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Thursday, October 31, 2013

Rainer e o chocolate

Rainer Patriota, certa vez, trocou a noite pelo dia e fomos saborear uma gostosa cerveja ao som do seu violão, na minha casa. Começamos os trabalhos por volta do meio-dia e quando foi lá pelas seis da tarde, meu irmão chega, procurando por uma barra de chocolate branco que alguém tinha lhe dado. Ele tinha certeza que havia colocado a dita cuja no congelador.

Meu irmão, então, começou a me acusar de ter dado cabo do chocolate, pois eu fiquei rindo da cara dele. Eu neguei, avisando, inclusive, que não gostava de chocolate branco. Ele disse que se o chocolate dele não aparecesse, ele iria comer a minha barra que também estava no congelador, só que de chocolate preto. Eu avisei que caso ele fizesse isso, o pau iria comer, pois eu não tinha nada a ver se ele tinha perdido o chocolate dele.

Dito e feito. O atrevido foi e mordeu o chocolate na minha frente. Como eu não poderia deixar a minha palavra solta no ar, meti-lhe a mão nas fuças e o pau cantou dentro de casa. Minha mãe, sozinha em casa, tentou apartar a briga, mas, no meio do tumulto, caiu no chão e começou a chorar.

Chamou Rainer para nos separar, mas medroso como era, só ficou tentando parar com a voz, não chegou perto para segurar ninguém, o que aumentava o desespero da minha pobre mãe.

Quando enfim paramos a briga, ela telefonou para o meu pai, que veio saber o que estava acontecendo. Tomamos banho para irmos ver nossas namoradas, mas meu pai mandou que entrássemos no carro com ele, os dois. Dirigiu por uns dois quarteirões, desceu do carro e disse para mim, com muita raiva e gritando: “Você vai dirigindo o carro agora, vai deixar seu irmão na casa da namorada dele e quando ele terminar, você vai buscar. Quero ver se vocês vão se matar no caminho”.

Não fui buscá-lo e passamos uns seis meses sem nos falarmos. Depois disso, nós ficamos amigos novamente, melhor até do que antes. Mas eis que Fábio encontra com Rainer na rua uns dois anos depois e este confessa ter sido ele quem comeu o chocolate, aos poucos, toda vez que ia buscar uma cerveja no congelador.

Eu não sabia até então o porquê de Rainer ser sempre tão solícito a respeito de ir buscar a próxima cerveja, mas estava achando bom, que nem da cadeira eu me levantava. Meu irmão então pediu desculpas e me deixou com o gosto de ter a certeza de que o tempo sempre trabalha junto de quem é honesto. Um dia a verdade aparece. Se isso serviu para alguma coisa, desse dia em diante, eu e meu irmão nunca mais tivemos uma briga.

Wednesday, October 30, 2013

Cena Urbana: Luiza!

Durante quase toda a minha infância, adolescência completa e começo da vida adulta, eu fui vizinho do jornalista Vicente Serejo, muro com muro. Apesar de gostar muito das filhas dele, Silvinha e Odyle, o barulho da máquina de Serejo perturbava a noite inteira.

Não por vingança, mas por coincidência, no final de semana eu descontava, quando fazia minhas bebedeiras lá em casa, principalmente quando estava em uma varanda que ficava a poucos metros da sala deles.

Certa ocasião, um grande amigo meu, Rainer Patriota, que é o filho do também jornalista Nelson Patriota, estava nessa varanda para uma noitada de boemia. Rainer é o maior violonista que eu já vi, mas não tinha muita resistência etílica e bebia, dormia, acordava, bebia de novo, sempre tocando.

Por incrível que pareça, consegui levar o homem na conversa e na geladinha até o sol raiar. Ninguém já aguentava mais falar, mas Rainer pegou o violão e tocou uma versão instrumental de “Luiza”, de Tom Jobim, numa versão parecidíssima com a que o grande violonista Raphael Rabello tocava. E repetiu a mesma música sem parar. E foi assim que fui dormir, ao som de Luiza.

Na semana seguinte, quando vou chegando em casa, Silvinha me para e diz que tem um presente para me dar. Era a coluna de Vicente Serejo, “Cena Urbana”, daquela semana. Silvinha me disse que ele estava falando de mim no jornal.

Quando peguei o jornal, pensei: “Puta que pariu, será que ele tá me detonando?” Mas, para minha surpresa, ele elogiava o fato de ter sido acordado com “Luiza” e o gosto musical do vizinho, que tinha escolhido a versão maravilhosa de Raphael Rabello.

Só que não era Raphael Rabello, era Rainer Patriota. Mas a versão era tão similar que seria impossível Serejo distinguir uma da outra. Se não foi possível fazer justiça completa naquela época, faço agora com o grande Rainer. Pena que ele largou o violão para tocar Viola de Gamba. Hoje é um austero professor de filosofia. Só espero que não seja avesso a noitadas, pois seria um desperdício aos que amam essa vida.

* Video de Raphael tocando Luiza.



Monday, July 29, 2013

O passeio à casa de Pezão

Naquela ânsia desenfreada de quem está começando a dirigir, eu pedia o carro ao meu pai toda a hora que ele aparecia na minha frente.

- “Eu vou comprar pão!”, dizia eu, entusiasmado.

Ou então, “Papai, deixe-me dar uma volta no quarteirão”.

Nessa noite, pedi o carro pra ir dar uma voltinha na casa de Pezão. Chegando lá, não tinha ninguém, somente Reginaldo Matuto se encontrava na calçada, esperando por alguém chegar. Quando desliguei o carro, ele me contou que estava sendo realizado uma festa de São João no colégio objetivo, lá em Petrópolis e que todo mundo devia estar lá.

Petrópolis é um bairro afastado da minha casa, que é em Morro Branco. E eu nunca tinha saído de Morro Branco dirigindo, mas não podia deixar que isso me impedisse de ir à tal festa. O Matuto entra no carro e zarpamos pra diversão, sem se importar com o fato de meu pai ter autorizado somente a minha ida à casa de Pezão, que ficava há 2 quarteirões de distancia.

Tudo corria bem ate que de repente surge uma “boca de lobo” na nossa frente. Tratava-se de uma tampa de bueiro da CAERN , bem alta, sobressaindo do calçamento. Reginaldo disse-me para desviar e eu disse que não, que dava pra passar por baixo do carro sem problemas.

Só escutamos aquele barulho gigantesco e a partir disso, nada adiantava se eu girasse a direção do carro toda pro lado direito ou toda pro lado esquerda, o veiculo continuava indo reto. Havia quebrado a caixa de direção por completo e não tinha jeito do carro andar, para que eu mentisse pro meu pai, dizendo que o acidente havia sido perto de casa.

Nessa época ninguém nem sonhava que existia o tal do telefone celular. Então corremos pro Sandunas e lá encontramos uns amigos muito gente boa. Piteno, Pezão e Segundo (José Caldas Marinho), todos num Selvagem de propriedade deste ultimo.

Contamos o ocorrido, todos riram bastante da minha situação, como não podia deixar de ser diferente, e fomos analisar o carro. Quando chegamos a conclusão que o mesmo não teria jeito, resolvemos ir na minha casa contar ao meu pai. Fomos os cinco.

Chegando lá, meu pai estava na varanda e já foi perguntando pelo carro. Eu falei que o carro havia quebrado. Onde, ele perguntou. Ali, eu respondi. Ali aonde, meu filho, insistiu ele. Ali perto do objetivo (eu pronunciei esta ultima palavra na VDM, velocidade de dicção máxima), disse eu tentando enrolar. Perto de onde, se assustou o homem.

Nesse momento, os quatro indivíduos ficaram escondidos atrás do muro, pois já sabiam a reação escandalosa que minha mãe iria dar. No que meu pai está vestindo a camisa pra ir tentar consertar a merda que eu tinha feito, minha mãe sai lá de dentro perguntando o que houve. Quando eu tentei dizer, já veio com a gritaria, me chamando disso, e daquilo, pra deleite dos senhores que assistiam de camarote. Começaram a gritar e gargalhar e fugiram, deixando somente Piteno, que já havia pego a sua canoa.

Assim, saímos eu, papai e Piteno pro local do crime. Chegando lá, papai foi olhar embaixo do carro o estrago que havia sido feito. Nesse momento, o selvagem de Segundo já estava lá novamente, acompanhado agora do bugre Cobra de Marcio Cachaça.

Cachaça, pensando se tratar de um de nós embaixo do carro, encosta o bugre bem perto e diz: “O que esse mecânico buceta pensa que vai consertar”?

Meu pai se levanta e diz, com cara de poucos amigos: “Eu não vou consertar porra nenhuma, pois eu não sou mecânico!” Cachaça diz: “Eita, porra, foi mal!”, e vai embora, com cara de rapariga. Você imagine ai a minha situação.

O fato é que o carro teve que ser rebocado pra Espacial Veículos , o fato é que não teve festa de São João no Objetivo nenhuma, o fato é que eu fui motivo de piada por uns seis meses e o fato é que até o dia que faleceu, meu pai não pronunciou uma palavra sobre o ocorrido. Isso é que é ter elegância.

Friday, July 26, 2013

Das Cachorras

No decorrer desses quase 20 anos de existência, já ouvi inúmeras versões sobre a origem do meu apelido. Gente que jura que estava comigo quando eu fui ter relações sexuais com cadelas. Gente que jura que sabia que eu tinha um canil que só tinha cadelas e o único cachorro era eu. E por ai vão as insanidades. Mas a verdade é só uma.

Estava sendo realizado no Colégio Nossa Senhora das Neves, onde eu estudava, a feira de ciências que todo colégio realizava em um determinado período do ano. Eu tinha então 14 anos e cursava a oitava série do primeiro grau.

Planejamos ir pra tal feira de ciências, pois apesar de ninguém ter interesse algum na ciência, tínhamos sim interesse no monte de meninas que por lá se encontravam, pois nesses eventos, o menos importante era o que estava sendo exposto e sim o fato de que todos as pessoas da cidade da nossa idade estariam lá.

Pra apimentar mais um pouco a história, resolvemos passar num bar bastante conhecido da minha época chamado Trovão Azul, localizado ali na Afonso Pena, já perto do CCAB Norte. A intenção era tomar umas cinco cervejas e partir pro destino final.

Chegando no Trovão, não sei porque resolvemos trocar e ir pro bar vizinho, o Bar do Ednaldo. Pelo que me lembro, estava fazendo um sol forte no Trovão naquela hora do dia e no Ednaldo (hoje Cantina do Ednaldo) tinha sombra, qualquer coisa assim. Talvez se tivéssemos ficado no Trovão esse apelido nem existiria. O fato é que estavam eu, Frederico Lemos (o doido Zé Zuada), Leonardo Leite, e o nosso famoso Carlos Eduardo Mello (Piteno), hoje vegetariano.

Após meia grade de cerveja e eu já embriagado, devido ao inexistente costume do meu organismo ao álcool, chega outro carro com mais quatro indivíduos dentro, e eles eram Denis Zambon, Vlaviano, Gley Karlys (Araci de Almeida) e Fernando Bastos (Fernandinho).

Quando a primeira grade foi completada, eu não sabia mais onde era o céu e nem onde era o chão. Comecei a ver o mundo rodar e obvio, debaixo da gargalhada geral, pois todos já eram mais velhos e bebiam bastante, fui me sentar no chão, encostado no muro, por acreditar que dali não cairia.

A sensação era terrível, a vontade de vomitar era enorme e eu não pude conter. Vomitei tudo o que tinha bebido, tudo o que tinha comido e mais alguma coisa. Ednaldo tinha uma cadela chamada Xuxa, que sempre ficava na porta do banheiro. Ela foi atraída pelo vomito e começou a lamber o mesmo.

Mas em nenhum momento ela me lambeu, como alega o senhor Gley, e eu posso afirmar categoricamente isso, pois em nenhum momento eu dormi, estava acordado o tempo todo, e estava sentado, não deitado como aumentou o Araci de Almeida.

A cadela veio, lambeu o vomito e se entrou novamente no bar. Essa operação não durou mais que dois minutos. Mas a historia que o senhor Gley saiu contando por ai foi que ela me lembeu todo, inclusive na boca. É um filha da puta. Então me apareceu poucos dias depois na casa de Pezão, numa das reuniões diárias, e quando me viu, já saiu do carro dizendo: “Ei, pessoal, conhecem aqui o Das Cachorras?”

Evidentemente, todos ali adoraram e o apelido se espalhou como água. Por causa desse cretino, tem gente que me conhece há quase vinte anos e não sabe que o meu nome é Fabiano.

Eu não sei qual coisa boa Gley fez na vida, mas que eles fez duas merdas grandes, isso eu posso afirmar. Uma foi ter colocado esse apelido na minha digníssima pessoa e a outra foi ter projetado o Frasqueirão, o campinho do ABC Futebol Clube. Nem pra projetar um pro meu glorioso América ele presta.

Wednesday, July 24, 2013

Carlinho Grilo e o freezer

Quando o meu compadre Bebeto Grilo casou, foi morar na fazenda da Família, no município de Espírito Santo, lá perto de Nova Cruz e Santo Antonio do Salto da Onça.

Bebeto vem a ser irmão de Carlinhos Grilo, de Osvaldo Grilo e de Liginha, e também filho de Seu Osvaldo e Dona Teresinha, família tão querida e amiga que mora na mesma rua que meu pai há quase 30 anos, e onde eu morei desde os 3 anos de idade até os 24, quando me mudei pro Canadá.

Como presente de casamento, Bebeto ganhou um freezer horizontal, daqueles usados nos bares pra estocar cerveja e refrigerante, presente de sua avó e que deveriam levar pra fazenda. Em vez de cerveja, Bebeto iria armazenar o leite tirado do gado da fazenda.

Paulo Frederico, também conhecido como Fredeca, se ofereceu pra levar o freezer em sua camionete S10, afinal tudo era motivo pra ir até a fazenda Jardim Santa Tereza pra uma boa cachaça e se tivesse sorte, ainda teriam a companhia do grande Chico Preto, trabalhador antigo da fazenda.

Fredeca, com a ajuda de Rui Barbosa, amarrou o freezer na caçamba da camionete e partiram contentes pra fazenda. Eis que o nó que foi dado não foi muito eficiente e a corda começou a se soltar aos poucos. Quando estavam na BR 101, já chegando em Goianinha, encontram uma ladeira e “responsavelmente”, Fredeca promete colar o ponteiro da camionete, somente pra dar mais um pouco de emoção à viagem.

Vinham com os vidros abertos, mas pra ganhar mais velocidade, resolveram fecha-los. Só a física explica, mas nessa hora, um vento canalizado conseguiu penetrar por baixo do frigobar, que fez com o mesmo fosse parar em plena rodovia.

Foi uma sorte tremenda que não vinha nenhum carro atrás deles, pois caso contrario, ambos estariam na cadeia até hoje pagando por homicídio culposo. O mais próximo de um assassinato foi um sujeito que vinha em uma bicicleta no acostamento.

O sujeito viu aquela geladeira vindo em sua direção, puxou pra um lado, a bicha foi pro mesmo lado, puxou pro outro, ela foi pro outro, mas ele, malandro, conseguiu driblar o objeto voador identificado, afinal, o nordestino é antes de tudo um forte.

Na hora que o carro foi aliviado no peso do frigobar, o motorista percebeu de imediato e olhou pro retrovisor pra ver o estrago. Avisou a Carlinhos e voltaram pra tentar recuperar o eletrodoméstico.

O que restou do freezer era uma massa destruída, um pouco maior do que um frigobar. Os dois recolheram o troço e colocaram na camionete outra vez, dessa vez amarrando bem firme o nó, como se fosse adiantar alguma coisa.

Chegando na fazenda, o Seu Osvaldo esperava por eles na varanda da casa, ansioso pra ver o freezer funcionando. Quando viu o estado em que se encontrava os restos mortais, não acreditou no que via e perguntou ao Rui Barbosa:

- “Carlinhos, esse freezer é Cônsul, não é?”

- “É papai, é Cônsul”, respondeu Carlinhos.

- “Você sabe onde é a fábrica da Cônsul?”, perguntou Seu Osvaldo.

- “Sei não, papai”, retrucou Carlinhos.

- “A fábrica da Cônsul é lá no Rio Grande do Sul. E como nós estamos no Rio Grande do Norte, trata-se de uma grande viagem. Mesmo com essa grande viagem, os freezers vêm amontoados em cima de um caminhão e nenhum cai, ta me entendendo, nenhum!! Como você não consegue trazer essa merda de Natal pra Espírito Santo sem derrubar, Carlinhos? Desapareça com essa merda da minha frente e traga ela inteira e funcionando aqui amanha. Mas dessa vez amarre essa porra com vontade!!!”

Carlinhos e Fred se segurando pra não rirem na frente de Seu Osvaldo, recolhem o ferro-velho e colocam novamente na camionete, com a ingrata missão de arranjarem um lugar pra consertarem aquele amontoado de ferro.

Tuesday, July 23, 2013

Carlinhos Grilo e o casamento

Voltando do Iate Clube onde disputávamos amadoríssimas partidas de tênis, eu e Carlinhos Grilo, o jovem deputado, também conhecido por Rui Barbosa, não pela inteligência mas pelo tamanho da cabeça, tivemos que parar em um semáforo.

Carlinhos fica calado e observando dentro de uma igrejinha, que fica ali na Ribeira, perto da ladeira de Marpas , onde estava sendo realizado um casamento. O sinal abriu e em vez dele sair, ele deu a volta e parou o carro e disse, com cara de puta:

- “Fabiano, você quer ver como estragar a vida de um cara inseguro?”

Curioso, quis saber do que ele estava falando. Com o carro ainda ligado e pronto pra fuga, o escroto do cabeção desce e só de bermudas e camisa, todo suado, grita pra dentro da igreja:

- “Rapaz, não case não, tu é corno, todo mundo sabe. Tu vai casar mesmo? Ha ha ha ha... nao faça essa besteira, rapaz... ha ha ha ha... nao case, tu é corno... ha ha ha ha... CORNO SAFADO!!!”

Ele falava e ria ao mesmo tempo, o que dava mais autenticidade ao seu discurso, como se de fato soubesse de alguma coisa da vida daquele pobre noivo que o mesmo desconhecia. O pobre diabo começou a se dirigir à porta e Carlinhos, que não é bobo, correu pra dentro do carro e fomos embora. Eu sem acreditar no que estava presenciando.

O bicho gargalhava tanto que eu pensei que ele ia morrer ou me matar, num acidente automobilístico. Quando ele conseguiu se controlar um pouco, já perto de casa, ele disse, com a naturalidade de um assassino em série:

- “Fabiano, esse rapaz nunca mais vai ter paz na vida. Se a noiva for puta, vai telefonar agora pros caras que comeram ela, pedindo explicações. Se for santa, vai ficar com fama de puta entre o noivo e os amigos e familiares. Já pensou, que azar desse cara a gente ter passado por aqui agora?”

- “A gente uma porra, você que fez a merda. Não coloque mais essa na minha já extensa lista de pecados”, rebati assustado.

Ele insistia que eu dei apoio e que eu poderia ter impedido que o mesmo fizesse tamanho desatino. Eu só sei que esse foi o maior ato de crueldade gratuita que eu já vi alguém cometer na vida. Se você casou nessa igreja por fim dos anos 1990 e acha que é corno, fique aliviado e saiba que tudo não passou de mais uma fuleiragem do nosso Rui Barbosa.

Monday, July 22, 2013

Tapuru perde a linha


Numa daquelas canas malucas, eu e Schiavo resolvemos ir tomar uma na casa de Bigode, na praia de Caraubas. Sabíamos que Tapuru estava em Muriú, tomando uma na casa do seu primo Ronaldo. Passamos por lá no caminho para levarmos o grande Tapuru conosco.

Acontece que o mesmo já estava morto de embriagado naquele momento e insistiu em ir dirigindo o seu próprio veiculo, o que fortemente desaconselhamos o rapaz, mas diante de sua teimosia conhecida até por Bento 16, resolvemos ir um carro atrás do outro.

Quando estávamos quase saindo de Barra de Maxaranguape, o bebum Tapuru nao parou em um cruzamento que era suposto parar e colide com uma senhora que dirigia um surrado Chevette e que estava acompanhada dos filhos e de outra amiga.

Ao bater no carro, a primeira reação do mago velho foi ir embora, pra nao ter que pagar a conta. Mas a mulher era obstinada e seguiu o mesmo até perto de caraubas, onde dá uma fechada no Tapura, obrigando o mesmo a parar o carro pro estrago nao ser maior.

A gente havia visto a batida e entramos no ritmo de fuga juntamente com o infrator e como nao víamos mais Tapuru no retrovisor, resolvemos voltar pra ver o que tinha acontecido com o rapaz.

A mulher chamava Tapuru de irresponsável e Tapuru rebatia dizendo que ia pagar. Ela indagava como ia pagar se ele estava fugindo. Tapuru nao tinha nada a dizer, só repetia que ia pagar o prejuízo dela. Ela dizia que queria o dinheiro na hora e que ia chamar o marido pra resolver a questão. Tapuru repetia calmamente que iria pagar na segunda, que ali nao possuía o montante.

E a discussão continuava em círculos, com a senhora argumentando que Tapuru havia fugido e que o que garantia a ela que ele nao iria desaparecer na segunda. E Tapuru, com o peso da culpa nas costas, tentava se manter calmo, dizendo que havia errado ao tentar fugir mas que na segunda pagaria pelo carro.

E a mulher berrava, berrava e ate ameaçou das uns safanões do mago bacalhau. Foi nessa hora que vi o mago Tapuru saindo de fininho pro canto da estrada, com as mãos na cabeça como se dissesse: “eu nao agüento mais essa mulher gritando”...

Ficou andando com as mãos na cabeça, dando voltas em torno do próprio corpo até que não agüentando mais a falação da senhora, arrancou uma das estacas que segurava uma cerca e começou a bater com o pedaço de pau no chão, indo em direção à senhora e berrando, com os olhos esbugalhados:

- “Minha senhora, eu já disse que ia pagar esse caralho, mas se a senhora abrir a boca mais uma vez, eu quebro esse pau inteiro em cima dessa lata velha e quebro também em cima da sua cabeça”.

Até eu e Schiavo ficamos assustados com a valentia do magro tapura, que foi se acalmando aos poucos e voltando a si, bufando e envergonhado, conseguiu ainda ouvir as ultimas palavras da senhora, que mudou de idéia repentinamente:

- “Então nós estamos esperando pela ligação do senhor na segunda-feira”.

E Tapuru saiu triunfante, cheio de moral, soltou o pedaço de pau no chão e entrou no carro, parecendo Chuck Norris depois da gripe.

Thursday, June 27, 2013

Tapuru ocupado!

Eu e meu amigo Carlos Piteno, o índio malhado, chegamos um dia na casa do nosso amigo Alexandre Santiago, mais conhecido no submundo do crime como Tapuru, para pegá-lo pra tomarmos uma naquele sábado à tarde. Como de hábito, nem descemos do carro pra tocar a campainha, mas sim apenas gritamos de dentro do carro mesmo:

- “Tapuru, vamos embora, porra!!!”

Nas calçadas, os vizinhos eram muitos, conversando entre eles, aproveitando o dia bonito que fazia. Eram senhoras, senhores, crianças, meninas e mais alguns animais. Qual nao foi a nossa surpresa quando um voz lá de dentro berrou:

- “Tapuru tá cagando!!!”

Não nos agüentamos ao ouvirmos tal inusitada resposta. As senhoras começaram a fazer cara feia e ficou aquele ti-ti-ti dos vizinhos. Piteno, como é filho da puta, e mesmo diante da crise de riso que estávamos tendo, disse que ia chamar Tapuru de novo, só de sacanagem pra ver o que daria. Foi ai que a voz veio mais forte dessa vez lá de dentro:

- “Tapuru tá cagandooooooooooooooooo!!!”

As senhoras em polvorosa começaram a se agitar mais ainda. Começavam a falar da má educação dos moradores daquela rua, diziam que esses novos tempos ninguém tinha valores e etc. Mais uma vez, Piteno grita:

- “Tapuru, meu amigo, vamos logo!!!”

Inconformada, a voz responde:

- “TAPURU TÁ CAGANDO, PORRRRAAAAAAAAAA!!!”

- “Tapuru, rapaz, você nao esta escutando a gente chamar nao, é?”, Piteno provocou.
Xingu, o dono da voz reveladora, perde a paciência e vai até o portão deixar claro o que Tapuru está fazendo. E berra bem próximo ao portão:

- “TAPURU ESTÁ CAGANDO, CARALHO, NAO SABE O QUE É CAGAR NAO? O BICHO TÁ CAGANDO, CAGANDO, CAGANDO...”

E sobe o muro gritando e dizendo o que o rapaz estava fazendo, mas aos poucos foi baixando o tom da voz, até ficar mudo e observando as dezenas de cabeças que observavam incrédulas a sua descrição do porque que o irmão estava demorando.

Abaixou a cabeça lentamente e se retirou do muro, mas nao sem antes perceber que tinham dois indivíduos tendo ataques de riso dentro do carro do Hal Pitena e mesmo com toda a sua cara de pau que é conhecido, passou o dia inteiro sem colocar os pés na calcada. Os gestos de reprovação dos vizinhos fizeram com que o velho xinga se envergonhasse pela primeira vez na vida.

Wednesday, June 26, 2013

O careca e o bacamarte

Gustavo Maguinho e Segundo Motta vinham passeando pela Praia do Meio quando avistaram Mário Careca desfilando alegremente no seu gol branco, recheado de garotas da UNP, onde ele estudava. O fato dele não pegar nenhuma delas fez com que seu apelido na época fosse “Márcio Queirós, aquele que trás as mulheres pra nós”.

Mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso é que esses dois elementos tinham no carro de Segundo Motta, uma espingarda calibre doze, de cano duplo. Como era madrugada, hora do dia em que o medo de assalto aumenta bastante, eles encostaram ao lado do carro de Márcio quando iam subindo a Ladeira do Sol, pela esquerda do careca e antes de Márcio conseguir identificar o que estava acontecendo, Maguinho mete a espingarda nas fuças do negão e grita:

- “Vais morrer, desgraçado!!! Vais morrer, filha da puta!!!”

O careca desesperou-se, soltou as mãos do volante, subiu o canteiro, amassou todo o carro por debaixo, isso sem falar na gritaria e chororô por parte das meninas que o acompanhavam.

Os mal-intencionados Maguinho e Monstro do Pântano (apelido carinhoso de Segundo Motta) foram até a praia novamente e outra vez subiram a ladeira do sol atrás de saber o que havia acontecido com Marcio.

O careca estava parado ali em frente do Hospital Universitário Onofre Lopes, com as mãos na cabeça e analisando o carro pra ver os danos. As meninas desesperadas nao paravam de ligar com seus telefones celulares pra parentes, e amigos, contando o que aconteceu. Pensavam ate que tinha sido uma tentativa de seqüestro frustrada.

Foi então que viram o carro do monstro se aproximando novamente. Dessa vez o careca molhou a cueca. Correu pra detrás do carro e se abaixou, mostrando o quanto era valente. Foi uma das meninas que ficou olhando pros dois supostos ladrões e disse:

- Eu conheço esses meninos de algum lugar.

Nesse instante, o careca criou coragem e se levantou. Ao constatar que se tratava de Maguinho, foi lá dizer que aquilo nao era brincadeira, que aquilo era uma sacanagem, que era uma coisa sem noção, coisa e tal.

Ele falava educadamente, mas a vontade dele era voar no pescoço de Maguinho e da-lhe um cacete, mas como o homem era faixa preta de jiu jitsu, o careca escolheu o caminho mais pacifico, mesmo sabendo que a carabina estava na mão do passageiro e nao na do motorista.

Mas o motorista ficou rindo, o que irritou o careca, pois nao conhecia o mesmo. Num ato continuo, foi ao lado do motorista e começou a agredir o rapaz, que pouco tinha a ver com o ocorrido.

Maguinho, como é outro filha da puta, ficou somente rindo da reação inesperada do careca e o monstro do pântano, também conhecido como papo de pelicano, ficava só se defendendo e chamando Maguinho pra socorre-lo.

Num gesto de valentia tardia, Marcio parou de agredir o rapaz, subiu as calças pelo cinto, bateu uma mão na outra e gritou pra harém que o acompanhava:

- Vamos embora que eu nao vou perder meu tempo com esse palhaço mais nao.

E saiu cheio de moral, ignorando totalmente o fato de que o monstro do pântano nada tinha feito e que o culpado de tudo era Maguinho. Com isso, pode-se perceber que o careca apesar de nao ter cabelo, tem juízo, e na frente das meninas levar uma trabucada já era demais, imagine então uma surra extra? Deu-se por vingado e foi contar a sua historia lá no Pittsburg, pra Batista e sua gangue.

Thursday, May 30, 2013

Semana Santa em Muriú

Logo no começo da minha amizade com a Família Guerreiro, o mais próximo de mim era Clóvis. Depois é que desenvolvi maior amizade com Bal, até porque tínhamos idade mais parecida.

Mas na primeira vez que cheguei na casa da família em Muriú, fui levado pelas mãos de Clóvis. Era semana santa e logo ao chegar soube porque o Seu Omar era tão falado na roda dos amigos.

Fui cumprimenta-lo e ele foi logo me perguntando: “Trouxe o que? Pergunto pois Luis Cláudio veio aqui e trouxe metade de um pacote de macarrão e três quartos de um frango pra passar o mês inteiro. Esperava que você tivesse trazido mais, mas não vejo nada nas suas mãos”.

Evidentemente que ele estava brincando, mas do jeito que falava, parecia estar bem sério e pior ainda quando o sujeito não conhece. Quando acontecia isso, Dona Regina sempre vinha em nosso socorro.

O feriado passou-se com tiradas como essa o tempo todo. Ninguém conseguia ficar sem dar risadas ao lado do Seu Omar. Eis que na hora de ir embora no domingo à tarde, pois ainda pretendíamos ir à domingueira da boate pool music hall , comandada pelo nosso amigo Bruno Mentirinha, Seu Omar ainda bebia e comia com seus convidados na varanda da casa.

Dona Regina, como sempre muito atenciosa, disse pra mim: “Meu filho, volte sempre, a casa é sua. Espero que tenha gostado.”

Seu Omar respondia, sem o menor constrangimento, na frente de umas dez pessoas convidadas dele: “Claro que ele gostou, Regina, o que você acha? Não trouxe nada e ainda teve tudo do bom e do melhor”.

Ela se fez de surda aos comentários do marido e continuou, maternalmente: “Venha cá me dá um beijo antes de ir”.

Aí foi demais pro Seu Omar, que levantou-se e berrou: “Assim é foda, o cara vem pra minha casa, come de graça, bebe de graça, e no final ainda vem beijar a minha mulher. Vá pra puta que pariu!!!”

Não é preciso dizer que ninguém se agüentou e eu não tinha lugar pra enfiar a minha cara.

Tuesday, May 28, 2013

Qual cinturão?

Como num ato de sadismo extremo, o seu Omar obrigava Bal a ir pegar o cinturão toda vez que ele julgava ser necessário dar uma surra nele. Em uma dessas noites de surra anunciada, Bal foi buscar o cinto pra apanhar.

Chegando ao quarto onde o cinturão estava pendurado, ele avistou um cinto felpudo de roupão e rapidamente imaginou que apanhar com o cinto fofo doeria menos. Não teve duvidas, agarrou o bicho e levou pro pai.

Seu Omar, ao avistar aquele cinto de roupão nas mãos do filho, não se conteve e começou a rir. Mas como era velha raposa, não podia perder a moral e sentenciou:

- “Vou lhe dar o direito de escolha por você ter se mostrado um sujeito inteligente. Você prefere 50 cintadas com esse cinto do roupão ou 10 com o cinturão de couro?”

Bal, sabendo que mesmo sendo fofinho, 50 laboradas não são fáceis e optou pelo velho método a qual estava acostumado. Foi destrocar os cintos e novamente foi dormir com couro quente, pois mesmo com a brincadeira, a punição não foi suspensa.

Thursday, May 23, 2013

Sem acenos

Outro dia, Eu e Bal estávamos andando pelas ruas de Morro Branco e nos deparamos com o Seu Omar, que passava sério e calado no gol branco da Secretária da Fazenda, pois o mesmo era fiscal de renda.

Ao avistar o pai, Bal acena, numa tentativa de fazer com que o pai acenasse de volta. Sem sucesso, ele começa a gritar, e mesmo assim não é correspondido. Alem dos gritos, ele começa a pular e mexer os braços, num gesto parecido com alguém que está se afogando.

Seu Omar que a tudo assistia impassível, somente acompanhou aquele triste espetáculo com a vista e foi embora, sem sequer dar um balançar de cabeça pra Bal.

Chegando em casa, Bal injuriado foi questionar o pai o porque dele não falar com ele na rua, queria saber se ele estava com raiva dele por algum motivo, que ele poderia se explicar pra atenuar a raiva do pai ou qualquer coisa assim.

Foi então que Seu Omar respondeu pra Bal numa lógica simples, comum somente aos gênios:

- Aníbal, eu falo com você toda hora em casa, porque haveria de falar também na rua? Quem você pensa que é, alguma estrela de Hollywood pra ter toda essa atenção?

Tuesday, May 21, 2013

Regina, é dado!!

Seu Omar Guerreiro, que Deus o tenha, era o pai dos três famosos irmãos, meus amigos Clovis, Guilherme e Aníbal. Um belo dia, Aníbal, mais conhecido como Bal, me convida pra almoçar na casa dele.

Ao chegar na mesa, o Seu Omar, já estava sentado na cabeceira comendo, sem muito dialogo com ninguém. Nos sentamos animados, conversando e rindo, e seu Omar parecia incomodado com o barulho, pois levantava a vista pra nos observar e balançava a cabeça toda vez que o barulho ultrapassava os decibéis estabelecidos por ele como suportável.

Eis que chega Dona Regina, a esposa do Seu Omar e pergunta o que iríamos comer. Dissemos que trouxesse qualquer coisa. Então, ela como sempre muito gentil e hospitaleira, pergunta se eu desejaria um bife à milanesa ou um bife normal, pois segundo ela, Guilherme não gostava de bife a milanesa e eu quisesse, ela prepararia um sem ser a milanesa, pois o que tinha pronto era a milanesa.

Eu insisti dizendo que trouxesse qualquer um, e que alem do mais, disse também que eu adorava bife à milanesa. Novamente ela insistiu na historia do bife, dizendo que se eu não gostasse, ela prepararia outro, que não daria trabalho algum.

Nesse instante, seu Omar que a tudo assistia calado, bate na mesa e diz a frase que ficou famosa:

- Regina, é dado, Regina, entrega qualquer tipo de bife pra esse filha da puta ai que ele não está pagando nada aqui!!!

Finalmente ela então trás o tal do bife a milanesa. Começamos a comer rápido, pois tínhamos alguma coisa pra fazer e não queríamos perder tempo. Olhando pro meu ritmo, seu Omar disse outra frase que foi motivo de riso durante muito tempo no meio da turma:

- Das Cachorras, coma devagar que a comida não vai fugir do prato, porra!!!

Esse era o Seu Omar. E essas foram as duas únicas frases que ele disse durante todo o dia. Isso é o que posso chamar de alguém que usa eficientemente o verbo. O melhor exemplo de otimização da comunicação oral. Poderia até dar aula na faculdade de administração e garanto que faria um sucesso tremendo.

Monday, April 29, 2013

Nocaute em Vitória

O segundo e ultimo ENEAD que participei teve lugar em Vitória do Espírito Santo, maravilhosa ilha do sudeste brasileiro. Tudo ocorria perfeitamente bem, se é que podemos dizer que algo corre perfeitamente bem em um ENEAD.

Preparamos um churrasco no gramado que existia do lado de fora do nosso alojamento. A bebedeira começou lá pelas onze da manhã. Quando o relógio já marcava sete da noite, e com o teor alcoólico bem elevado, começa-se alguns casos de memórias amorosas.

Nesse sentido, o meu amigo Vaguinho contava-se de um caso que ele tinha com uma menina desde que era adolescente, coisa e tal, ainda quando morava no Rio de Janeiro. Como o assunto era mais delicado, nos distanciamos dos demais e fomos beber embaixo de um poste de luz, do outro lado do jardim.

Conversa vai, conversa vem, minha cerveja acaba. Eu grito pra Robson me jogar outra latinha. Ele pergunta se eu tenho certeza e eu digo que sim, que jogue logo essa porra.

E ele o fez. A trajetória da lata pode ser descrita como um arco. Ele jogou a lata pra cima, pra que quando estivesse caindo, chegasse às minhas mãos. Mas quando olhei pra cima, fiquei cego devido a luz do poste e a latinha fechada foi de encontro justamente à minha boca. Foi nocaute instantâneo. Cai e todos correram pra ver o estrago.

Pra dar uma de bichão, eu me levantei, ainda grogue, e disse que estava tudo bem, que nada demais havia ocorrido. Foi quando observei a careta de espanto que Vaguinho fez ao olhar pra minha cara. Olhei então pra minha camisa, que era branca, e estava vermelha. Passei a mão na boca e o lábio superior agora eram dois.

Comecei a entrar então em desespero. Vaguinho me pega pelo braço e me leva pro ambulatório. Os enfermeiros de lá fizeram a mesma cara de nojo. Disseram que eu tinha que ir pro hospital, que ali eles não eram capazes de dar pontos. Deram então um ponto frio (juntaram um corte e colocaram uma espécie de esparadrapo) e mandaram chamar alguém da organização pra me levar pro hospital.

Arranjaram-me um sujeito chamado Luciano, que estava muito doido de maconha. Entramos no seu corsa vinho e o bicho mandou os pés. Passava sem parar em qualquer quebra-mola, o que fazia minha dor aumentar umas dez vezes a cada paulada.

Disse a ele que fosse devagar nos quebra-molas, que eu podia agüentar a dor da espera, mas não a dor do solavanco. Foi inútil. Ele não escutava, estava muito doido pra isso. Mandei então ele se fuder e ficava em pé a cada quebra-mola, no banco de trás, pra tentar suavizar o impacto.

Chegando no hospital, Vaguinho quase quebra tudo, esculhambando o estudante plantonista pois o mesmo me mandou ir pro final da fila e na fila tinha umas 15 pessoas, com problemas menores. O maconheiro que nos acompanha apenas assistia calado ao espetáculo. Resolvemos voltar ao campus, e novamente lá vai quebra-mola pela frente.

Uma vez de volta à UFES, eu queria matar o puto. Foi ai que encontramos a minha salvação. Como se diz, esperança vem em várias formas. Ela era uma das chefas da organização, chamava-se Mariana e por sorte, o pai dela era o diretor do hospital público em que estive, uma espécie de Walfredo Gurgel. O detalhe era que eu tinha um plano de saúde da Hapvida que não era aceito em Vitória.

Quando soube do ocorrido e tentando mostrar que era “a poderosa” muito mais do que me ajudar, ela agarra no celular e telefona pro pai imediatamente, ordenando que o mesmo fosse pro hospital, que ele em pessoa iria dar os pontos na minha boca, que não parava de sangrar.

Lá vamos nós pro corsa vinho de novo e tome quebra-molas novamente. Dessa vez Vaguinho ia atrás comigo, pois a jovem ia na frente com o Luciano. A menina ia se segurando onde podia, mas não pedia pro cara ir devagar, o que me fez acreditar quer aquilo só podia ser putaria.

Dito e feito. O pai dela chega e já tem uma sala pronta pros procedimentos. O detalhe era que ele era vascaíno e ao saber que eu era flamenguista, já me ameaçou de deixar uma cicatriz à la frankstein. Tudo era brincadeira, e no final das contas, ele fez um excelente serviço e a Mariana já estava mais calma e também parecia uma pessoa boa.

Quando fomos nos despedir do médico já no estacionamento, Vaguinho fez questão de lembrar ao médico:

- A propósito, viemos aqui antes e tentamos ser atendidos, mas um filha da puta careca, estudante de medicina, foi muito grosso conosco e disse que a gente esperasse que talvez na manha seguinte pudéssemos ser atendidos, mesmo a gente dizendo que éramos amigos da Mariana e que estávamos no congresso de estudantes de administração, o que evidentemente era mentira, pois não mencionamos o nome de Mariana, pois nem sabíamos da existência dela no começo.

O médico ficou injuriado com o descaso para conosco e para com a sua filha e conseqüentemente com ele e disse que iria tomar as providencias dele, que o mencionado estudante estava em condições precárias de notas e que ele daria um jeito pra ele pagar a sua disciplina novamente, uma vez que o diretor também ensinava na faculdade de medicina.

E fomos pra casa satisfeitos, eu com a boca costurada e Vaguinho com a alma lavada, de saber que o abusado estudante teria que ter mais alguns meses vendo a cara do professor novamente.

Thursday, April 25, 2013

O gol virado

Como havia dito anteriormente, Marcio Careca tornou-se alvo das brincadeiras sem noção de Alberto. Quando o Careca comprou um gol branco zero kilometro, evidente ficou muito orgulhoso de sua aquisição. E cuidava muito bem do carro, como deve ser feito, lavando a viatura de manhã, de tarde e de noite.

Alberto sabendo do zelo do crioulo com o carro e num desejo continuo de zoar com a cara do Careca, coloca um anuncio nos classificados do Diário de Natal, no sábado, que dizia que o senhor Marcio tinha um gol pra vender, seminovo, mas que havia sido virado e o valor do mesmo era mais ou menos de uns 10% do valor que Marcio havia pago poucas semanas antes. E colocava o numero do celular de Marcio pra maiores informações.

Eu estava no carro com Marcio, vindo pela Prudente de Morais, sentido Candelária-Lagoa Nova, mas na verdade estávamos indo pra Rodoviária, onde Marcio tinha uma lanchonete.

Pra isso, estávamos parados na Prudente com a rua da rodoviária, ali onde fica o cartodromo, com a intenção de virar a esquerda e seguir até a rodoviária. Foi quando Marcio recebeu a primeira ligação. O sujeito indagou sobre o carro e eu só escutei Márcio falando:

- Amigo, você deve está ligando pro número errado. Por acaso eu até tenho um gol, mas ele nunca foi virado, não. Certo. Tchau.

Quando estávamos parando o carro na Rodoviária, veio a segunda ligação. E veio a terceira. Na quarta, ele finalmente se enfezou:

- Meu amigo, que historia de carro virado é essa? Onde você conseguiu o meu numero de telefone? Diário de Natal? Vai tomar no cu, porra. Aqui não tem carro virado nenhum. Virado é o meu ovo.

E nas ligações seguintes, ele já atendia mandando o cara tomar no cu. Parou numa banca e comprou o jornal pra verificar os classificados. Constatando que de fato seu numero de telefone estava ali, automaticamente liga pra Alberto, pois sabendo que era o único que tinha dinheiro sobrando pra gastar com esse tipo de bobagem.

Escutando a risada de rapariga de Alberto, começou sua vingança, que consistia em minar a credibilidade do rapaz em todos os cantos que chegava, sem alarde, bem no estilo Márcio Careca. Devido a isso, nessa época, sem Alberto saber, qualquer coisa contada por ele tinha menos credibilidade do que um menino de dois anos.

Acredito que por causa de Márcio, quando Alberto dava bom dia, o povo olhava pro céu pra conferir se era dia mesmo e até hoje há quem acredite que Alberto nunca falou algo que fosse verdadeiro na vida.

Wednesday, April 24, 2013

A faixa na praça

Sem sombra de dúvidas, o cara mais sem noção quando se trata de brincadeiras se chama Alberto Campos, o nosso Jacaré. Ele não se contenta em fazer uma brincadeira que permaneça no nosso circulo de amizade. Ele quer que ela chegue à nível municipal, estadual e quiçá, federal, como foi no caso da Pegadinha do Mução, que armou pra mim.

Seguindo essa linha de raciocínio, um dos seus alvos prediletos foi o ilustre Marcio Robério, também conhecido como Marcio Coveiro e Marcio Careca, dependendo de quem seja o interlocutor.

Como era sabido por todos, Marcio era apaixonado por uma menina de nome Andréia, cujo sobrenome irei ocultar por motivos óbvios, deixando somente os mais íntimos por dentro.

O curioso foi que na época do plano de Alberto, Marcio já devia ter acabado o relacionamento com a menina ha uns quatro anos, pelo menos. O safado mandou confeccionar uma faixa enorme, que dizia: “Andréia Fulano, nunca deixe de te amar, do seu eterno Marcio Robério”.

Outro detalhe que aumentou bastante a adrenalina da brincadeira era que a menina estava com casamento marcado. Alberto arranjou para que a faixa fosse colocada na praça Pedro Velho, aquela do Palácio dos Esportes, de maneira que quem fosse pra dar uma volta na Praia do Meio[1] pudesse ver o conteúdo da faixa.

Fez isso e calmamente procurou saber onde estávamos bebendo, pois dia de sábado após o meio dia não tinha ninguém mais com intenção de permanecer sóbrio na cidade. Descobriu que estávamos na picanha do Quebra-osso, que na época era situada na Xavier da Silveira com a rua da Saudade, em Morro Branco.

Chegando lá, Alberto espera uma ida de Marcio ao banheiro sopra no meu ouvido disfarçadamente a historia, pros outros componentes da mesa não ficarem sabendo. Ele diz que vai ligar pro meu celular e que eu deveria simular que era alguém me ligando, contando que viu tal faixa.

Dito e feito. O meu telefone toca e eu finjo estar falando com alguém. E começo o teatro, falando em voz um pouco mais alta.

- O que? Marcio Careca fez isso? Ele disse que não tava nem ai pra essa menina mais. Meu irmão, estou besta aqui.

Márcio começa a fazer aquele gesto conhecido dele, de enxugar a cara com a mão aberta, começando na testa e chegando até o pescoço, e pergunta:

- Eu fiz o que, Cachorra? Quem ta falando ai? Que merda é essa?

Fiz sinal pra ele se acalmar e disse que estava pegando mais detalhes. Quando desliguei, o homem já estava colocando o coração pela boca. E contei-lhe, o que supostamente havia acabado de saber.

Falei que ele era um palhaço, que vivia alegando que não gostava mais dessa Andréia, mas no entanto, havia mandado fazer uma faixa pra ela. O bicho ficou branco.

- Que faixa é essa? Que porra de faixa é essa? Meu irmão, isso é presepada sua, Betão? Ele cantou logo a pedra, perguntando a Alberto.

Alberto negava, mas negava rindo feito uma puta ruim. E ainda sentenciou pra Márcio:

- Rapaz, se eu fosse você, eu me preparava, pois o noivo dela vai te dar um pau. Natal é um ovo e uma hora dessas, ele já deve estar sabendo com certeza.

Marcio Careca se levantou apressado e disse:

- Eu não quero nem saber quem colocou essa merda, eu vou é lá arrancar essa merda antes que ela me ligue, me esculhambando. Mas quem colocou essa porra não fui eu, eu juro.

Saiu em disparada pra Petrópolis. Nesse momento, Alberto faz seus contatos e pede pra arrancarem a faixa, antes que Marcio chegue ao local.

Depois de uma hora, o Careca volta ao Quebra-osso. E aí que reside o mistério dessa historia. Alberto alega que retirou a faixa antes do Careca chegar lá e deu um fim a mesma. Marcio alega que quando chegou ao local, retirou a faixa e tocou fogo. Como ninguém nunca viu a faixa, fica a palavra de um mentiroso contra o outro.

Se nunca existiu a tal faixa, o golpe foi mais perfeito ainda, pois causou o mesmo efeito na vitima sem o arquiteto do plano gastar nem um tostão. Esse era o grande Jacaré, antes de se tornar cubano e gastar seu tempo aprontando em outras paragens.

[1] Nessa época, era programa comum dos jovens dar um passeio pela orla na parte da tarde.

Tuesday, April 23, 2013

Patropi

Patropi era um professor de desenho técnico que tivemos no quarto período. Seu nome era Davi, mas ele era o retrato cagado e cuspido daquele personagem Patropi, da Escolinha do Professor Raimundo. Os óculos, a bolsa, as roupas, a barba, o cabelo. Eram clones.

Ele ensinava nesse bimestre, geometria analítica ou descritiva, não sei ao certo, só sei que é aquela que tem que rebater o primeiro diedro no terceiro diedro e o segundo no quarto, qualquer coisa assim. Não posso precisar.

Nem preciso dizer que o meu conhecimento era zero, e que eu dependia novamente da ajuda caridosa de alguém. O escolhido foi Ronildo, um sujeito carrancudo que estudava conosco, mas que era bem esforçado.

Sentei-me ao seu lado e esperei ele terminar a primeira questão pra começar a fazer o meu trabalho de cópia. Ao esticar a vista pra prova de Ronildo, percebi que o professor não tirava os olhos da minha pessoa. Ele olhava fixamente pra minha cara e escrevia alguma coisa em um pedaço de papel.

Comecei a me inquietar quando isso ficou insistente. Observei o outro lado da sala, as pessoas ficavam em pé, pra copiar a questão de quem sabia mais. E o professor olhando fixamente pras minhas fuças.

Parecia uma feira. Um gritava, “me passa aí a segunda”, outro dizia “me passa aí a quarta” e eu sem sair do lugar. Foi me dando um desespero tão grande, que simplesmente desisti. Coloquei a caneta em cima do papel e esperei o tempo acabar, encarando o filha da puta de volta, com os braços cruzados.

Praticamente ficaram somente eu e ele na sala. Todo mundo comemorava a nota máxima no corredor, devido à falta de vigilância do professor, que até o ultimo minuto de aula não tirava os olhos de mim.

Quando tocou o sino indicando o fim da aula, fui lá e numa atitude de “você venceu, seu galado”, entreguei a prova em branco. Ele me disse:

- Rapaz, tu se parece demais com um amigo meu. Quando eu vi, não acreditei tamanha semelhança. Aproveitei, e fiz um desenho do seu rosto. Diga-me se gostou?

À vontade de mandar ele enfiar o desenho em algum lugar escuro não era pequena. Mas mesmo assim, elogiei a arte e fui embora puto, contar a minha falta de sorte aos demais.

Ao sair da sala, ele piscou o olho pra mim e disse que da
próxima vez não iria me desenhar mais e eu poderia recuperar a minha nota. E assim foi feito. Passei na conta, no final das contas.

Monday, April 22, 2013

Chico Bola e a cola


Meu querido amigo Chico Bola é uma das figuras mais engraçadas que conheço. Já havia terminado o segundo grau e nao sei porque cargas d’água estava fazendo de novo. Mas o fato é que ele sabia muito sobre matemática e sempre ajuda aos mais necessitados.

Se não me engano no terceiro período, estudamos com o grande professor de matemática Antonio Roberto, grande incentivador dos alunos sobre as olimpíadas de matemática. Roberto iria aplicar prova sobre produtos notáveis, e Chico Bola dizia que esse tema era muito fácil e que na linguagem dele, era “chocolate”. Mas pra mim estava mais pra fezes.

Ficou acertado que Chico iria sentar-se na minha frente, iria fazer a prova, copiar tudo em um papel e passar pra mim antes de entregar ao professor. Chico acabou a prova em quinze minutos, mas antes de começar a copiar as respostas num papel, Roberto passa ao seu lado e Chico pra se mostrar, mostra a prova a Roberto, perguntando se estão todas certas.

Roberto passa a vista e sem dar reação a Chico, diz:

- Acertou todas, nota dez. Me dê logo essa prova aqui.

E tomou a prova das mãos do fresco do Chico Bola. Ele insistiu que ainda precisava acertar algumas coisas, mas Roberto foi firme e disse que ele não precisava ajeitar nada, que era dez e pronto.

Eu só não matei o filha da puta do Chico ali mesmo pois não tinha uma arma. Ele disse-me para não me preocupar, que ele se lembrava das questões e iria me mandar.

No corredor, refez a prova inteira e foi na porta da sala e pediu pra uma menina que sentava na primeira cadeira para que passasse esse papel pra um cara de óculos, que estava logo atrás dela.

Eu esperei mais de uma hora pela ajuda de Chico, que não chegou. Entreguei a prova quase em branco, o que estava nela eram apenas desenhos que rabisquei no papel.

Saí da sala puto, procurando Chico. Quando o encontro, pra minha surpresa, ele me pergunta, todo sorridente:

- E aí, fácil demais não era não?

- Fácil demais, um caralho, Chico!!! Cadê a porra da cola que tu disse que iria me dar?, perguntei indignado.


- Rapaz, eu refiz a prova inteira e passei pra aquela menina te dar. Mandei ela dar pra aquele cara de óculos, se explicou Chico.

Nesse momento chega um sujeito que estava sentado na minha frente, dizendo que uma alma caridosa mandou uma menina entregar todas as questões da prova pra ele, e que se não fosse essas questões, ele iria tirar um zero.

E o filha da puta usava óculos.

Wednesday, March 27, 2013

Bons alunos, boas notas

Essa é do tempo em que eu estudava na saudosa ETFRN. O primeiro período do meu curso de mecânica foi sem dúvida o mais turbulento. Os indivíduos eram verdadeiros vândalos. Com a pior assepsia da palavra.

Na primeira semana de aula, um sujeito foi logo jubilado da Escola (assim que os íntimos chamam a ETFRN, A ESCOLA). Esse elemento chegou na cantina e pediu uma coxinha. Como o atendente disse que ele tinha que pagar primeiro e trazer o recibo pra poder pegar a comida, ele nao gostou, deu um murro na estufa pra quebrá-la, meteu a mão no meio dos destroços e pegou a coxinha, degustando-a ali mesmo, com a mão toda ensangüentada, na frente do incrédulo servidor. Nunca mais tivemos noticias desse rapaz.

Mas os vandalismos nao ficavam somente nesse rapaz. Um outro de nome Clifton, simulava umas tosses tão altas que pareciam se tratar de um tuberculoso. Era o professor proferir uma frase, lá vinha um “purrute” gerado por Clifton.

Alexandre Belo, outro anormal, conseguia soltar flatos dos mais podres possíveis, ao simples toque na barriga. Se quisesse soltar cinqüenta em 10 minutos, ele conseguia. E todos com o mesmo teor destrutivo. Da mesma forma que conseguia acumular catarro verde com a mesma facilidade.

As aulas, principalmente as de matemática da saudosa professora Umbelina e as de física do grande professor Araújo eram as mais prejudicadas. Era um festival de bufas e purrutes que impossibilitavam qualquer explanação vinda dos professores.

Quando o professor conseguia um pouco de silencio, alguém pegava a bata de outro colega ou um caderno e arremessava no quadro negro, a centímetros da cabeça do professor em questão.

Um belo dia, numa risadagem sem fim que acontecia na ala de trás, o professor queria saber o motivo de tanta gargalhada. Eis que Rainer Patriota disse:

- Professor, estão perguntando aqui se o senhor gosta de tomar chá de minhápika?

- Chá de que, meu filho?, perguntou o professor.

- Minhápika, professor, minhápika.

A gargalhada foi geral. Mas isso foi demais pra paciência do professor Araújo, que se retirou da sala e exigiu que a sala inteira levasse suspensão. Levamos a tal suspensão e só pudemos assistir aula novamente se levássemos um dos pais pra uma reunião, e eles ainda tinham que assinar um termo de responsabilidade.

Os nerds ficaram doentes de raiva, dizendo que iriam entregar quem ficava peidando e quem ficava dando os purrutes, alem de que iriam entregar quem jogava objetos no quadro. Se calaram na primeira ameaça de uma surra bem dada.

No dia seguinte à suspensão, foi realizada a tal reunião. Minha mãe foi minha acompanhante nesse acareamento tão humilhante. Aí que foi meu erro, que foi o detonador de um fato que até os meus últimos dias de escola ainda era motivo de chacota.

Eu mentia pra ela com relação às minhas notas. Eu tinha obtido um três na primeira prova de matemática e um dois na primeira prova de física (na Escola fazíamos três provas no semestre, pra atingir 18 pontos). Mas pra minha mãe, eu disse que tinha um oito e um nove, respectivamente. Era fácil mentir, pois diferente do Neves, os boletins eram entregues aos próprios alunos, quando íamos buscar na coordenação do curso.

Começa então a reunião e feito todos os preâmbulos e considerações, foi dado a vez aos professores para que pudessem explicar os problemas específicos em seus casos.

A professora Umbelina, muito sábia, disse que a punição seria um processo natural, pois os alunos envolvidos nas bagunças estavam todos com péssimas notas e que se nao melhorassem até a próxima prova, com certeza seriam reprovados e que a reprovação era a punição máxima do aluno.

Nesse momento ocorreu algo inusitado. Minha mãe levanta o braço pedindo pra falar, aumentando ainda mais a minha vergonha. E ela diz, categórica:

- Professora, a senhora falou que os bagunceiros estão com notas baixa, nao é? Que quem tem notas altas nao faz parte da bagunça, nao é?

Diante da afirmativa da professora, a minha mãe emendou, solenemente:

- Então eu e meu filho vamos embora dessa reunião, que ela nao foi pra nós, afinal de contas um oito é uma boa nota, nao é? Se a média daqui é seis, eu considero um oito uma boa nota. Tenham um bom dia todos vocês.

Me pegou pelo braço e me puxou em direção a porta.

A professora, sem acreditar no que via, foi checar novamente a minha nota, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, nós já voávamos pra fora da sala. Elegantemente, a professora calou-se e nunca mais tocou no assunto. Em agradecimento, melhorei as notas e o comportamento. Mas até hoje ainda existem atores imitando o discurso de tão protetora mãe.

Tuesday, March 26, 2013

Joãozinho tira onda

No aglomerado de gente que fica na rua central de Pipa sempre ocorrem situações inusitadas. Mas nada como essa que se meteu o rei das presepadas, João Antonio Rosário, o gigante mais conhecido como Joãozinho.

Era um final de semana de feriado e nem precisa dizer que Pipa estava lotada. Nesse cenário, um sujeito sozinho dentro de um carro tenta abrir caminho por entre os foliões que pela rua se acomodavam.

Andava um pouco e tinha que parar, pois sempre tinha alguém que não queria sair do meio. Um deles foi Joãozinho, pois o carro chegou bem perto da perna dele e ele não gostou. Foi falar com o motorista pra ter mais cuidado, de um jeito não muito delicado.

O cara também não gostou e Joãozinho aproveita-se de sua situação privilegiada e dá um tapão na cabeça do rapaz. Quando o mesmo começa a tirar o cinto de segurança pra descer do carro, Joãozinho corre pro outro lado e fica dando xauzinho e estirando o dedo pro cara. Não precisa dizer que a massa já começou a gostar e a dar risadas. Era tudo o que o palhaço Joãozinho queria.

O motorista do carro estava fervendo e se pegasse Joãozinho, o estrago ia ser grande. Começou então uma perseguição digna de desenho animado. Quando o sujeito chegava na parte da frente do carro, Joãozinho chegava na parte de trás. Ele invertia o sentido querendo pegar Joãozinho no contrapé, Joãozinho invertia também. Ficaram nessa até começarem a bufar de cansados. A platéia ia ao delírio.

Numa dessas passagens pelo lado do motorista do carro, Joãozinho observou que a porta estava somente encostada e num golpe rápido, abriu a porta, entrou dentro do carro e trancou-se lá dentro. Foi o apogeu. O dono do carro do lado de fora, exasperado, e Joãozinho dando o dedo pro cara e agarrando nos testículos e mostrando pro sujeito. Até um bundalelê o nojento fez.

O cara fervia. Joãozinho abriu um pouco o vidro e disse: “Se acalma, rapaz, que eu saio. Se tu ficar brabo aí eu não saio mais não e vou embora pra casa no teu carro. Se acalma, neném”. E mandava um beijinho pro elemento.

Foi preciso o cara se afastar bastante pra dar espaço pra Joãozinho sair, para que ele se sentisse seguro pra descer do carro e se jogar nos braços da multidão. Mas nem era preciso, nesse instante, até o dono do carro já havia se acalmado e compreendido que o palhaço-mor já estava dando seu show. Entrou no carro rindo e foi embora pra casa, debaixo ainda dos gritos e ovações.

Wednesday, March 20, 2013

Adoniran e as muriçocas

Falando em mentiroso, o grande Adoniran, irmão de Wellington e filho de Expedito da Carne de Sol, contava uma historia que jurava ser verdade. Nada se aproxima de ter o prazer de ver a face do rapaz ao contar essa historia.

Diz ele que ao chegar na fazendo do pai, tentaram de todas as formas abrir a porta da frente da casa e não conseguiram. Ele rodou a chave pra um lado e pro outro, e forçavam a entrada e nada da porta ceder.

O pai pediu pra ele se afastar e usou de toda a ignorância e também não teve êxito. Perguntava-se o que porra estava segurando aquela porta. Foi quando ele teve a idéia de pedir a Adoniran pra tentar entrar pela janela.

Quando ele finalmente conseguiu entrar na casa e ao acender o candeeiro, pôde constatar que não conseguiam abrir a porta porque tinha um enxame de muriçocas forçando a porta em sentido contrário.

Corajosamente, ele alega que foi lá e espantou as bichas, permitindo assim a entrada do pai pela porta. Nesse instante, ele disse que as muriçocas se dispersaram estrategicamente, sumindo completamente do campo de visão deles.

Foram então pras respectivas camas pra dormirem. Cinco minutos apos estarem deitados, começou a vingança das muriçocas. As picadas eram cada vez mais fortes e eles não conseguiam dormir.

Seu Expedito teve então a idéia d mandar Adoniran ir à camionete buscar uma lona, para que pudessem se enrolar. Ficaram então na mesma cama, para poderem usar a lona, cobrindo até as cabeças.

Apos mais outros cinco minutos, quando pensaram estar salvos, as muriçocas começaram a picar por cima da lona, ignorando totalmente a existência dessa. Expedito então manda então Adoniran observar o que estava acontecendo. Adoniran, por sua vez, descobre somente os olhos pra constatar a arte das muriçocas.

Elas, segundo ele, iam de ré até o candeeiro, esquentavam o ferrão, davam uma pirueta no ar, voltavam novamente de ré com o ferrão em brasa e picavam eles, por isso atravessava a lona.

A historia nao é de toda mentirosa. Se as muriçocas tivessem ao menos ferrão, a gente pode ate pensar que foi verdade.

Wednesday, February 27, 2013

Mentirinha se deu mal

Um grande amigo nosso, o Alexandre Motinha, mais conhecido como Mentirinha, gosta um pouco do exagero e utiliza-se da inverdade, em alguns casos (ou em muitos deles).

Se você diz que correu 10 km, o Motinha corre 20 km facilmente. Se você comeu Luana Piovani, Motinha comeu Jennifer Aniston. Se você comprou um carro básico por 30 mil, Motinha compra um modelo de luxo, do mesmo ano, por 20 mil.

Historia muito contada por ele foi a que seu irmão, também conhecido como Motinha entre os boleiros da época, jogava pelos juniores do Vasco. Então em uma partida preliminar de uma final carioca entre Flamengo e Vasco, o Motinha entra em campo defendendo a camisa dos juniores do clube da cruz de malta e as 150 mil pessoas presentes no Maracanã (que estavam ali pro jogo principal) gritaram em côro:

- Motinha, Motinha, Motinha, Motinha!!!

Ele garante que se arrepia todo quando se lembra. Ele acha que alguém é idiota de acreditar que alguém naquele Maracanã sabia ao menos da existência de algum Motinha na vida.

Mas, a maior de Motinha foi outra. A turma de amigos (amigos?) preparou uma presepada pro Motinha. Todos combinaram confessar que já haviam tido uma relação homossexual, que já haviam dado o rabo em algum momento da infância ou da adolescência. Era tudo mentira, somente pra induzir o Motinha pra ver até onde ele iria com suas cascatas.

O primeiro disse que havia dado o rabo quando pequeno, mas que havia se arrependido e que nunca mais tinha dado novamente. O segundo alegou que estava bêbado, mas que se lembrava e que tinha até gostado. Quando todo mundo contou sua experiência fictícia, fez-se um silencio e Motinha olhou pra todos os lados e berrou (sem ter a mínima idéia do combinado):

- Ah, eu também dei meu cu uma vez, lá no Rio Cumprido, depois de um pagode...

Ninguém se agüentou apos o seu relato e todos disseram que ele havia caído em uma pegadinha, que ele era viado e tal. Ele não sabia se desmentia e ficava com fama de mentiroso ou se assumia e ficava com fama de viado.

Mas o fato foi que ele contou com uma riqueza de detalhes tão grande que até hoje ninguém sabe se era mais uma de suas elaboradas mentiras ou se de fato ocorreu tal desgraça na vida do nosso grande Forrest Gump.

Tuesday, February 26, 2013

Dudu, o porquinho

O grande Eduardo Barros (Dudu) foi um dos presidentes do Centro Acadêmico de administração, no período que fiz faculdade. E a famosa viagem do Enead à Fortaleza, foi organizada por ele.

Um dos meus colegas de turma, o Bruno Lima, tinha planejado ir de carro à capital do Ceará, coisa que os pais dele não estavam gostando muito. Conversando, Dudu falou pra ele que o ônibus já estava pago e que se ele prometesse silencio, ele poderia ir de graça. Ele fez isso mais por consideração a mim do que ao próprio Bruno, pois nem conhecia o rapaz.

Cerveja vai, cerveja bem, batuque, coisa e tal. Bruno tinha mania de desenhar e quando cheguei perto dele, vi que havia desenhado um porquinho, bem gordinho e que na mesma hora achei o desenho parecidíssimo com o Dudu. Ele assinou o nome dele embaixo do desenho, como se fosse um artista. Esse foi o seu grande erro.

Eu peguei o desenho e guardei no bolso. Minutos depois, como quem não quer nada, pedi a caneta de Bruno (a mesmo que ele havia desenhado), alegando que queria anotar um numero de telefone. Rapidamente, peguei o desenho e escrevi em cima do porquinho, com letras de fôrma: “DUDU”.

Devolvi a caneta pra Bruno, que escutava seu disc-man calmamente e estava alheio à tudo. Comecei a mostrar o desenho de um em um e ninguém se agüentava, caía na gargalhada.

Quando o desenho chegou nas mãos de Dudu, o mesmo ficou possesso. Ameaçou parar o ônibus e colocar Bruno pra fora, em plena rodovia. Eu conversava com ele, acalmando-o, dizendo se tratar de uma brincadeira. Ele não queria acordo. Mas apos certo tempo de conversa, ele resolveu esfriar a cabeça.

Chegando em Fortaleza, ainda mantinha a hostilidade com o rapaz, que de nada entendia e me questionou o porque desse tratamento rude que estava recebendo. Eu disse que Dudu era meio doido mesmo, mas que no fundo era gente boa.

Até o dia de hoje, Dudu ainda pensa que Bruno desenhou o porquinho em sua homenagem. Espero que ele peça desculpas ao moço, apos mais de dez anos passados. Ou então irei pedir ao mesmo que faça outro porquinho, agora pra gente colocar numa moldura e pendurar nos corredores do setor I da velha UFRN.

Monday, February 25, 2013

Piteno e o Brizolão

Em um desses carnavais da vida que passamos na praia de Pirangi, na casa de Alberto Campos, vulgo Jacarezinho Egoísta, observamos que o grande Carlos Piteno, ao trocar de roupa, havia vestido uma “cueca de copinho”, de uma cor vermelha bem comunista, que chamávamos de Brizolão, por causa da cor das bandeiras de propaganda do político Leonel Brizola.

Observamos e ficamos calados, armando uma presepada pro Índio (outro apelido de piteno, por ser o irmão mais novo do Cacique), a ser aplicada durante a noite, no Circo da Folia.

O plano foi fantástico. Previamente, acertamos com um fotografo, desses que batem fotos de pessoas em festas pra vender depois, para que ele ficasse preparado pra bater uma seqüência de fotos de um rapaz. Ele se escondeu estrategicamente e ficou esperando a execução do plano.

Enquanto um individuo distraia o Pita, eu abaixei o seu calção folgado até os tornozelos, o que não foi muito difícil, devido à estrutura esguia (diria quase um faquir) do sujeito.

Ao mesmo tempo em que abaixei o calção, coloquei o meu pé no meio das pernas dele e pisei no calção, impossibilitando que Piteno subisse o mesmo novamente, uma vez que suas mãos nunca seriam mais fortes do que meus pés, e alem de que, ele se encontrava em posição bastante incomoda, só de cuecas, com a bunda pra cima e as mãos nos pés.

Pra completar ainda mais o quadro do terror, chegou um terceiro individuo e deu um leve empurrão no Índio, que sem equilíbrio algum, pois estava igual a um animal, amarrado pelas mãos e pés, cai lindamente no chão de paralelepípedo do Circo da Folia de Pirangi, ainda agarrado ao calção.

E o fotografo metendo o dedo no botão, mas sem conseguir direito bater as fotos, de tanto que ria, o nojento. Como todos sabiam da reação enfurecida do rapaz, seguramos o calção dele e as mãos por um tempo, depois desaparecemos tal qual fumaça, pra esperar o rapaz se acalmar.

Você imagine quantas pessoas, conhecidas e desconhecidas, não estavam tendo uma sincope de tanto rir dessa cena grotesca. O individuo Piteno calmamente se levanta, sobe o calção, coloca a camisa pra dentro deste e sai de cena. Como estávamos escondidos, ficamos observando a trajetória dele.

O fresco foi diretamente falar com o fotografo. Como poderia ele, debaixo de tanta pressão, ainda ter enxergado o fotografo na cena do crime? Escondido, eu fazia sinal pro fotografo que a gente pagava o que fosse preciso, que não aceitasse a proposta de Piteno.

Falei com ele depois, e o mesmo me garantiu que no final de semana seguinte, as fotos estaria na minha casa. Não sei o que o fresco do Piteno propôs ou disse, que o fotografo nunca apareceu com as fotos e quando eu o reencontrei, ele disse que havia vendido pra Piteno, pois havia ficado com pena.

Mais um plano infalível que foi prejudicado pela ganância humana.

Friday, February 22, 2013

O cacique epilético

O mesmo senhor Luis Cláudio, outro dia, se encontrava na Vila Folia, em Parnamirim, sem carona pra voltar pra sua toca, que na época era no edifício Vila Romana. Por acaso, se encontra com o nosso amigo Alexandre Santiago, vulgo Tapuru, que se encaminhava pro estacionamento.

Consegue a carona com o Tapura e tudo vai bem até que chegam no sinal que existia na Salgado Filho, em frente ao Machadão. Ao pararem no sinal vermelho, o cacique identificou um ônibus, lotado de turistas.

Desce do carro calmamente, pro espanto de Tapuru, e vai pra frente do ônibus, onde se joga no chão e começa a simular um ataque de epilepsia. Tapuru começou a entrar em desespero, sem saber o que fazer pra ajudar o rapaz, que se estrebuchava, fazia grunhidos, e se arranhava todo no chão.

Como ele estava na frente do ônibus, o motorista não podia sair e desceu pra ajudar o pobre cidadão epilético. Logo em seguida, desce os passageiros da frente e o cacique continuava a gritar e se contorcer. Com o ônibus quase todo na rua, preocupados e ligando pra conseguirem ajuda, o cacique observa quando o sinal estava prestes e abrir e faz sua presepada final.

Levanta-se calmamente, como se nada tivesse acontecido, e diz:

- Vamos embora, Tapuru, deixa essa cambada de besta ai.

Não é preciso nem dizer que saíram dali às pressas para não serem mortos à cacete.

Thursday, February 21, 2013

O cacique despido

Após uma pelada na casa do nosso amigo Denis Zambon, na Praia do Meio, todos se dirigiam pros bairros mais centrais, como Morro Branco e Lagoa Nova, pela avenida Salgado Filho.

Acontece que em frente ao estádio de futebol Juvenal Lamartine, tinha uma grande aglomeração de pessoas, devido a um show da apresentadora infantil Xuxa Meneghel.

O senhor Luis Cláudio, mais conhecido como o Cacique, resolve aprontar mais uma das suas. Como ele mesmo diz, tirou todas as roupas e ficou completamente nu, sem nem um chiclete na boca.

Desceu da canoa (Chevette que possuía na época) e foi desfilar por entre mães, crianças, pais revoltados e vendedores que por ali estavam. Quando os gritos de protestos começaram a ficar fortes demais, o Cacique resolveu se refugiar dentro da sua canoa e vestir-se.

Qual não foi sua surpresa ao constatar que o companheiro que estava com ele na canoa havia trancado as porta do carro e se divertia com a aflição do cacique nu, agora com as mãos escondendo “as partes” e batendo no vidro, começando a ficar aflito, pois a turba agora se aproximava do mesmo.

Num ato desesperado, tentou entrar no buggy de Marcio Cachaça, pra se sentar e se esconder, pois nessa hora ele não achava mais graça da impensada brincadeira. Outra vez, os viajantes do buggy negaram a sua entrada, e a massa já dava sinais claros de irritação, empurrando o cacique e exigindo explicações.

O amigo do canoa. Vendo que o cacique poderia ser linchado, abre o carro e deixa o mesmo entrar. Foi o tempo certo dele vestir a bermuda, conseguir sair dali e ser parado por uma viatura da policia à poucos metros do incidente.

Por sua sorte, a policia não foi muito rígida e em troca de um dinheiro pra cervejinha liberou o meliante, que prometeu a si mesmo nunca mais repetir tal façanha, ainda mais quando tiver acompanhado de tão solidários amigos.