de trás, sem acreditar no que estávamos vendo. O dono da casa sai correndo atrás do tal de Alexandre, que chega a tempo ao carro, e acelera, deixando o sujeito para trás. Eu não sabia ainda, mas esse seria um dos dias que mais tive medo na vida.

Olhei para trás e vi a cara de desespero do pobre homem quando olhou pra arvore e não viu seu cavalo. Angustiado, começou a correr atrás do carro, gritando. Há mais ou menos 1km da casa, o cavalou parou e não queria andar nem a pau. Pinel então desceu do bicho e estava tentando tirar a sela quando chegamos. Entrou no carro correndo, com a sela no colo, novamente à tempo do cara não pegá-lo.

Nunca mais esqueço da cara do pobre homem que acabara de perder sua sela, talvez um dos bens mais preciosos que possuía.

Achando pouco, a cada 100 metros que rodávamos, o motorista dava um cavalo de pau. Fomos sair dessas estradas de barro com o dia já amanhecendo, lá pelos lados do setor industrial de Extremoz. As pistas estavam em obras, de maneira que os carros que iam se encontravam com os que vinham, sem ter aquele canteiro central separando as duas pistas.

Ao longe, avistei um ônibus da Guanabara. O tal do Alexandre disse então: “Eu quero ver se esse motorista desse ônibus é macho mesmo! Vou colocar o carro por cima dele pra ver se desvia pro lado ou se bate na gente”.

Nessa hora eu comecei a berrar: “Filha da puta, não faça isso! A gente vai morrer aqui nessa merda, por causa de imbecilidade”. O imbecil não quis conversa e como um kamikaze, mirou o carro de frente com a porra do ônibus. Bebeto dizia, desesperado e batendo no meu braço sem parar: “Das cachorras, ele não vai parar não, estamos fudidos”.Quando chegou bem próximo do ônibus, certo que íamos morrer, fechei os olhos e me preparei pra minha entrada no inferno, afinal o tal do Alexandre ia pra lá com certeza e como eu estava de carona com ele...

No ultimo segundo possível, o motorista do ônibus, talvez com pena de mim que nada tinha a ver com o basquete, joga o ônibus pra cima da calçada, subindo o canteiro e quase virando de lado. Pelo menos quando abri os olhos e olhei pra trás, o ônibus tinha metade das rodas em cima da calçada e metade embaixo e o motorista tentando controlar o veiculo.

Em vez de se conformarem com a sorte, esse fato fez com que os dois bosteiros ganhassem ainda mais coragem. Ao chegarmos na Avenida Tomaz Landin, encontramos uma grande parada de ônibus, que devia reunir no mínimo umas 100 pessoas, que esperavam o transporte para irem pro trabalho, afinal era segunda-feira de manhã.

O endiabrado motorista do gol cinza anuncia: “Vou dar um cavalo de pau no meio dessa gente e não vai ficar um só pra contar a historia!”.

Dito e feito. Botou o carro por cima dos pobres trabalhadores e apertou na buzina sem soltar, o que felizmente alertou-os e todos saíram correndo pra onde podiam, uns pulando no chão, outros subindo na parada. Por outro ato de extrema sorte, ele não machucou ninguém, a não ser talvez com arranhões das quedas, mas não por danos causados pelo carro em si.

Quando o carro parou no fim do cavalo de pau, fiz minha primeira tentativa de fugir. Forcei o banco do carona pra frente, porem o mesmo não ia, pois alem de Pinel fazer força contraria, a sela que estava no colo dele não permitia que eu movesse o banco. E nesse curto tempo, o tal do Alexandre acelerou novamente.

Chegando na Ponte de Igapó, Pinel se cansa e lança a sela do pobre coitado no Rio Potengi, fazendo com que o bem mais caro do sujeito da casinha fosse literalmente de água abaixo.

A agonia continuou ate o sinal da quinze (Bernardo Vieira com Hermes da Fonseca). O carro ficou parado no sinal e não tinha como sair, e como já não tinha mais a sela, forcei minha passagem e consegui sair do carro. Bebeto não conseguiu e foi com ele ate em casa.

Eu posso dizer que aqueles trinta minutos de caminhada que separam esse cruzamento da minha casa foram os minutos mais gostosos da minha vida. O alivio era tão grande que mesmo depois de um domingo de farra e uma noite bastante cansativa e horrenda, caminhar pelas minhas próprias pernas, com a certeza absoluta que nada me aconteceria, me fez chegar em casa cantando, dando bom dia aos passarinhos e aos felizes transeuntes que iam pras suas aulas e trabalhos.

Sorte e azar

Novamente sábado à noite e eu, Sérgio Coutinho (Boy), Humberto Grilo (Bebeto da égua) e George Meira Lima (O Doido) decidimos ir para uma festa em Pedro Velho, na região onde a família do Doido tem fazenda (mal assombrada). Já estávamos os quatro na camionete do Doido quando resolvemos passar na casa da namorada de Bruno da Cunha Lima (Operário Padrão) para botar o homem no caminho da perdição.

Inventamos uma emergência, que foi prontamente acreditada pela namorada do Operário e juntamente com ele, partimos pro nosso destino. Chegando à cidade, obviamente fomos diretamente a um bar. Nesse recinto, dois sujeitos locais não gostaram de nos ver brincando, contando piadas e queriam brigar com nós cinco. É brincadeira?

Falaram, falaram e nós ficamos quietos, pois por sorte deles não estávamos no clima pra briga naquele dia. Os sujeitos reclamavam que havíamos contado uma piada que continha palavrões e que aquilo ali era um ambiente familiar. Eu achava engraçado, pois as mesas do bar estavam na calçada e não tinha ninguém no bar alem de nós sete.

Pra acabar com o clima chato, falei pra eles: “Meus amigos, tudo bem, eu falei palavrão e agora peço desculpas!!!” Disse isso no intuito deles irem embora e que nós continuássemos a brincadeira em paz.

Quando eu me calei, O Doido, que já tinha uma garrafa de coca-cola nas mãos, levanta-se segurando a mesma pelo gargalo e grita: “Cachorra, desculpas não!!! Esses frescos fiquem felizes que não arrombo a boca deles com essa garrafa, mas desculpas não, nós não fizemos nada!!!”

Os caras saíram de fininho e nós, por vias das duvidas, fomos logo pra festa, que era da padroeira da cidade e localizada no meio da rua. Ao chegar na festa, cada folião arranja uma menina pra dançar e tudo parecia bem ate que observo uma pessoa conversando com Bruno e pouco tempo depois, ele sai cabisbaixo e me diz: “Puta que pariu, a empregada da casa da minha namorada me viu aqui, estou fudido, vamos sair dessa porra!!!”

Era o cumulo do azar. Acompanhei o nosso amigo ate outro bar e começamos a descer umas cervejas, comer uma galinha cabidela e reclamar da vida. Eis que a dona do bar aparece, senta à nossa mesa e começa a conversar com a gente. O tema central da conversa era um gato que ela tinha, que dizia ser o xodó dela, que o bicho era inteligente e coisa e tal. Eu já não agüentava mais, ainda mais porque gatos não fazem parte da minha lista de brinquedos prediletos.

Quando já estava perto de irmos embora, pagamos a conta e ficamos ali terminando a cerveja. A dona do bar se distraiu e o gato ficou me olhando, me secando, o puto. Bruno não acreditou quando eu comecei a chamar o gato, oferecendo pedaços da galinha cabidela. Quando o bicho chegou bem perto da minha mão, com a cara de “pidão”, eu dei um chute tão grande na cabeça do felino que o mesmo foi parar no meio da rua. Eu estava de botas.

O pessoal da mesa vizinha viu a cena e foi denunciar à dona do bar. Eu mandei Bruno correr e o mesmo não conseguia, devido à crise de riso por causa da desgraça do gato. Fui embora na frente, nos encontramos no carro do Doido e ficamos esperando pelo resto dos caras, sentados no chão, escorados em um poste.

O Doido não tinha mais condições de dirigir e então Sergio Boy assume a direção. Bruno senta no banco da frente, pois estava passando mal e poderia vomitar a qualquer hora. E não demorou muito. Pediu pra Sérgio parar em um posto de gasolina na estrada e vomitou.

Durante essa parada, um policial militar encosta e pergunta pra onde estávamos indo. Respondemos que para Natal e o mesmo pede uma carona. Imaginem ai a cena: cinco sujeitos bêbados dentro de um carro, já amanhecendo, acompanhados de um policial militar, todo fardado, com boina e tudo.

Ele sentou-se no banco da frente, entre Sérgio e Bruno. George estava sentado atrás de Sérgio, eu estava no meio e atrás do soldado e Bebeto atrás de Bruno. Até então, George estava dormindo, sem camisa e roncando, com a queixo apoiado no peito. Aliás, eu tinha certeza que ele estava dormindo.

Quando menos espero, o Doido dá uma tapa tão forte na cabeça do soldado que a boina dele cai nos pés e o estalo seco da pancada ecoou no carro. Ato contínuo, ele faz que está dormindo novamente. E pra quem o soldado olha puto? Obviamente que para mim, ate porque eu não conseguia parar de rir com o golpe tão certeiro.

O soldado disse: “Meu irmão, que brincadeira é essa? Você ta doido?” E eu sem conseguir parar de rir, respondi: “Meu amigo, não foi eu não. Foi ele.” E apontei pra George, que fingia roncar. “Ele um caralho. Não se faça de doido não, porra”, disse o raivoso soldado. Bebeto chegava a rinchar de tanto rir, o que aumentava ainda mais a raiva do militar, que estava em tempo de pegar seu revolver e matar todo mundo dentro do carro.

Pra encurtar a conversa, o soldado levou mais umas dez tapas de cada um dos passageiros do banco de trás, seguidas de gargalhadas que deixavam o homem doido. Ele já estava mesmo se revoltando de verdade quando Bruno pede pra vomitar novamente em São Jose do Mipibu. O policial desce do carro, esculhambando todo mundo e recusa-se a seguir viagem conosco.

Quando chegamos ao viaduto sobre a BR 101 que vai dar na estrada de Ponta Negra, houve uma rápida votação e os elementos do banco de trás ganharam, pois éramos maior numero e fomos tomar caldo de camarão com cerveja nas barracas de Ponta Negra, pra terminar a noitada.

Lá pelas oito da manha, decidimos ir embora de Ponta Negra. O Doido disse que iria dirigindo e encontrou forte oposição de Sérgio à essa idéia. Acho que Sérgio estava gostando de ser o motorista do bonde. O Doido então pegou a chave das mãos de Sérgio e sentou-se no banco do motorista. Sérgio, de birra, sentou-se em cima do capô do carro e disse: “Quero ver você ir embora comigo aqui!”

O doido não contou conversa e quando vimos aquela cena, não pudemos deixar de gargalhar. Sergio em cima do capô, deitado de barriga pra baixo, sem camisa, somente agarrado pelos limpadores de para brisa, dançando de um lado pro outro, em tempo de cair. Acreditem, o doido só foi parar o carro pra Sérgio entrar quando já estávamos no meio da estrada de Ponta Negra, voltando pra casa. E isso porque a cara de medo de Sérgio já estava dando medo em nós mesmos.

E nossos heróis mais uma vez chegaram em casa sãos e salvos.

Friday, November 30, 2012

O garçom compreensivo

Sábado à noite, nos encontrávamos na casa de Osvaldo Grilo Jr. (Osvaldinho), eu, Alexandre Motta (Pezão), Ranyere Rodrigues (Boca Aberta) e Bruno Galvão (Galegal). Tínhamos dinheiro no bolso, mas não muito. Eis que Pezão aparece com uma idéia brilhante: Porque não ir para a casa de show Mandacaru, beber, comer e sair sem pagar a conta? Dar um famoso cangapé?

Nos não freqüentávamos muito aquele ambiente, de maneira que não éramos conhecidos dos garçons e seguranças, como éramos no Circo da Folia, por exemplo. A proposição foi aceita por todos, menos por Osvaldo, que se recusou a fazer parte de tal ato. Astuta decisão, eu diria.

Fomos em dois carros: eu e Rany na saveiro dele e Pezão e Galegal no gol deste ultimo. Chegando lá, pedimos uma mesa e dois litros de rum, camarão, filé com fritas e tudo o mais que tínhamos direito.

O mulherio não saía de nossa mesa, pensando elas que éramos ricos empresários ou algo assim. Queriam beber? “Podem pedir à vontade”. Esse era o lema. “Coma aqui um camarão, minha filha!”, dizia Pezão. Até o vereador Aquino Neto encostou-se à mesa e ficou por ali um bom tempo.

Lá pelas três da manha, eu disse a Rany: “Já está na hora de pegarmos o beco, bicho.” Chamei Pezão num canto e comuniquei ao mesmo a minha vontade de ir embora. Ele disse: “Então vá indo embora com Ranyere que eu irei entreter o garçom aqui e quando ele der bobeira, eu saio de fininho”.

Dito e feito. O garçom deu uma bobeira e fomos acabar a noitada na Pool Music Hall, somente eu e Ranyere. Quem não se lembra do famoso guarda Bundinha? Que ficava nos sinais de transito com a bunda empinada ao apitar pra alguém? Então, quando voltávamos da Boite já de manha, encontramos o Bundinha caminhando na rua e eu falei pra Ranyere: “Ei, bicho, vai devagar que aquele ali é o guarda Bundinha, o homem dá mais multa do que a porra!!!”.

Ato continuo, em vez de diminuir a velocidade, o rapaz dá um cavalo de pau bem aos pés de Bundinha, fazendo com que o mesmo desse um pulo para não ser atingido.

Rany abriu o vidro bem devagar e disse, sem alarde: “Bundinha, vai tomar no cu, viado!!!”. Engatou uma primeira e saiu bem devagar. Nunca esperei tamanho ato de coragem do Boca Aberta. Nem Bundinha, pois nunca multou o Rany.

Chega a segunda-feira e nenhuma novidade. Mas lá pelas sete da noite, Pezão liga para minha casa, se acabando de rir e disse: “Das cachorras, sabe quem ligou pra mim? Ramires!”. E eu: “Quem porra é Ramires, meu amigo? E o que eu tenho a ver com isso, que esse Ramires ligou pra tu?”

Ele não conseguia falar de tanto que ria. Quando finalmente conseguiu, falou: “Ramires é o garçom do Mandacaru, porra!”. Gelei na hora. Não tinha mais um tostão restante do final de semana. Como iria pagar aquela merda?

Por acaso, Reginaldo Jales (O matuto) estava na área e ajudou na parte logística. Fomos ao famoso colégio CPU buscar a parte de Ranyere. Meu pai me deu a minha parte. Pezão conseguiu a parte dele com o pai também, mas Galegal deu trabalho pra dar o dinheiro, reclamando como se a gente estivesse errado em ir pagar o pobre garçom.

Galegal deu só uma parte da grana, que teve que ser inteirada pelo matuto, que nada tinha a ver com o caso. Galegal teve que inteirar o dinheiro vendendo a bomba do seu aquário, dias depois. Chegamos na porta do Mandacaru, mandamos chamar Ramires e às gargalhadas de vergonha esperamos por ele no carro.

Eu disse logo: “Pezão, tu entrega essa porra ai, que tu es cara de pau mesmo. Eu vou me esconder aqui no banco de trás!”. Pezão quando avistou Ramires disse: “Olá Ramires, quando a gente ia saindo, não encontrou mais você e por isso deu esse mal entendido!”.

Ramires disse: “Rapaz, eu não quero nem saber o que houve. Graças a Deus que vocês trouxeram o dinheiro e pra mim isso basta. Muito obrigado e tenham uma boa noite!”.

Depois de passada a tensão, quis saber de Pezão como porra Ramires tinha localizado a gente. O negocio foi o seguinte. Ramires reconheceu Aquino Neto na nossa mesa e quando fomos embora, ele foi procurar Aquino para conseguir pistas sobre nós. Aquino disse: “Não se preocupe, aqueles meninos são gente boa. Com certeza não fizeram por mal. Inclusive um deles é filho de Bob e tenho aqui o telefone dele!”. 

O matuto salgado

Na época que a turma do Queima Raparigal ainda estava reunida, um dos pontos de encontro da rapaziada era na calçada da casa de Alexandre Motta (Pezão), filho do ilustre Bob Motta.

Um dos costumes de então era o de “salgar” um individuo que falasse alguma merda, alguma coisa absurda, uma mentira ou qualquer coisa que “a comissão” julgasse como merecedora do “salga”.

Salgar uma pessoa era nada mais do que deixar essa pessoa no meio de uma roda de outras pessoas e baixar o cacete até as mãos e os pés dos agressores não agüentassem mais.

E “a comissão” era formada pelo primeiro individuo que identificasse uma merda falada e gritasse: “salga!!!”, tornando a brincadeira altamente democrática.

Porém, era perigoso acusar, pois se ninguém acompanhasse o acusador, ele apanhava também, para aprender a não acusar ninguém em falso.

Nesse sentido, todos tomavam cuidado com o que iriam falar, para não correr o risco de voltar pra casa com as orelhas queimando, a boca cortada ou as costelas avariadas.

Mas, para complicar ainda mais o seu próprio julgamento sobre como se comportar, se o sujeito ficasse muito tempo calado, também apanhava.

Assim, em uma noite em que todos estavam com muita vontade de bater, o nosso amigo Reginaldo Jales (O matuto), resolve abrir a boca e diz: “Ei pessoal, vocês viram que a coca-cola dois litros está em promoção no supermercado Sirva-se? Está custando apenas 2 reais”

Era a deixa que a turma estava esperando. Perguntaram: “O que isso tem a ver com a conversa, Matuto? Salga nele!!!” E baixaram o pau no Matuto.

Ele, do alto de sua ingenuidade, sem saber porque estava apanhando e ainda ofegante por causa da sessão de pau que havia tomado, pergunta: “O que foi, porra, acharam caro?”

Dessa vez, todos se olharam e caíram na risada e gritaram em uníssono: “Salga de novo, filha da puta!!!”

O garçom precavido

Em meados dos anos 1990, Eu, Gustavo Porpino (Gugão), Alexandre Marinho (Ferreirinha) e Janiel Ferreira, fomos para uma excursão do bloco Caju com Sal com destino à Mossoró. Naquele esquema habitual, a cerveja era franca no ônibus ate a chegada ao hotel, no final da tarde.

Já devidamente alojados em nossos quartos, decidimos então beber mais e pedimos uma garrafa de Rum Montilla, um balde de gelo e algumas cocas. Sem que ninguém soubesse, eu tinha armado uma presepada para o pobre garçom.

Quando ele entrou no quarto e colocou a bandeja com as bebidas e o balde de gelo em cima da mesa, eu fechei a porta atrás dele e bloqueando a saída, anunciei: “Meu camarada, a gente pediu bebida somente pra disfarçar, mas o negócio mesmo é que vamos comer teu rabo, fela da gaita?”

Os caras caíram na gargalhada, porém rapidamente entraram na brincadeira. O garçom começou a ficar apavorado e disse: “Rapaz, deixa de brincadeira, vocês uns moços estudados fazendo uma coisas dessas? Já estou no final do meu turno e vocês me arranjam uma presepada dessas?”. E o mais engraçado era que ele não desgrudava da parede nem com a porra.

E eu ia pro lado dele, forçando para que ele descolasse da parede, mas ele parecia que tinha cola nas costas. Então cinturei o camarada e joguei o mesmo na cama. Ele se levantou igual a um gato. Queria ir pra um lado, os caras fechavam a passagem. Queria ir para o outro, nada.

Quando ele ficou encurralado, eu desabotoei a bermuda e gritei: “Segura o homem que agora eu como ele!!!”.

O elemento começou a chorar e ninguém agüentou mais e estouramos na gargalhada. Ele não quis saber, aproveitou o momento de descuido da moçada e saiu voando dali, gritando alguma coisa que eu não entendi.

No outro dia, quando estávamos almoçando, reencontramos o rapaz. Falei pra ele, com um tom de quem está dando uma bronca: “Quero você hoje no nosso quarto novamente, hein? Você fugiu ontem mas de hoje você não escapa!!!”

O garçom, puto da vida, replicou: “Meu amigo, posso ate ser demitido dessa porra, mas no quarto de vocês eu não vou nem a pau! Vocês são todos um bando de frescos. E quer saber de uma coisa? Vá pra puta que pariu, meu amigo!!!”.

As pessoas ao redor não entendiam o porque da revolta do rapaz, e nem porque uma pessoa era desacatada como eu estava sendo e mesmo assim, não conseguia parar de rir.

Thursday, November 29, 2012

Ranyere endoidou

Voltamos ao começo da década de 1990. Em um belo dia de domingo, formamos um quarteto e começamos a beber exageradamente. Eu, Ranyere Rodrigues (Boca aberta), Alexandre Santiago (Tapuru) e Gustavo Porpino (Gugão).

Lá pelas duas horas da tarde iniciamos os trabalhos bebendo rum na casa de Tapuru. Lá pelas cinco, fomos então para o Bar de Dagô, beber cachaça pura. Na época, o point do domingo era a famosa batucada realizada no Hotel Residence. O Bar de Dagô ficava estrategicamente situado nas proximidades do Residence e lá ficávamos abastecendo até a hora de entrar na festa.

Gugão foi literalmente nocauteado, pois saiu de perto da gente sem ninguém perceber e arranjou uma briga em frente ao hotel e foi pra casa todo fudido. Agora só restavam três no exército de brancaleone.

Planejávamos ir à Ceará-Mirim após à batucada. Era praxe na época os homens irem à Ceará-Mirim nos domingos à noite, após saírem das casas das namoradas, pois esta cidade alem de possuir fama de ter muitos cornos, ainda tinha festas muito boas. A faca e o queijo.

Embriagados, éramos três apertados na cabine da saudosa Saveiro cinza do Boca Aberta. Fomos à minha casa, tomei banho, troquei de roupa e fomos à casa de Ranyere, que fez o mesmo. Quando chegamos à casa de Tapuru, o mesmo entra e não consegue sair mais de lá, devido ao alto grau etílico.

Mas, antes de chegarmos à minha casa, paramos em um cruzamento que morava uma garota camada Michelle. Tapuru começa a esculhambar essa menina a partir do nada. Sabe Deus o que deu na cabeça desse homem. Ele gritava: “Michelle, sua puta!!! Michelle, rapariga!!! Michelle... hfgjskenmsjends... hahahahahaha...”

O homem balbuciava coisas que nem ele mesmo entendia e caia na gargalhada, com cara de peixe morto. Uma comedia.

Éramos somente dois agora, cada um pior do que o outro. Eu particularmente já não acreditava que deveríamos ir, mas seguindo minha lógica de então, desistir seria coisa de frouxo. Percebi então que o Boca Aberta estava em pior estado do que eu e fiquei em estado de alerta. Ele dirigia, que beleza.

Chegando em Ceará-Mirim fomos beber cerveja em um bar nas proximidades da festa. Este bar estava lotado e nem vaga pra estacionar o carro achamos. Sentamos e logo em seguida, o carro que estava estacionado na frente do bar sai e Boca Aberta insiste em querer estacionar o dele na vaga, pra colocar música pra gente ouvir.

Fico na mesa sozinho e de repente, escuto um estrondo. Era Ranyere, que ao tentar estacionar o carro, derruba seis motos que estavam estacionadas, uma ao lado da outra.

Comoção geral no bar, todos correm e eu corro pra tentar salvar a situação, levantamos as motos, os donos putos querendo matar Ranyere, eu apaziguando e mantendo todos calmos. A situação era difícil, pois não éramos bem quistos na cidade, afinal, quem era de natal tinha mais chances com as meninas locais.

Miraculosamente, nenhum dano foi causado nas motos. Nem sequer um retrovisor quebrado. Coisas de Deus. Mas mesmo assim os caras estavam irredutíveis. Usei de todo o meu latim e consegui um salvo-conduto. Depois do sufoco, volto pra mesa e lá encontro Ranyere tranqüilamente bebendo, e me pergunta: “Estava aonde, porra? Estou aqui esperando por tu hà duas horas!!! Assim é foda, vai tomar no cu!!!”.

Eu nem tentei explicar pra ele o que estava fazendo, pois quando o mesmo derrubou as motos, desceu do carro, ligou o som, e elegantemente sentou-se à mesa. Fato este que irritou ainda mais os motoqueiros. Eles achavam que Ranyere estava sendo arrogante. Mas a verdade é que a embriaguez fez com que o fato dele derrubar as motos fosse desconhecido pra ele.

Chega então um bêbado de rua no bar e quando Ranyere viu que o cara tinha uma camisa de Zico, com os dizeres “Se futebol tem alma, o nome dela é Zico”, chamou o sujeito pra beber com a gente. Rany queria porque queria trocar sua camisa de mangas compridas, de listras amarelas e azuis, altamente manjada, com a camisa de Zico do elemento. O bebum se recusou veementemente. Sábia decisão.

Por uma grande coincidência, o bêbado recitava um verso que eu havia aprendido com meu avô Juvenal: 

“O Peido que a nêga deu”

“Ninguém viu o que eu vi
Debaixo da gameleira
Foi um tiro de ronqueira
O peido que a nega deu

Abalou todo o Assu
Ela tava mexendo angu
Passou a perna de lado
Deu um peido tão danado
Que quase não cabia no cu”

Foi somente a deixa. Ranyere ria tanto que despejava lágrimas. E pedia pro sujeito repetir. E repetir. E repetir...

Decidimos então não ir para festa alguma, devido à fatiga em estado avançado dos nossos corpos. Saímos do bar e quase Ranyere derruba as motos novamente. Fomos embora ao som de gritos enfurecidos dos presentes.

O Boca Aberta então resolve dar um cavalo de pau numa rua perto da saída pra estrada. Quem gosta de praticar essa peripécia ou quem entende um pouco de alguns princípios da física, sabe que ao finalizar um 180 graus, se o veiculo encontra-se em velocidade acima dos 60 km/h, o carro tende a sair de marcha à ré.

Dessa forma, para evitar que o veiculo saia descontrolado para trás, ou o sujeito aperta no freio ou então engata uma primeira e faz com que o carro vá para frente. Ranyere não fez nenhuma coisa nem outra. Resultado? O carro saiu de ré até encontrar uma calçada elevada e esmagar a tampa traseira da pick-up.

Decidi então tirar o homem da direção, que nem fez resistência. O problema é que tinha deixado meus óculos em casa e não enxergava quase nada, ainda mais à noite. Mais uma vez Deus nos brindava com uma sorte incrível. Gugão havia deixado os óculos dele pelo carro e foi exatamente o que eu usei. O grau dele era bem diferente do meu, mas era melhor do que nada.

Chegamos na minha casa e coloquei o cidadão pra dormir na minha rede. O sossego durou menos de cinco minutos. O bebum começou a passar mal, vomitou o quarto todo e lá pelas tantas da manha, estava de cuecas no banheiro, com meu pai dando banho nesse corno e ele com cara de choro e de cu ao mesmo tempo.

Na segunda-feira pela manhã, Aguinaldo, o pai dele, esperava pelo carro para ir ao trabalho. O bicho acordou naquela de querer consertar o carro, de não ter vontade de se levantar da cama, de querer se matar e não conseguia ver nenhuma saída.

Eu encorajei o mesmo a procurar uma oficina mecânica para consertar o carro para que o pai não visse o estrago. O mecânico trabalhou depressa e lá pelo meio dia, o carro estava pronto.

Pedi então para que ele me deixasse na Cigarreira do Pedro e fosse embora, pois seu pai devia estar louco procurando por ele. Desci do carro e eis que o sujeito desce atrás. Eu perguntei: “Tu vai pra onde, Ranyere? Teu pai vai te enrabar, bicho. É melhor você pegar o beco”.

Ele nada disse. Pediu uma coca-cola e um Pingo de Ouro à Pedro e sentou-se para juntar-se a nós pra uma partida de dominó. Depois de sentado, ele disse: “Rapaz, eu queria morrer aqui sentado, mas ir pra casa agora é foda. O que vou escutar do meu pai, não desejaria nem pro meu pior inimigo”.

E ficou por lá até eu voltar pra casa e ir dormir novamente, aumentando a raiva do pai, que aflito não podia ir trabalhar.

Semana Santa em Maceió

No final da década de 1990, resolvemos passar a semana Santa em Maceió. Fomos eu, George Meira Lima (o Doido), Alexandre Santiago (Tapuru) e Staine Darlan (Funil). Na ida, causamos logo ótima impressão no resto dos passageiros da excursão. Com um botijão de vinho barato de cinco litros, bebemos a noite inteira, sem deixar o resto dos viajantes dormirem no trajeto Natal-Maceió.

Fazendo questão de sermos chatos, cantávamos em homenagem ao nosso amigo Funil: “Chegou a turma do funil, todo mundo bebe mas ninguém dorme no ponto, Ha, Ha, Ha, Ha, mas ninguém dorme no ponto, nós é que bebemos e eles que ficam tontos!!!”

Na parte do “Ha, Ha, Ha, Ha”, o Doido fazia uma risada alta, que acordava até quem estava do lado de fora do ônibus. Não preciso dizer que chegamos no hotel altamente bem quistos pelo resto do grupo. Demos um rápido cochilo e logo estávamos na piscina do hotel, enchendo o tanque para irmos à noite alagoana.

Ao voltarmos pro hotel, mais ou menos às quatro da manhã, o Doido teve uma idéia típica dele. Cada um teria que atravessar o corredor inteiro, chutar e dar murros na porta de um outro hospede, desconhecido, que se situava na outra extremidade do corredor, e voltar correndo, totalmente exposto, para o nosso quarto de volta.

Quem não fosse estaria punido com uma sarrafo dos outros. Ao terminar de falar a idéia, ele mesmo correu e começou a desferir chutes e pontapés na porta combinada. Eu não acreditava no que via, mas não conseguia parar de rir. Quando ele voltou, me adiantei e fui em segundo. No caminho, pensava: “Puta que pariu, como sou o segundo, esse porra desse hospede vai estar atrás da porta, quando eu bater, ele vai me fuder!!!”. Mas mesmo assim, permaneci no meu objetivo e enfiei o cacete na porta do sujeito.


A risadagem dos caras era mais alta do que as pancadas. Consegui voltar são e salvo, graças a Deus. Tapuru e Funil se engalfinhavam pra saber quem seria o próximo. Funil venceu a guerra e partiu em sua missão. Voltou e lá foi Tapuru. Para dar uma de esperto, Tapuru retira os tênis pra poder correr mais. Aproveitando-se dessa mancada, quando Tapuru já vinha chegando, esbaforido, os caras jogaram os sapatos dele novamente perto da porta do sujeito. A cara de choro que Tapuru fez foi digna de um Oscar.

Com pena de Tapuru, armei uma sacanagem para Funil e o Doido, que estavam no quarto em frente ao nosso. Deixei passar um tempo e com um pano no telefone para disfarçar a voz, liguei para o quarto deles dizendo ser da recepção. Falei: “Boa noite, recebemos uma reclamação do quarto 322. O hospede alega que a porta dele foi esmurrada e que ele viu os agressores entrarem no quarto de vocês”.

Funil, com o cu na mão, respondeu: “Rapaz, não foi a gente não. A gente está dormindo aqui desde cedo”.

Eu então fingindo ser o recepcionista, respondi: “Como ninguém é culpado até que prove o contrario, eu vou averiguar o fato e retorno a ligação caso seja confirmado a denúncia”.

Passa-se alguns segundos e os dois batem na porta do nosso quarto, sussurando: “Cachorra, Tapuru, deu merda. O cara da recepção ligou aqui dizendo que o cara viu a gente!”

Eu abri a porta e perguntei: “Viu a gente ou viu vocês? Sim, porque se ele viu somente vocês, vão lá e conversem, não metam a gente nessa porra não, pois se fosse com a gente, vocês iriam tirar a bunda da seringa!!!”

Os dois saíram putos e logo em seguida em liguei novamente: “Boa noite, sim, averiguamos e de fato o hospede aponta vocês como culpados. Vocês poderiam vir aqui na recepção para esclarecermos esse fato?” Tapuru quase tinha um ataque de riso enrolado no lençol, para não fazer barulho com sua risada.

Funil respondeu: “Está certo, estamos indo aí agora”.

Na passagem, o Doido ainda bateu na porta do quarto e disse: “Ei, porra, vamos lá com a gente, deu merda, deu merda!!!”

Nós fingimos estar dormindo e eles se foram. Fomos atrás pra ver a marmota, mas sem que nos vissem. Chegaram na recepção, deram boa noite ao recepcionista e ficaram esperando o mesmo falar. Como ele não falou nada, eles disseram: “Somos os hospedes do quarto 311”. O recepcionista olhou com cara de “E dai?”, e eles disseram: “Você não chamou a gente agora? estamos aqui.”

E o cara falou: “Eu chamei? Eu não chamei ninguém aqui, estão malucos?”. Funil falou: “Como não chamou, porra? acabou de telefonar mandando a gente vir aqui, que palhaçada é essa?”

Ficaram nessa discussão por um tempo e depois voltaram pro quarto putos com o recepcionista. Não falaram mais no assunto quando acordaram e também nos fizemos de doidos. Quando já estávamos chegando em Natal, eu cheguei perto de Funil e falei, com a mesma voz que fiz quando liguei pra ele: “Boa noite, recebemos uma reclamação do quarto 322...”

Ao perceber que tinha caído numa sacanagem, Funil fica olhando com a cara de puto, enquanto o Doido começa a gritar: “Funil, como tu não percebeu que era esse homem, porra?”

E a briga entra eles foi o motivo de pelo menos mais meia hora de riso, que ajudou a amenizar o tédio da viagem de volta. E o que fez com que os passageiros da excursão, sem paz na ida, também nao tivessem paz na volta.

O Chevette Folião

Essa história se passou no inicio da década de 1990. O local era Pirangi do Norte, litoral sul do Estado do Rio Grande do Norte. Como de costume, quando íamos para as noitadas no famoso e saudoso Circo da Folia, guardávamos nossos carros ("nossos" é modo de dizer) na casa de Léo Leite, pois além do amplo terreno para estacionamento, sua casa ainda era bem próxima deste clube.

Para completar ainda mais o quadro, era período carnavalesco, onde os níveis etílicos não possuem limites. Assim, da noite do domingo para a manhã da segunda-feira, voltávamos calmamente para a rotineira missão de entrar nos nossos carros e "responsavelmente" nos dirigirmos para nossos leitos.

Para nossa surpresa, Léo reconheceu um Chevette branco como não sendo de nenhum conhecido dele e ordenou que tirássemos o veiculo não identificado de lá, naquele mesmo instante.

O Chevette estava amassado na parte dianteira, que visivelmente tinha sido resultado de algum acidente no período do reinado de momo. O que Léo não sabia era que o dono do Chevette, no domingo à tarde, pedira aos seus pais para guardar o carro ali até a chegada de um guincho, na segunda-feira, para levar o carro até Natal.

Desconhecendo esse fato, Léo, nervoso, pede que retirassemos o automóvel de dentro dos limites da sua propriedade. Até hoje eu nao sei o que o motivou a isso, pois como a tartaruga em cima do poste, o Chevette nao teria ido parar ali sozinho e nem muito menos sem o conhecimento dos pais dele.

Mas enfim, éramos sete elementos empurrando o carro e Piteno sentado ao banco do motorista, guiando o trajeto do carro. Quando o carro atingiu a rua, cada indivíduo envolvido nessa operação, arrancou um souvenir do carro. Logo após todos os assessórios terem sido subtraídos, Piteno, que estava ao volante retornou ao seu posto e disse: “Empurrem mais, pois o carro ainda não está bem estacionado!!!”

Contrariados, recomeçamos o trabalho. Piteno, ao volante, agora estava tendo o carro sendo movido à marcha ré e ele estava com um pé dentro do carro e outro fora, fingindo também estar fazendo força. Começamos então a perceber a intenção do “motorista”, que era supostamente nos fazer um susto, pois a casa da esquina, vizinha à do nosso amigo, tinha o terreno rebaixado e o nível do teto era quase que no mesmo nível da rua. Pensávamos então que ele iria levar o carro até o limite do muro e chegando ali, freasse o veiculo.

Para nosso espanto, Piteno começa a olhar para a gente, aperta repetidamente na embreagem, alegando estar pisando no freio e diz, com cara de puta: “O carro não quer parar não, faltou freio, faltou freio!!!”

Quando ele viu que o carro atingiu velocidade suficiente para não parar mais, o mesmo pula do veiculo, que despenca casa abaixo, ficando com a traseira quase se encostando ao chão e a frente quase que em 90 graus, com a barriga apoiada no que restou do muro.

Evidentemente, não ficou alma viva no local após essa grande merda. Cada um agarrou seu souvenir e desapareceu dali em questão de segundos. Eu estava de carona com Marcos Ribeiro (Marquinhos da Bhrama) que tinha uma pick-up Pampa, e que colocou o pára-brisa do Chevette na carroceria da pick-up. Eu tinha o meu souvenir nas mãos, um toca-fitas TKR que a fita entrava de frente (que segundo os especialistas da época, era o melhor do mercado) e lá estava ainda em estado de choque, resultando da cena que havia presenciado momentos antes.

Marquinhos, lógico, não estava devagar e na passagem do primeiro quebra-molas, escutamos um estrondo terrível: o pára-brisa que estava tranqüilamente instalado no Chevette momentos antes, agora estava reduzido à milhões de cacos. Bem, pensei: “Que se foda o pára-brisa, pelo menos o meu toca-fitas está inteiro!”.

Ledo engano. Ao chegar no hotel onde estávamos hospedados em Búzios, escondi o toca-fitas num arbusto para que meus pais não questionassem sobre a origem do mesmo. Entrei no chalé, e minha mãe que já estava acordada, começou a conversar alguma coisa comigo, que não lembro o que era pois não dava à mínima atenção.

Minha atenção estava voltada para o lado de fora, onde eu assistia impotentemente o jardineiro pegar o toca-fitas que eu havia escondido tão brilhantemente. Pensei em ir lá fora, agarrar ele pelo pescoço, mas minha mãe perguntou “aonde você vai?” e me seguiu até a varanda. Observei ele se afastar com meu brinde nas mãos, olhando para mim e sorrindo. O que eu iria fazer? Chamar a policia para denunciar que o jardineiro roubava um toca-fitas que não era meu?

Quanto à Pampa do meu amigo, acredito que esteja onde aquela Pampa estiver, ainda possui cacos de vidros do pára-brisa quebrado.Questionado sobre o episodio anos depois, Leo Leite disse que passou mal naquele dia de tanta raiva, quase tendo um enfarto. Sem, lógico, ir dormir sem levar uma surra dos pais, que acordaram quando todos já estavam bem longe dali.